BALANÇO MENSAL - JULHO

Agosto já passou da metade, porém somente hoje foi possível entregar o balanço dos filmes vistos em julho, um mês de sessões reduzidas em quantidade, devido à presença da namorada, para quem direcionei o máximo da minha atenção.

Em virtude dessa atraso, serei ainda mais sucinto que o habitual, restringindo-me a destacar alguns nomes que me trouxeram ótimos momentos diante da tela, a saber: James Gray, cuja filmografia agora já vi integralmente, Sam Peckimnpah, a quem dei uma segunda chance e na qual se saiu bem melhor, além de mais um de Isao Takahata, Maurice Pialat, Eric Rohmer e Hong Sang-soo. Apresento o pódio logo abaixo, seguido pela relação completa dos títulos de julho e suas respectivas notas, além dos melhores nas categorias que julgo importantes, como meus três leitores já sabem.

MEDALHA DE OURO


Ninguém pode saber (Hirokazu Kore-eda, 2004)

De uma tristeza dilacerante, o longa de Kore-eda requer a companhia de um pacote de lenços. A jornada de quatro crianças deixadas inexplicavelmente pela mãe - nenhuma justificativa soa plausível - arrebenta o coração mesmo com a toada comedida que tipifica o cinema oriental. A julgar por este e por um dos trabalhos posteriores do realizador, Pais e filhos, sua especialidade é contemplar as dores do crescimento, bem como a formação e manutenção dos laços de família. Mas e quando não se acha o apoio e o apego esperado entre os seus? Apostando em uma rotação lenta e semi-silenciosa, essa questão parece seguir em aberto, como uma janela que dá para uma paisagem linda, mas a qual não se frui por estar demasiado triste por uma ausência insubstituível. Uma ausência na presença, o que talvez seja ainda pior.

MEDALHA DE PRATA


Viagem à Itália (Roberto Rossellini, 1954)

Associada aos romances mais idílicos, o país que já foi sede do Império Romano emoldura a crise de um casal que se perde e se acha em meio aos afazeres do marido. Muito se fala de Ingrid Bergman em Casablanca, e não é sem razão, mas não seria exagero dizer que seu maior desempenho da carreira esteja aqui. Conjugando beleza e densidade interpretativa, ela tem nas mãos uma personagem que é a força motriz de um enredo em que os pilares da vida a dois são desnudados, e que abriu caminho para outras obras sobre o tema de porte igualmente majestoso e de alto poder mimético. Só para citar dois exemplos de franco diálogo com a obra-prima de Rossellini, há Cenas de um casamento e a Trilogia dos Antes, em que o poder da palavra também é explorado sob a forma de um percurso sinuoso e acidentado, a sina de todas as relações amorosas baseadas na proposta de atravessar o tempo.

MEDALHA DE BRONZE



Nossa Sunhi (Hong Sang-soo, 2013)

A realidade em espelhos e fragmentos que se mesclam discretamente ao fazer cinematográfico. Tão discretamente que seus limites se borram. Em se tratando de Sang-soo, essa descrição é uma constante, e Nossa Sunhi não foge à sua gramática desconstrutivista, por assim dizer. A indecisão e a insatisfação caminham juntas na vida da jovem cujo nome o título toma emprestado e lhe antepõe o possessivo de primeira pessoa do plural (que bela aliteração de pp!). Ao longo de pouco mais de 1 hora, ela é atravessada por encontros com homens que, de alguma maneira, pavimentaram seu coração para que ele chegasse à configuração atual, mas explicar os próprios sentimentos continua sendo uma incógnita, fato que a própria Sunhi verbaliza em um dos diálogos que abundam nesse tríptico moderno.

LONGAS:

1. Segunda chance (Susanne Bier, 2014) -> 7.0
2. Terapia do sexo (Stuart Blumberg, 2012) -> 7.0
3. Parada em pleno curso (Andreas Dresen, 2010) -> 8.0
4. The battery (Jeremy Gardner, 2012) -> 7.0
5. O beijo no asfalto (Bruno Barreto, 1981) -> 7.5
6. Caminho sem volta (James Gray, 2000) -> 8.0


7. Sob o domínio do medo (Sam Peckinpah, 1971) -> 8.0
8. Poeira no vento (Hou Hsiao-hsien, 1987) -> 7.0
9. Anjos da lei 2 (Phil Lord e Christopher Miller, 2014) -> 6.0
10. Meus vizinhos, os Yamadas (Isao Takahata, 1999) -> 8.0
11. Paradise now (Hany Abu-Assad, 2005) -> 8.0
12. O show deve continuar (Bob Fosse, 1979) -> 6.5


13. Slow west (Jon Maclean, 2015) -> 5.0
14. A árvore, o prefeito e a mediateca (Eric Rohmer, 1993) -> 8.0
15. Nossa Sunhi (Hong Sang-soo, 2013) -> 8.0
16. Loulou (Maurice Pialat, 1980) -> 8.0
17. Paixões que alucinam (Samuel Fuller, 1963) -> 7.5
18. Viagem à Itália (Roberto Rossellini, 1954) -> 8.5
19. O homem de palha (Robin Hardy, 1973) -> 7.5


20. O fim da escuridão (Martin Campbell, 2010) -> 7.0
21. Corrente do mal (David Robert Mitchell, 2014) -> 4.0
22. Ninguém pode saber (Hirokazu Kore-eda, 2004) -> 8.5
23. Homem-formiga (Peyton Reed, 2015) -> 7.0
24. Os eternos desconhecidos (Mario Monicelli, 1958) -> 7.5
25. Pixels (Chris Columbus, 2015) -> 7.0

MELHOR FILME: Ninguém pode saber
PIOR FILME: Corrente do mal
MELHOR DIRETOR: Hong Sang-soo, por Nossa Sunhi
MELHOR ATRIZ: Ingrid Bergman, por Viagem à Itália
MELHOR ATOR: Joaquin Phoenix, por Caminho sem volta
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Lubna Azabal, por Paradise now
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Christopher Lee, por O homem de palha
MELHOR FOTOGRAFIA: Nossa Sunhi
MELHOR TRILHA SONORA: Caminho sem volta
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Nossa Sunhi
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: O beijo no asfalto
MELHOR CENA: O acerto de contas em Caminho sem volta
MELHOR FINAL: Ninguém pode saber

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