RETROSPECTIVA: 2012 NO CINEMA (parte II)

A segunda parte da retrospectiva de filmes vistos no cinema traz muito mais acertos do que erros. As produções ainda são de 2011, um dos anos mais profícuos para a Sétima Arte. Confira a seguir mais dez títulos:

11. A Dama de Ferro (The Iron Lady, 2011), de Phylida Lloyd

Se não fosse Meryl Streep, devidamente oscarizada pela terceira vez depois de quase três décadas de perdas consecutivas, A Dama de Ferro não teria metade da dignidade que alcançou. A atriz é um monstro em cena, transitando pelas fases jovem e senil de Margaret Tatcher, controversa figura pública do governo britânico. Com uma montagem deplorável, o longa é daquelas cinebiografias que não prestam serviço ou esclarecimento algum sobre o biografado.

Nota: 4.0

12. A invenção de Hugo Cabret (Hugo, 2011), de Martin Scorsese

É uma apaixonada carta de amor ao próprio cinema, uma espécie de balanço geral sobre o ofício que Scorsese decidiu abraçar ainda na década de 60, quando dirigiu seus primeiros filmes, ainda curta-metragens. E, ao olhar com carinho e ternura para sua grande paixão, escolhe uma abordagem de tintas mágicas e encantadoras. No fundo, não há grande originalidade no filme, mas o diretor é capaz de contar sua história habilmente, tornando os leves lugares-comuns pouco prejudiciais ao conjunto da obra, mesmo porque não são aqueles capazes de enervar o espectador.

 Nota: 8.0

13. Tão forte e tão perto (Extremely loud and incredibly close, 2011), de Stephen Daldry

Parece que Stephen Daldry tem guardado consigo o segredo para agradar em cheio à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. O diretor sempre consegue emplacar uma indicação ao Oscar de melhor filme com suas produções. Com Tão forte e tão perto (Extremely loud and incredibly close, 2011), seu quarto filme, não foi diferente. A adaptação para o cinema do livro homônimo (no original) de Jonathan Safran Foer abocanhou uma indicação na categoria e se tornou a surpresa entre os outros eleitos. Um exame atento, porém, permite notar que não se trata de um dos exageros dos membros da Academia. Há que se destacar, ainda, a nobre presença de Max Von Sydow, brilhante sem dizer uma palavra.

http://impressoesdeumcinefilo.blogspot.com.br/2012/03/procurando-pela-verdade-em-tao-forte-e.html

Nota: 8.0

14. Billi Pig (idem, 2012), de José Henrique Belmonte

Constrangedor é pouco para qualificar essa produção, a primeira nacional que conferi no cinema este ano. Belmonte filmou um roteiro coalhado de referências a um humor pastelão da pior espécie, que coloca o ótimo Selton Mello e Grazielle Massafera em papéis de dar vergonha alheia. O porco do título deixa tudo ainda pior e o acender das luzes que marca o fim da sessão chega como um esperado alívio. Se a intenção era ser engraçado, passou muito longe.

Nota: 4.0 

15. Drive (idem, 2011), de Nicholas Winding Refn

Um dos grandes acertos do filme do cineasta dinamarquês é sua eficiência em apresentar violência e sentimento como bifurcações de uma mesma estrada, cujas escolhas são feitas o tempo todo, e muitas delas podem ser irreversíveis, como prova o filme. Gosling oferece, na pele do personagem, uma composição minimalista, centrada em movimentos calculados até o limite da verossimilhança, conseguindo despertar algum tipo de identificação com a trajetória errática do motorista. Com esse trabalho, ele prova novamente o quanto é bom ator, e o quanto é digno de figurar em qualquer lista dos melhores de sua geração, especialmente pelos seus papéis mais recentes.

http://impressoesdeumcinefilo.blogspot.com.br/2012/03/drive-o-poder-do-silencio-aliado-ao.html


 Nota: 9.5

16. O porto (Le Havre, 2011), de Aki Kaurismäki

É eminentemente uma charge audiovisual, apostando em personagens que apresentam suas pequenas mazelas e são instrumentos de apresentação da crença em valores basais para os seres humanos que andam soterrados por preocupações desse mundo. Kaurismäki mescla ironia e denotação com diligência, e oferece um filme simples e emocionante, com a sua habitual economia narrativa e sua direção de atores minimalista, uma herança mais do que comentada de Robert Bresson, que concebia seus intérpretes como vetores de uma história muito maior que estava a ser contada.

http://impressoesdeumcinefilo.blogspot.com.br/2012/03/o-porto-uma-adoravel-fabula-dotada-de.html

 Nota: 9.0

17. Shame (idem, 2011), de Steven McQueen

Poucos filmes recentes foram tão longe quanto Shame. Sua capacidade de dialogar com a plateia é ampla. Não é preciso ser um viciado em sexo para entender as agruras por que Brandon passa. McQueen dispunha de uma série de possibilidades de canalização da incompletude para abordar, e escolheu a via do sexo muito provavelmente por que ela desperta maior comoção do público em geral. E, com isso, dimensionou o filme para a noção de um petardo dramático, cuja intensidade é muito próxima do real. Em suas tentativas frustradas de encontrar alívio, Brandon se angustia e é angustiado.

http://impressoesdeumcinefilo.blogspot.com.br/2012/04/shame-e-exposicao-de-uma-profunda.html


 Nota: 10.0

18. Habemus papam (idem, 2011), de Nanni Moretti

Ao longo de sua duração, Habemus papam trafega na linha tênue entre o drama e a comédia, e essa oscilação lhe é benéfica. Sutilmente, ele atira para muitos lados, mantendo-se, todavia, dentro dos limites da polidez, o que pode causar a impressão de que seja apenas um filme leve e despretensioso, quando, na verdade, há todo um discurso ideológico que lhe serve de base, e que pode passar despercebido para os mais desatentos. Para além de qualquer defesa de ponto de vista, entretanto, o diretor está muito mais interessado em examinar os homens sob os mantos, especialmente o protagonista, consumido pela aflição de não se sentir à altura do cargo para o qual foi designado.

http://impressoesdeumcinefilo.blogspot.com.br/2012/05/habemus-papam-fechadura-aberta-para-o.html

 Nota: 8.0

19. Caminho para o nada (Road to nowhere, 2010), de Monte Hellman

Depois de mais de uma década, Hellman voltou a direção com um projeto intrincado de filme dentro do filme que arrasta o espectador para um complexo jogo interpretativo, que dilui ao máximo as fronteiras entre verdade e encenação. O realizador suga seu público para uma trama de entrelinhas e situações em aberto, que exigem a sua capacidade inferencial. Nebulosidade e obsessão caminham lado a lado na estrada metalinguística deste conto sobre a mania de querer.

Nota: 8.0

20. Pina (idem, 2011), de Wim Wenders

O documentário sobre a coreógrafa alemã Pina Bausch não poderia estar em melhores mãos. Conduzido por seu conterrâneo Wim Wenders, o filme tem como uma de suas marcas o fato de ser o primeiro do circuito "de arte" concebido no formato 3D, que exalta as danças inovadoras e de alta tensão dramática pelas quais ela se tornou famigerada. O detalhe dos depoimentos falados em off na língua materna dos bailarinos e outros companheiros de trabalho da artista se torna outro diferencial da obra, que aciona as emoções de seu público através do constante movimento nos mais variados espaços.


Nota: 8.0

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