BALANÇO MENSAL - NOVEMBRO

Novembro é o mês do meu aniversário e, por isso, deveria sempre ser composto apenas de filmes sensacionais. Mas não é o que geralmente acontece. Em um mês de prevalência estadunidense e bem poucos diretores badalados, o saldo final é abaixo das expectativas, e os revistos acabaram superando a maioria dos inéditos em qualidade. Vale lembrar que só costumo rever filmes dos quais gostei, dando raras chances a obras que não me envolveram, apesar de já ter passado a gostar de alguns filmes que na primeira sessão não tinham funcionado comigo. Entre os nomes de cineastas desse mês que acho válido destacar estão Jean-Pierre Jeunet (dirigindo um filme improvável em sua carreira), John Carpenter, Fred Schepsi, Bryan Singer, Kiyoshi Kurosawa, Ingmar Bergman (de volta após um longo hiato de filmes inéditos) e os irmãos Ethan e Joel Coen em dose dupla: primeiro apenas como roteiristas e depois acumulando o cargo de diretores também.

MEDALHA DE OURO

Culpa (Gustav Möller, 2018)


Nem só de Lars Von Trier, Thomas Vinterberg e Susanne Bier é feito o cinema dinamarquês. O vencedor do pódio vem daquele país e traz uma história enxuta, direta e capaz de prender a atenção com pouquíssimos elementos cênicos ao nos apresentar um dia na vida de um policial atendendo ocorrências numa central telefônica. São muitos casos terríveis todos os dias, fazendo desta uma profissão para poucos, capaz de elevar o estresse a níveis alarmantes. Pois bem. Uma dessas ocorrências é o foco do diretor - também responsável pelo roteiro em parceria com Emil Nygaard Albertsen -, que deixa o público limitado a um único espaço o tempo todo, assim como o protagonista. A princípio se tratando de um caso de violência doméstica de marido contra esposa, a situação vai sendo apresentada somente pelas vozes dos envolvidos, e com o tempo descobrimos que nem tudo é exatamente o que parece. Sem firulas narrativas ou truques de câmera, Möller consegue entregar um ótimo suspense, deixando o fôlego suspenso em certas passagens e fazendo por merecer ter tido seu filme selecionado para concorrer a uma vaga entre os finalistas na categoria de filme estrangeiro do Oscar.

MEDALHA DE PRATA

Alguém me vigia (John Carpenter, 1978)



Num flerte delicioso com Hitchcock, o suspense de Carpenter lida com o voyeurismo assumindo contornos assustadores. Depois que se muda para um apartamento onde vai morar sozinha, uma mulher começa a receber mensagens de um estranho lhe informando que está de olho nela, o que lhe causa preocupação. Mas o que dizer à Polícia sem algo de mais concreto que propicie uma investigação? Com isso, ela precisa agir pelos próprios meios, e o roteiro, de uma simplicidade bem-vinda, acena com algumas passagens de respiração presa, como bem cabe ao gênero. Em vista de outras produções carpenterianas, Alguém me vigia nem é de suas mais bem engendradas, mas se mostra como um feijão com arroz bem temperadinho e sinaliza algumas de suas temáticas preferidas, que voltariam a comparecer em títulos posteriores. A reta final, em que tudo "se resolve" em poucos minutos, é uma saída acertada e coerente dentro de sua proposta.

MEDALHA DE BRONZE

O orgulho (Yvan Attal, 2017)



Os franceses carregam a pecha de serem arrogantes e um tanto impacientes na lida com turistas e estrangeiros de uma maneira geral, e são conscientes dessa visão negativa. Trabalhando com esse tópico, o realizador apresenta uma trama em que a palavra tem enorme peso e repercute para além do momento em que foi proferida. Um professor universitário cheio de preconceitos e claramente xenófobo dispara sua metralhadora de impropérios em uma aula inaugural e, com isso, desperta profunda antipatia e oposição em uma aluna imigrante e filha de muçulmanos. Seu discurso pode lhe custar um processo e, para evitá-lo, bem como outras consequências, ele precisa oferecer seus préstimos à garota, que terá de provar sua capacidade em uma espécie de concurso argumentativo. Sob o olhar europeu, Attal vai mostrando o nascimento de uma parceria sincera entre eles, que aos poucos deixam de lado a postura defensiva e percebem que, afinal, nem são tão diferentes assim.

INÉDITOS

346. Tudo por um furo (Adam McKay, 2013) -> 6.5
347. O orgulho (Yvan Attal, 2017) -> 7.5
348. O exterminador do futuro 3 - A rebelião das máquinas (Jonathan Mostow, 2003) -> 7.5
349. Alien: a ressurreição (Jean-Pierre Jeunet, 1997) -> 6.0
350. Mudança de hábito (Emile Ardolino, 1992) -> 7.0
351. Te amarei para sempre (Robert Schwentke, 2009) -> 5.5


352. Um golpe perfeito (Michael Hoffman, 2012) -> 4.0
353. Megatubarão (Jon Turtletaub, 2018) -> 7.0
354. Marty (Delbert Mann, 1955) -> 7.5
355. Conflito das águas (Iciar Bollaín, 2010) -> 6.5
356. O exterminador do futuro: a salvação (MCG, 2009) -> 5.0
357. Alguém me vigia (John Carpenter, 1978) -> 8.0
358. Seis graus de separação (Fred Schepsi, 1993) -> 6.0


359. Quicksilver - O prazer de ganhar (Thomas Michael Donnelly, 1986) -> 6.0
360. A casa caiu (Adam Shankman, 2003) -> 4.0
361. O quebra-cabeça (Marc Turtletaub, 2018) -> 7.0
362. Bohemian rhapsody (Bryan Singer, 2018) -> 7.0
363. O exterminador do futuro: gênesis (Alan Taylor, 2015) -> 5.0
364. Podres de ricos (John M. Chu, 2018) -> 6.5



365. A balada de Buster Scruggs (Ethan e Joel Coen, 2018) -> 5.0
366. A cura (Kyoshi Kurosawa, 1997) -> 7.5
367. Made in Italy (Luciano Ligabue, 2018) -> 6.0
368. A estranha vida de Timothy Green (Peter Hedges, 2012) -> 3.0
369. Apesar da noite (Philippe Grandieux, 2015) -> 3.0
370. Culpa (Gustav Möller, 2018)
371. Sanjuro (Akira Kurosawa, 1962) -> 7.0
372. O ovo da serpente (Ingmar Bergman, 1977) -> 7.0


373. Ponto cego (Carlos López Estrada, 2018) -> 8.0
374. Dr. Hollywood - Uma receita de amor (Michael Caton-Jones, 1991) -> 6.0
375. A família Flynn (Chris Weitz, 2012) -> 5.0
376. Agenda secreta (Ken Loach, 1990) -> 7.5
377. A vida é doce (Mike Leigh, 1990) -> 7.5

REVISTOS

Ferrugem e osso (Jacques Audiard, 2012) -> 8.5
Cisne negro (Darren Aronofsky, 2010) -> 8.0
Julie & Julia (Nora Ephron, 2009) -> 7.0
A vida marinha com Steve Zissou (Wes Anderson, 2004) -> 8.0

MELHOR FILME: Culpa
PIOR FILME: Apesar da noite
MELHOR DIRETOR: John Carpenter, por Alguém me vigia
MELHOR ATRIZ: Frances McDormand, por Agenda secreta
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Winona Ryder, por Alien - A ressurreição
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Culpa, por  Gustav Möller e Emil Nygaard Albertsen
MELHOR TRILHA SONORA: Alguém me vigia
MELHOR FOTOGRAFIA: A balada de Buster Scruggs
MELHOR CENA: A descoberta do ex-policial em Culpa
MELHOR FINAL: Culpa

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