RETROSPECTIVA 2014: MELHORES DIRETORES

Dando continuidade a série de lista de melhores do ano no Cinema, é hora de conhecer os realizadores que mais me agradaram ao longo de 2014. A seleção deste ano me pareceu um pouco menos difícil de fazer, porque bastava repetir a maioria dos escolhidos em melhor filme, alterando somente um ou outro nome e excluindo alguns, já que fecho meu top com 10 nomes - ou 11, se considerarmos que há uma dupla na quarta posição.

Talvez daqui a alguns meses (ou até semanas) essa lista não represente mais com fidelidade as minhas preferências, mas essa também é uma característica de toda lista de melhores: a sazonalidade. Dito isso, vamos ao ranking dos 10 melhores diretores de 2014 a partir do meu ponto de vista:

1. Richard Linklater, por Boyhood

Perseverante do começo ao fim, Linklater fez por merecer estar entre os melhores diretores pelo segundo ano consecutivo. Sua joia lapidar sobre a jornada de um garoto filmada anualmente por 12 anos é um monumento (a)temporal sobre crescer e mudar, verbos tão inevitáveis quanto necessários na vida de qualquer pessoa. 



2. Wes Anderson, por O grande hotel Budapeste

As iniciais WA têm dois donos no Cinema. Na ausência de Woody Allen, é Wes Anderson quem ganha um lugar especial entre meus favoritos na direção em 2014. Planos extravagantes e de obcecada simetria invadem as retinas expostas aos corredores do hotel do título, bem como dos espaços externos nevados que compõem o cenário da odisseia de um gerente de hotel e seu melhor amigo.



3. Jonathan Glazer, por Sob a pele

Se não foi exatamente o meu predileto entre os cineastas com filmes lançados em 2014, Glazer, certamente, merece o troféu ousadia do ano. Da concepção visual minimalista - o cenário totalmente negro onde a protagonista submerge suas presas - aos ângulos espiões da estadia de uma alienígena em solo terráqueo, não faltam razões para que seu trabalho seja devidamente contemplado.



4. Ethan e Joel Coen, por Inside Llewyn Davis

Cineastas do fracasso - não é exclusividade dos irmãos -, os Coen acertam na mosca outra vez ao investir no retrato de um cantor de música folk com o destino atravessado por figuras excêntricas. Na paleta de cores frias, reside uma vacância de afeto cujo preenchimento é sempre ensaiado, jamais efetivo, e a certeza de que uma das maiores habilidades de um realizador é fazer sempre o mesmo filme sem deixar de se reinventar.



5. J. C. Chandor, por Até o fim

Manter as rédeas de uma agoniante aventura marítima com apenas um personagem em cena que, ainda por cima, quase não abre a boca, é tarefa que exige destreza. Chandor passa no teste e entrega um dos mais formidáveis desempenhos na direção, sabendo dosar o egocentrismo típico do cargo e permitindo que Robert Redford tome o leme nas mãos. 



6.  Spike Jonze, por Ela

Acima de tudo, Ela é um filme de roteiro e atuações, mas não se pode deixar de observar o Jonze diretor em ação aqui. Driblar o detalhe (crucial) de que a comunicação entre Theodore e Samantha só pode acontecer pelo meio verbal, o que denota uma relação de presença na ausência, parece ter sido moleza para o estadunidense, cujo maior defeito é dirigir bissextamente.



7. Fernando Coimbra, por O lobo atrás da porta

Sangue novo no Cinema e também jovem na idade, Coimbra exibe a competência de quem conhece muito bem o chão onde pisa, fornecendo terreno fértil para Leandra Leal se destacar na versão cinematográfica do caso estarrecedor da Fera da Penha. Buscando ângulos pouco explorados do Rio de Janeiro com sua narrativa situada no subúrbio, ele brinca com as peças de um jogo de xadrez de contornos macabros.



8. Philippe Garrel, por O ciúme

Garrel pai criou um ambiente intimista e sucinto em seu último trabalho, mais um a competir pelo Leão de Ouro em Veneza, que o tem na mais alta conta. Outra vez elegendo o preto e branco para falar sobre as agonias do amor, ele também reflete sobre a condição do artista, cujo fazer está envolto em circunstâncias análogas às de um operário sob suas lentes.  



9. James Gray, por Era uma vez em nova York

Assim como são poucos os ruivos, são poucas as pessoas com o talento de James Gray. Ruivo e talentoso, ele firmou sua quarta parceria com Joaquin Phoenix para matizar sentimentos, que estão para além de época e língua. Reafirmando sua predileção por uma escala cromática cinérea de empapuçar os olhos, ele entrega uma ária de ecos viscontianos.



10. Ari Folman, por O congresso futurista

Alguns poderão dizer: "Mas como pode uma direção dessas ficar em décimo lugar?". É o mal das listas. Preferências que divergem por questão de milésimos parecem muito mais distantes porque somos "obrigados" a usar apenas números inteiros no top. A bem da verdade, esse radical exercício de estilo e provocação do realizador israelense está a anos-luz de muitos outros, reforçando o Cinema como espaço de experimentação e inquietude.


Comentários

Postagens mais visitadas