RETROSPECTIVA: 2012 NO CINEMA (parte III)

A retrospectiva chega à sua terceira parte com mais exemplares do ano passado, que foram lançados no circuito comercial brasileiro com atraso ofensivo. Entre seleções oficiais de festivais mundo afora com a assinatura de cineastas veteranos e títulos menos incensados, há vários outros bons filmes nessa leva de idas ao escurinho do cinema.

21. Jovens adultos (Young adult, 2011), de Jason Reitman

A premissa do longa denuncia levemente os nomes envolvidos em seus bastidores. Trata-se de uma nova parceria entre Jason Reitman e Diablo Cody, a dupla vitoriosa de Juno (idem, 2007), que também tinha relação com o ambiente escolar, embora este tivesse relação mais direta com o assunto. O reencontro do cineasta com a roteirista possibilitou a concepção de mais um filme pontuado por tiradas de humor negro e estrelado por uma protagonista cínica e muitas vezes desbocada, que, ainda assim, consegue estabelecer algum tipo de empatia com o público.

http://impressoesdeumcinefilo.blogspot.com.br/2012/04/jovens-adultos-o-concavo-e-o-convexo-do.html

Nota: 8.0

22. As neves do Kilimanjaro (Les neiges du Kilimanjaro, 2011), de Robert Guédiguian

Inspirado no poema Os pobres, de Victor Hugo, Guédiguian faz apologia à bondade irrestrita nesta crônica contemporânea sobre um casal desafiado a perdoar. Ele mantém sua fidelidade a um elenco que o acompanha há dezenas de filmes, especialmente Ariane Ascaride, ótima na pele de uma zelosa esposa e mãe que ainda acredita no ser humano. Reducionismos são evitados a todo custo, e cabe ao público o julgamento das atitudes que ela e os demais personagens tomam ao longo da narrativa.


Nota: 8.5

23. Sete dias com Marilyn (My week with Marilyn, 2011), de Simon Curtis

A construção narrativa de Sete dias com Marilyn é um tanto previsível, diga-se de passagem, o que se justifica, em parte pelo seu argumento. Sabemos que o sonho, em algum momento, será dissolvido. A proposta trazida à tona por Curtis é examinar de perto o fascínio que a diva exercia sobre Colin, e o quanto o olhar do então rapaz está comprometido pelo indiscutível sex appeal da estrela, cuja porção atriz era das mais instintivas e admiráveis, conforme o próprio Laurence Olivier afirma depois de colocar os olhos em seu trabalho no filme em que contracenaram e ele a dirigu.



Nota: 8.0

24. Minha felicidade (My joy, 2010), de Sergei Lonitza

É preciso paciência de Jó para suportar as mais de duas horas de duração do percurso extremamente arrastado e confuso deste filme sobre as fraturas emocionais trazidas por uma guerra. Inicialmente apresentando uma narrativa ortodoxa, o diretor a vai abandonando e deixando o público sem leme, o que, por si só, não é de todo ruim. O problema é a sensação incômoda de não vislumbrar uma organicidade nessa escolha, bem como o distanciamento que sua direção fria imprime à história.


Nota: 5.0

25. O exótico hotel Marigold (The best exotic Marigold hotel, 2011), de John Madden

O charme deste feel good movie está no seu elenco de veteranos comandado por uma Judi Dench adorável e jovial. Dispostos a aproveitar intensamente os dias de hospedagem em um hotel meio capenga na Índia, alguns idosos vivem situações ora engraçadas ora comoventes, com várias pitadas da gramática hollywoodiana. Mesmo tendo sido lançado há mais de seis meses, o filme ainda abocanhou algumas indicações ao Globo de Ouro, a ser entregue em janeiro próximo.


Nota: 7.0

26. Deus da carnificina (Carnage, 2011), de Roman Polanski

Diante de uma obra tão mordaz e pertinente aos nossos dias, é de se estranhar a mornidão com que foi recebida no Festival de Veneza de 2011, de onde saiu com o singelo Pequeno Leão de Ouro. Cada ator entrega um desempenho formidável, levando a crer que foi a escolha perfeita para o papel que representou. E chega a surgir a dúvida: até onde não há um pouco dos próprios intérpretes ali? Até porque eles são parte da engrenagem social, tanto quanto o público que lhes serve de testemunha, ora gargalhante, ora perplexo.

http://impressoesdeumcinefilo.blogspot.com.br/2012/06/deus-da-carnificina-e-o-sarcasmo-diante.html


Nota: 9.0

27. Um verão escaldante (Un été brûlant, 2011), de Philippe Garrel

Cada vez mais Frédéric e Angèle são sul e norte, pontos cardeais incompatíveis simultaneamente, impossíveis de sincronizar. De modo prosaico, o cineasta extrai beleza dessa dor e questiona: o fim do amor é o fim do mundo? A maioria há de concordar que não. Seja como for, o clamor pungente de Frédéric o leva às últimas consequências e encerra o filme como mais um exemplar das pontuais reflexões de um diretor sobre a agudeza dos sentimentos.

 Nota: 8.5

28. Febre do rato (idem, 2012), de Claudio Assis

Assis continua fiel à sua gramática pútrida e oferece algumas das cenas mais repelentes vistas no cinema este ano. Em um preto e branco supostamente atenuante das mazelas de personagens degradados, o diretor se propõe a poetizar sobre a crueza e a aparente intenção conduz a um resultado completamente oposto. Louve-se apenas a coragem dos intérpretes, quase todos despojados de pudores em delírios e frêmitos.


Nota: 4.0

29. Para Roma, com amor (To Rome with love, 2012), de Woody Allen

O clima do longa é o de um itinerário bem-humorado por pequenos e grandes percalços que a vida pode apresentar sob o ângulo de um diretor que já foi definido pela crítica como um cronista genial da vida sem rumo. Allen flagra paixões, desencontros, medos e neuroses como ninguém, e Roma, antes de mais nada, serve a comprovar que, como qualquer outro lugar do mundo, a instabilidade humana reina sobre tudo o que se faz. Cada um de nós sabe bem pouco sobre si mesmo e o outro, e esse alto grau de incerteza proporciona toda sorte de surpresa nos relacionamentos interpessoais, que podem ser a junção da sua e da minha neurose, geradora de uma histeria dúplice. 


Nota: 8.5

30. Bem amadas (Les bien aimés, 2011), de Christophe Honoré

Acaba por se revelar um filme de intenções obscuras, cuja história, apesar de causar certo interesse, jamais chega a arrebatar, como se deseja quando se entra em contato com qualquer produção cinematográfica. Esse arrebatamento pode vir em forma de reflexão, entretenimento, comoção... Sob a forma de alguma sensação, enfim. O ar depreciativo que envolve todos (sim, todos) os personagens também incomoda bastante, e quase torna o filme um primo de segundo grau do desastroso Amores imaginários (Les amours imaginaires, 2010). No fim das contas, sem um eixo claro em que se basear, Honoré fez de seu trabalho recente uma roleta de tiques e manias. 

http://impressoesdeumcinefilo.blogspot.com.br/2012/08/caprichos-do-coracao-registrado-em-bem.html



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