BALANÇO MENSAL - NOVEMBRO

O penúltimo mês do ano foi o mais diversificado em termos de notas. Surgiram dois filmes excelentes, considerados clássicos em suas respectivas décadas, que fizeram por onde receber um belo 10. Casablanca, de Michael Curtiz, valeu a pena em cada minuto, trazendo uma condução emocionante à história de dois apaixonados em desespero discreto. A outra nota máxima foi para Um sonho de liberdade, maravilhosa estreia de Frank Darabont na direção de longas-metragens e um filme incrível e memorável sobre a importância dos laços de amizade e as prisões literais e metafóricas que podemos enfrentar.

Nas posições mais baixas da escala, apareceram vários filmes dignos de comentários depreciativos. Empatando com nota 3, ficaram Um castelo na Itália, histericamente dirigido por Valeria Bruni-Tedeschi, e Tatuagem, experiência de péssimo gosto e humor duvidoso assinada por Hilton Lacerda, que alguns chegaram a apontar como um dos melhores brasileiros do ano. Pior do que esses dois, contudo, somente o meu primeiro Edward Wood Jr.: Glen ou Glenda?, que faz jus à fama de pior do mundo que o diretor conquistou ainda em vida, e o horroroso Spring breakers - Garotas perigosas, de Harmoy Korine, que encerrou pessimamente um mês eclético no bom e no mau sentido. A seguir, a relação completa dos 35 filmes vistos em novembro:

LONGAS:

1. Quando papai saiu em viagem de negócios (1985) -  Ganha o espectador na singeleza e afetividade de várias passagens, vistas ou não sob a ótica do menino. Ações e eventos corriqueiros adquirem novo significado durante e depois de uma guerra. 8.0 
Alabama Monroe (2012)

2. Alabama Monroe (2012) - A discussão sobre as diferentes convicções dos protagonistas demora a vir realmente à tona e se restringe a sequências pontuais. Há que se elogiar o desempenho dos intérpretes, ótimas escolhas do diretor. 7.0

3. Aconteceu naquela noite (1934) - Fonte de inspiração de uma penca de comédias românticas, reserva situações hilárias, como o gênero exige: o primeiro encontro do casal no ônibus e as tentativas de conseguir carona à beira da estrada são os melhores momentos. 7.5

4. Cidadão Kane (1941) - Um estudo sobre a megalomania e os seus vários efeitos colaterais realizado com uma estrutura narrativa irrequieta. A figura passional de Kane impregna a memória. 8.5

5. O verão da minha vida (2013) - Aposta na identificação com o garoto deslocado e sua amizade com um sujeito carismático para revirar a vida. Nada de original na premissa, mas um agradável filme para a tarde. 7.0

6. Quem tem medo de Virginia Woolf? (1966) - Diálogos e interpretações assombrosas: eis os grandes méritos dessa vigorosa estreia de Nichols como cineasta. O casal multipolar encarnado pelos titãs Burton e Taylor é assustadoramente verossímil. 8.5

7. De tanto bater, meu coração parou (2005) - Audiard oscila em suas escolhas e constrói uma narrativa indecisa entre a violência e o drama, que podem andar juntos, mas requerem certo equilíbrio. Perto do fim, contudo, gera uma apreensão que vale mais que todo o percurso até ali. 6.0 
Tubarão (1975)

8. Tubarão (1975) - Descontada a certa precariedade de efeitos e recursos da época, é um suspense dos bons, que consegue despertar apreensão e uma torcida verdadeira pelos corajosos homens ao mar. 8.0

9. O pântano (2001) - Sudorese cinematográfica. 4.5

10. Um castelo na Itália (2013) - Um desperdício de tempo: não funciona como drama nem como comédia. Tedeschi incomoda com sua atuação histérica e o interesse pelos personagens some com menos de meia hora de filme. 3.0

11. Casablanca (1942) - A tragédia dos amantes desventurados em uma condução impecável. Dos maiores merecedores do título de clássico. 10.0

12. O mordomo da Casa Branca (2013) - Abusa do tom panfletário e chafurda nas concessões à pieguice. Um desfile de atores de grife que mal consegue tempo para se estabelecer em tela. 5.0

13. O conselheiro do crime (2013) - Ao trazer à tela algumas derivações nefastas da ganância, Scott punge e dilacera, inclusive literalmente. 7.0

14. Um sonho de liberdade (1994) - Amizade, lealdade, esperança, alegria, força e perseverança: boa parte dos ingredientes (in)visíveis e essenciais à vida se mostram com toda a força na longa jornada de dois aspirantes ao recomeço. 10.0

15. Hairspray - Em busca da fama (2007) - As canções são adoráveis, sobretudo a primeira e a que faz Edna sair do ostracismo doméstico. Aliás, a personagem é um dos grandes de acertos do filme e de Travolta, super à vontade e roubando as cenas que, teoricamente, seriam de Blonsky. 7.0 

Amigos inseparáveis (2012)

16. Amigos inseparáveis (2012) - É bem divertido acompanhar esse trio de simpáticos veteranos que metem os pés pelas mãos e têm boas sacadas para os momentos inusitados. Um bom filme de elenco, mas é uma pena termos Arkin em tão poucas cenas. 7.0 

17. Feitiço do tempo (1991) - O tempo aprisionador: refém de uma série de repetições. Uma série de repetições: é o tempo aprisionador. O tempo e uma série de repetições: aprisionador. 7.0

18. Capitão Phillips (2013) - A amplitude do mar aberto é paradoxalmente claustrofóbica e causa uma apreensão que se estende por mais de duas horas somada a uma fotografia documental. Hanks é um grande acerto com sua interpretação milimétrica. 9.0

19. Cine Holliúdy (2013) - A paixão pelo Cinema que fala mais alto do que qualquer limitação e impulsiona a levar as histórias para toda a gente. Hilário do começo ao fim! 8.0 
Trem noturno para Lisboa (2013)

20. Trem noturno para Lisboa (2013) - O academicismo - em seu mau sentido - é excessivo e inscreve o filme na vasta galeria de produções corretas. A força vem dos seus atores, sobretudo Irons, convincente na pele de um homem assombrado pela escolha da apatia por toda uma vida. 7.0

21. Segredos e mentiras (1996) - Leigh sabe adentrar o cotidiano de uma família como tantas outras, dando espaço a diálogos e reflexões pausadas e se valendo da força naturalista dos seus intérpretes. A Academia errou feio com Blethyn. 7.5

22. Entre segredos e mentiras (2010) - Sua condução é a cabível para um suspense: mistério, sobressalto e uma dose de crime. Gosling vive mais um personagem de aura dissimulada e rompantes violentos. 7.0

23. Alvo duplo (2012) - A porrada e as balas comem, meu irmão! E isso é tudo. 5.0 
O estranho caso de Angélica (2010)

24. O estranho caso de Angélica (2010) - Como a fotografia, a morte é a imagem estática, o instante congelado. 7.0

25. Tatuagem (2013) - Se a fotografia artesanal encanta os olhos, o resto é criança pequena rindo quando fala "palavras feias". 3.0

26. A janela (2008) - Seu protagonista convida aos passos vagarosos, à contemplação e ao olhar distante que vislumbra presente e passado a um só tempo. Singelo como as pequenas lembranças acumuladas. 8.0

27. Elena (2012) - Contaminado pelo tom lânguido da narração em off, é um insistente mergulho na morbidez e um exemplar de Cinema pessoal demais. Não é fácil passar da condição de espectador da história de uma mulher que precisava ser salva de si mesma. 6.0

28. As acácias (2011) - Inicialmente desconfortável como é para um introvertido estar na presença de alguém novo. Aos poucos, diálogos pontuais vão quebrando o gelo e criando um ambiente onde o carinho se firma e o desejo da companhia só aumenta. 8.0 
E se vivêssemos todos juntos? (2011)

29. E se vivêssemos todos juntos? (2011) - Um brinde à amizade de longa data. Tim-tim! 7.5

30. A marca da maldade (1958) - O velho confronto entre a ausência e a presença de moral rende passagens marcantes, porém o ritmo irregular da direção de Welles dilui o impacto dessa obra atravessada por nuances. 7.0

31. À procura de Eric (2009) - Um herói cotidiano, sem qualquer habilidade especial, e uma comprovação inusitada de que a união faz a força. Mais uma bela dobradinha entre Laverty no roteiro e Loach na direção. 8.0

32. Jovem e bela (2013) - Longe de qualquer floreio e sempre aberto a inferências, Ozon contempla sua protagonista entregue à carnalidade. 8.0

33. Face a face (1976) - Mergulho nas entranhas, viagem à psique humana com todos os desdobramentos caóticos trazidos por essa iniciativa. Ullmann hipnotiza com a jornada de loucura e assombro de sua Jenny. 8.5
Face a face (1976)

34. Glen ou Glenda? (1953) - Não é piada! Estamos diante de um filme horroroso, tanto que o próprio Wood talvez nem imaginasse. A canastrice reina, os diálogos são terríveis e há um punhado de cenas desnecessárias, pura encheção de linguiça. 2.0

35. Spring breakers - Garotas perigosas (2012) - Mais um exemplar do seu tempo: uma juventude acéfala, escrava do prazer e capaz de todas as estupidezes inconsequentes, tornando cada minuto de narrativa intragável. 2.5

CURTAS: 

Rua das tulipas (2008) - Aquela velha chama de sonho que insiste em não apagar e mantém o olhar além. 9.0

Every child (1979) - Que história simpática! A modéstia do traço é mero detalhe em seis minutos de comentário irônico sobre a falta de tempo para as pequenas (e importantes) coisas.

Férias no Havaí (2011) - Como todos os brinquedos são adoráveis, é gostoso assistir a eles por mais alguns minutos além da trilogia original. Onde podemos comprá-los? 7.0

Sadness (2010) - Exercitando-se em um gênero pouco explorado no Cinema brasileiro recente, Schuck realiza um filme cuja tensão está na simplicidade. 7.0

MELHOR FILME: Um sonho de liberdade / Casablanca
PIOR FILME: Glen ou Glenda?
MELHOR DIRETOR: Ingmar Bergman, por Face a face
MELHOR ATRIZ: Liv Ullmann, por Face a face
MELHOR ATOR: Tim Robbins, por Um sonho de liberdade / Tom Hanks, por Capitão Phillips
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Cameron Diaz, por O conselheiro do crime
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Morgan Freeman, por Um sonho de liberdade / John Travolta, por Hairspray - Em busca da fama 
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Ingmar Bergman, por Face a face
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Frank Darabont, por Um sonho de liberdade
MELHOR TRILHA SONORA: Phillipe Rombi, por Jovem e bela
MELHOR FOTOGRAFIA: Barry Ackroyd, por Capitão Phillips
MELHOR CENA: O reencontro de Andy e Red em Um sonho de liberdade
MELHOR FINAL: Capitão Phillips

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