BALANÇO MENSAL - DEZEMBRO

Para encerrar de vez os trabalhos de 2018, apresento meu último balanço daquele que já virou ano passado, naquela estrutura já conhecida. Entre as curiosidades desse dezembro está o fato de que um dos melhores filmes foi logo o primeiro. Um outro melhor, mas não se pode deixar de destacar o retorno triunfal de Spike Lee, que assinou um dos grandes títulos dessa reta final e que, a essa altura, saiu de mãos abanando do Globo de Ouro, mas aqui levou a Medalha de Prata e tem minha torcida para o Oscar (filme e direção seria lindo). Outros diretores que compareceram com seus trabalhos, nem todos dignos de total aprovação e entusiasmo: Kathryn Bigelow, Steve McQueen, Tsai Ming-liang, Chan-wook Park, Wolfgang Petersen, Gus Van Sant e Lars Von Trier. Este último, aliás, conquistou para seu novo longa a vaga de pior filme do mês. Vamos à relação completa de textos, nomes e notas e, agora sim, começa 2019!

PÓDIO

MEDALHA DE OURO

A rota selvagem (Andrew Haigh, 2018)

Mais uma vez, Haigh comparece no topo do pódio, a exemplo do que havia acontecido com 45 anos (45 years, 2015). O realizador, atualmente com 45 (!) anos, conta uma história simples, por vezes com passagens triviais mas, nem por isso, menos emocionante e capaz de despertar empatia por seu protagonista, um garoto cuja trajetória se encontra com a de um cavalo sem talento para a corrida. A amizade entre os dois surge de maneira natural, e ele vê no animal uma fonte de carinho e um companheiro, sobretudo quando lhe sobrevém uma tragédia familiar que causa um nó na garganta. Assim, sem pesar a mão no drama ou incorrer na trilha com instrumentos de cordas - um recurso que é mais a cara de Steven Spielberg em seu inferior Cavalo de guerra (War horse, 2011), A rota selvagem é um oásis de delicadeza e fluidez em meio a filmes sem alma e distantes.

MEDALHA DE PRATA

Infiltrado na Klan (Spike Lee, 2018)

Lee retornou botando para quebrar. Desde O plano perfeito (Inside man, 2006), eu não via um filme do cara, e nesse interregno ele chegou a entregar uma refilmagem de Old boy... O grande retorno do cineasta é um enredo tirado da realidade sobre um policial negro que conseguiu burlar a Ku Klux Klan, maior organização racista estadunidense, mantendo contato com seu líder por telefone e, para os encontros ao vivo, enviava um colega branco. O protagonista é defendido com alta competência por John David Washington - filho de ninguém menos que Denzel Washington -, cujo entrosamento com Adam Driver - que vem colecionando bons papéis com ótimos diretores - é notório em cena. Sem resvalar no discurso panfletário (exceto por uma personagem que, nos dias de hoje, seria uma militante problematizadora de Facebook) e provocando muita reflexão sobre uma temática ainda a ser discutida, Lee insere algumas pitadas de sarcasmo e lava a alma de todos os inconformados com uma corrente de pensamento das mais abjetas.

MEDALHA DE BRONZE

Phoenix (Christian Petzold, 2014)

Causa uma certa estranheza a condução adotada por Petzold para a narrativa de Phoenix, que marca sua segunda parceria consecutiva com a fantástica Nina Hoss. As atitudes de sua personagem intrigam e causam agonia, levando a uma vontade de interferir em sua vida e impedi-la de continuar com o rumo em que segue. Desfigurada após um período em um campo de concentração, ela vai se refazendo aos poucos e procura pelo marido, sobre quem tem certeza de ter sido o responsável por denunciá-la à polícia nazista. É a partir do reencontro com este homem, fato de que ele não se dá conta, que o drama engrena de vez e vai deixando sua marca. Hoss é daquelas atrizes que atuam com os olhos, de uma expressividade comparável à de Liv Ullmann. A sequência final, em que entoa uma canção resumitiva do percurso de Nelly, é simplesmente de arrepiar.

INÉDITOS

378. Infiltrado na Klan (Spike Lee, 2018) -> 8.0

379. Lendas da vida (Robert Redford, 2000) -> 5.0

380. Perfume de mulher (Martin Brest, 1992) -> 6.0

381. A soma de todos os medos (Phil Alden Robinson, 2002) -> 7.0

382. Guerra ao terror (Kathryn Bigelow, 2008) -> 8.0

383. As viúvas (Steve McQueen, 2018) -> 7.5

384. Basquiat - Traços de uma vida (Julian Schnabel, 1996) -> 7.0

385. Refém (Florent-Emilio Siri, 2005) -> 6.0

386. O amor acontece (Brandon Camp, 2009) -> 6.0

387. Esperança e glória (John Boorman, 1987) -> 7.0

388. A rota selvagem (Andrew Haigh, 2018) -> 9.0
389. Zorba, o grego (Mihalis Kakogiannis, 1964) -> 5.5
390. À procura (Atom Egoyan, 2014) -> 6.0

391. Phoenix (Christian Petzold, 2014) -> 8.0
392. Jornada ao Oeste (Tsai Ming-liang, 2014) -> 7.0
393. À beira-mar (Angelina Jolie, 2015) -> 6.0 
394. A criada (Chan-wook Park, 2016) -> 6.0
395. Aquaman (James Wan, 2018) -> 6.0
396. Museu (Alonso Ruizpalacios, 2018) -> 7.0

397. Rasga coração (Jorge Furtado, 2018) -> 6.5

398. O barco - Inferno no mar (Wolfgang Petersen, 1981) -> 8.0

399. Gerry (Gus Van Sant, 2002) -> 4.0

400. Idas e vindas do amor (Garry Marshall, 2010) -> 3.0

401. Desaparecido, um grande mistério (Costa-Gavras, 1982) -> 7.5

402. Guerra fria (Pawel Pavlikowski, 2018) -> 6.0

403. Roma (Alfonso Cuarón, 2018) -> 8.0
404. A casa que Jack construiu (Lars Von Trier, 2018) -> 3.0
405. Beach rats (Eliza Hittman, 2017) -> 5.0f
406. A balada de Adam Henry (Richard Eyre, 2017) -> 7.0 
407. Johnny English (Peter Howitt, 2003) -> 7.0
408. Uma noite de 12 anos (Álvaro Brechner, 2018) -> 8.0
409. Noite de Ano Novo (Garry Marshall, 2011) -> 1.0

REVISTOS

Do outro lado (Fatih Akin, 2007) -> 8.0
Gangues de Nova York (Martin Scorsese, 2002) -> 8.0
A separação (Ashgar Farhadi, 2011) -> 9.0

MELHOR FILME: A rota selvagem
MELHOR DIRETOR: Spike Lee, por Infiltrado na Klan
MELHOR ATRIZ: Nina Hoss, por Phoenix / Yalitza Aparicio, por Roma
MELHOR ATOR: John David Washington, por Infiltrado na Klan
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Sissy Spacek, por Desaparecido, um grande mistério
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Adam Driver, por Infiltrado na Klan
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: A rota selvagem
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Infiltrado na Klan
MELHOR FOTOGRAFIA: A rota selvagem
MELHOR TRILHA SONORA: Infiltrado na Klan
MELHOR CENA: A explosão da bomba em Infiltrado na Klan
MELHOR FINAL: A rota selvagem