BALANÇO MENSAL - OUTUBRO

Com o encerramento de mais um mês, chega o momento de apresentar meu balanço de filmes vistos, acompanhados de notas e dos melhores em categorias que julgo fundamentais.

Os destaques positivos ficam por conta de Boyhood e Ariel respectivamente avaliados com 10 e 9.5. O primeiro é mais um estupendo atestado da capacidade de Richard Linklater de transformar o simples em extraordinário. Não é por acaso que o texano hoje é um dos meus diretores preferidos. O segundo, de um diretor que eu já listava entre meus favoritos, é um estudo curtinho sobre o conformismo e a resignação em uma Finlândia oitentista, como só Aki Kaurismäki sabe fazer.

Seguem abaixo os 36 longas e os 5 curtas que compuseram meu outubro cinéfilo:

LONGAS:

1. Goob (2014) - 7.0
Um tanto formulaico dentro do seu filão, mas com algumas opções corajosas e elipses que indicam a dificuldade do dizer típica da adolescência.

2. Entre os vivos (2014) - 7.0
Terror conciso e funcional no que é a maior obrigação do gênero: causar sustos. No mais, recorre a soluções óbvias e fecha a tampa com um final desagradavelmente anticlimático.

3. La sapienza (2014) - 8.0
Planos rigorosos, atuações limitadas ao mínimo de expressividade facial e longos diálogos. Ao contrário do que possa parecer, a reunião dessas características se traduz em um belo filme e permite refletir sobre a inquietude humana.

4. Stereo (2014) - 4.0
Começa promissor, mas descamba para uma série de reviravoltas cansativas, numa irritante tentativa de puxar o tapete do espectador o tempo todo. É quando o interesse pela história desaparece e só se espera por sua conclusão.

5. Corações famintos (2014) - 8.0
Corações famintos (2014)
Uma pancada sem analgésico para remediar. A dupla de atores interpreta com voracidade um casal enredado em uma espiral crescente de obsessão e distopia. 

6. Primavera (2014) - 6.0
Perde tempo demais para dizer a que veio, tornando-se um tanto aborrecido mesmo depois que o grande mistério é revelado. A hesitação em se assumir como terror ou subversão também lhe prejudica.

7. Boyhood (2014) - 10.0
De uma simplicidade extraordinária. Como bem diz Mason, descrever sentimentos com palavras é inútil e ridículo. Melhor se deixar lavar e levar pela infinidade de emoções que a vida reserva, essa montanha-russa de tantas escalas.

8. Sombras no paraíso (1986) - 7.5
A Finlândia das classes populares e dos sonhos inacessíveis. Uma anedota de otimismo discreto.

9. O homem mais procurado (2014) - 7.5
Típico thriller de espionagem que funciona pelo bom encaixamento de suas peças. Uma adaptação de Le Carré em boa forma depois do enfado que Alfredson tinha trazido.

10. Por cima do seu cadáver (2014) - 5.0
Parece que nunca vai engrenar e, quando diz a que veio, é um show de sangue e delírio perverso.

11. Los hongos (2014) - 7.0    
Los hongos (2014)
Uma bela amizade talhada em meio às duras circunstâncias. A realidade colombiana dramatizada com tintas marcantes e emotivas.

12. The disappearance of Eleanor Rigby: them (2014) - 6.5
A duração extensa demais torna muitas cenas esgarçadas, além de o roteiro lembrar muitos outros filmes mais consistentes sobre relacionamentos abalados. E talvez Chastain e McAvoy sejam lindos demais para viver personagens tão ordinários.

13. O ciúme (2013) - 8.0
A infelicidade dos amantes, constante de Garrel pai, é reafirmada. 

O ciúme (2013)

14. Sexta-feira à noite (2002) - 7.0
Uma noite de congestionamento em Paris e dois amantes casuais. Calcada em sensações e silêncios, Denis oferece fragmentos do que são duas vidas com mais bagagens, mas exagera um pouco nos maneirismos com a câmera.

15. Lucy (2014) - 8.5
Roteiro bem azeitado, Scarlett Johansson em ponto de bala, destilando conhecimento e bancando a heroína. A proposta de Besson é ousada e divertida, funcionando do começo ao fim.

16. Farrapo humano (1945) - 8.0
Toda a força deste retrato pungente do alcoolismo pode ser resumida em apenas duas palavras: delirium tremens.

17. Louca paixão (1973) - 8.0
"A paixão me pegou / Tentei escapar, não consegui"

Pânico 2
18. Pânico 2 (1997) - 8.0
Sequência tão inspirada quanto o original, provando que sempre se pode fazer mais do mesmo com qualidade. A autoironia em meio aos sustos eficazes é outro achado. 

19. Um milhão de maneiras de pegar na pistola (2014) - 5.0
O roteiro apela para uma trama pré-fabricada, preenchida com o humor (?) desbocado de MacFarlane além de a duração ser excessiva. Funciona em momentos isolados.

20. A piscina (1969) - 7.5
Calor e tensão em Saint Tropez e um Alain Delon sutilmente passional: eis a mistura bem-sucedida de mais um bom espécime da cinematografia francesa.

21. Miss Violence (2013) - 7.0
O cinema grego volta a apostar na crueza subscrita a ambientes assépticos. Uma experiência, no mínimo, desconcertante.

22. Vestida para matar (1980) - 8.0
De Palma usa e abusa do suspense, habilmente construído e capaz de deixar a respiração presa. Sem dúvida, ele reinou no gênero ao longo da primeira metade dos anos 80.

23. Pom poko - A grande batalha dos guaxinins (1994) - 8.0
Mesmo inserindo elementos específicos da cultura oriental, Takahata não restringe o escopo de uma trama que é defesa à boa convivência entre as sociedades humana e animal. Os guaxinins podem ser lidos como representantes de classes marginais.

24. Blind (2014) - 7.0
Por 87 minutos, somos expostos a sensações e vislumbres embaralhados.

25. O grande golpe (1956) - 8.5
É Kubrick mostrando com propriedade que dinheiro na mão é vendaval.

26. Noite e dia (2008) - 7.0
Noite e dia (2008)
Uma Paris cinzenta e o cotidiano ora como fonte de adoráveis descobertas, ora como enfado. Por vezes, prevalece o segundo elemento, que se estende para quem está do outro lado da tela. 

27. O último golpe (1974) - 7.0
Já que a trama não é grande coisa, o negócio é acompanhar a dupla carismática vivida por Eastwood e Bridges, observando como o segundo tem um vasto repertório de expressões faciais.

28. Fuga para Odessa (1994) - 8.0
Uma ópera acachapante, que lança seus barítonos, sopranos, tenores e baixos em um vale escuro e frio, onde pulsam notas doídas, síntese de um universo em corrosão.

29. Amar, beber e cantar (2014) - 8.0
Um filme sobre música em que falta, justamente, ritmo.

30. Síndromes e um século (2006) - 7.5
A primeira metade, de prevalência dialogal, cede lugar à segunda, essencialmente imagética, confirmando o caráter inebriante da obra de Weerasethakul.

31. Mesmo se nada der certo (2013) - 7.5
O feijão com arroz dos (des)encontros amorosos muito bem temperado. Canções lindas de doer.

32. Ariel (1988) - 9.5
Impressionante na concisão, maravilhoso no andamento. Os signos do diretor, como o humor que surge do tratamento banal de episódios algo bizarros, marcam presença. Um êxito perto da plenitude.

33. Além da escuridão - Star trek (2013) - 7.0
Os conflitos internos de uma tripulação em uma trama que ganha força na reta final. Até então, o excesso de batalhas deixa um pouco tonto.

34. Garotos de Fengkuei (1983) - 7.5
Crescer é inevitável e o mundo é bem maior do que os nossos olhos podem alcançar.

35. Nausicaä do vale do vento (1984) - 8.0
Emoção, aventura e ecologia bem dosadas. Por um mundo em equilíbrio, o roteiro nos ensina a cooperação e a luta incessante, até que se veja a recompensa.

36. Juntos e misturados (2014) - 7.0
É claro que já vimos esse filme antes, mas e daí? A química entre Sandler e Barrymore continua intacta e os momentos divertidos existem. Bom passatempo sobre misturas familiares que dão certo.

CURTAS:

O jantar perfeito (2013) - 7.5
Simpático e despretensioso, mostra a dualidade que habita cada um de nós com bom humor.

O paradoxo da espera do ônibus (2007) - 6.0
Todo mundo já deve ter passado por uma situação dessa e sabe como é ruim, daí a identificação imediata. O problema é mostrá-la só através de imagens estáticas e uma narração indolente.

Cordas (2014) - 9.0
Encanta, emociona e inspira com uma história triste e linda. Tudo em pouco menos de 10 minutos.

Um menino e seu átomo (2013) - 8.0
Um experimento simpático que revela um mundo minúsculo que está ao nosso redor, mas parece ficção científica.

Dois carros, uma noite (2004) - 6.0
Da implicância gratuita ao afeto crescente interrompido, tem pouco a oferecer. Um pouco mais de esmero no conteúdo teria vindo a calhar.

MELHOR FILME: Boyhood
PIOR FILME: Stereo
MELHOR DIRETOR: Richard Linklater, por Boyhood
MELHOR ATRIZ: Alba Rohrwacher, por Corações famintos
MELHOR ATOR: Ray Milland, por Farrapo humano
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Patricia Arquette, por Boyhood
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Ethan Hawke, por Boyhood
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Richard Linklater, por Boyhood
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Alain Resnais, Laurent Herbiet e Jean-Marie Besset, por Amar, beber e cantar
MELHOR TRILHA SONORA: Boyhood
MELHOR FOTOGRAFIA: Willy Kurant, por O ciúme
MELHOR MONTAGEM: Boyhood
MELHOR INÍCIO: Corações famintos
MELHOR FINAL: Boyhood
MENÇÃO HONROSA: Ariel

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