RETROSPECTIVA: 2012 NO CINEMA (parte V)

Em um ano com poucos e grandes acertos no Cinema, vale comentar cada um deles, e seguem mais exemplares nessa quinta parte de rememoração. Assim como os últimos dois títulos da quarta parte, abaixo estão reunidos filmes vistos durante a pequena maratona cinéfila proporcionada pelo Festival do Rio, ao mesmo tempo o paraíso e a fonte de agonia de entusiastas da sétima arte.

41. Mais um ano (Another year, 2010), de Mike Leigh

Ao se propor a fazer uma caminhada pelo ciclo das estações, Mais um ano reafirma a vida como cíclica, em um permanente vaivém, como as marés. Essa mesma proposição também permite discutir velhos temas, como amor, fidelidade, carinho, altruísmo e morte. Por colocar todas essas questões sobre a mesa e analisá-las sem qualquer pretensão antropológica, o filme é sobre a vida e nada mais. No fundo, aquele ano inteiro na vida de Tom e Gerri que o diretor nos convida a acompanhar é um período de tempo sem grandes acontecimentos do ponto de vista pragmático, mas das sutis transformações internas derivadas de um simples diálogo ou de uma ausência na presença.

http://impressoesdeumcinefilo.blogspot.com.br/2012/11/mais-um-ano-o-percurso-ciclico-da.html

 Nota: 9.0

42. Ted (idem, 2012), de Seth McFarlane

McFarlane cruza citações de filmes, celebridades e figurinhas carimbadas de nossos e de outros tempos, sempre com uma dose de malícia, tornando a história pontuada de achados irresistíveis. O espaço das gargalhadas está garantido, especialmente para aqueles com um senso de humor menos puritano, que se divertem com associações escatológicas e de cunho sexual – aliás, é impressionante como a grande maioria das pessoas acha a maior graça em comentários de duplo sentido, sendo um deles voltado para o erotismo.

http://impressoesdeumcinefilo.blogspot.com.br/2012/11/ted-o-retrato-de-uma-amizade-como.html

Nota: 9.0

43. César deve morrer (Cesare deve morire, 2011), de Paolo e Vittorio Taviani

A dificuldade em classificar César deve morrer como drama ou documentário deixa entrever que as etiquetas, na arte, são quase sempre insuficientes. E é sempre bom lembrar que todo documentário tem o seu componente de ficção, não é a verdade nua e crua, como podem supor muitos. Sendo assim, a ficção documental dos Taviani é mais um feliz exemplar de proposta provocativa à compartimentação dos gêneros e uma ode à beleza da arte, capaz de penetrar terrenos acidentados e nivelá-los a instâncias de sensibilidade. 

http://impressoesdeumcinefilo.blogspot.com.br/2012/12/o-palco-e-forca-da-palavra-em-cesar.html

 Nota: 8.5


44. Dentro de casa (Dans la maison, 2012), de François Ozon

Ozon volta a brincar com o discurso metalinguístico centrando sua trama nas aramadilhas do fazer literário. O resultado são uns inspirados Fabrice Luchini e Kristin Scott Thomas, ótimos na pele de um casal cada vez mais envolvido no voyeurismo de um aluno dele, que se tornou obcecado por uma típica família de classe média. Em tempos nos quais a liberdade é um conceito cada dia mais rarefeito, a discussão proposta pelo filme vem muito a calhar.

Nota: 8.0

45. Robot & Frank (idem, 2012), de Jake Schreier

Talvez esta seja a obra mais constrangedora que conferi no cinema em 2012. A montagem é desastrosa, os diálogos pífios e, mesmo com uma duração supostamente curta, a sensação é de que o filme não acaba nunca. Frank Langella e Susan Sarandon são desperdiçados em papéis indecorosos, e fica no ar a dúvida cruel sobre o que os levou a aceitá-los. Uma história ruim como essa merece cair no vale do esquecimento.

Nota: 3.0

46. Nós e eu (The we and the I, 2012), de Michel Gondry

Dois acertos na carreira fizeram Gondry apostar suas fichas em uma trama de sustentáculos frágeis. Essa é a impressão causada por Nós e eu, que confina seus personagens à redução espacial de um ônibus escolar, onde paixões nascem e morrem, sonhos se revelam e as bobagens juvenis ganham força. É um ótima premissa, mas a execução deixa a desejar, sobretudo tendo um cineasta tão inventivo no comando delas.

Nota: 5.0

47. O som ao redor (idem, 2012), de Kleber Mendonça Filho

Mais importante do que as histórias que correm em paralelo, O som ao redor funciona melhor se analisado como um todo. O filme é um eficiente painel de uma série de contradições que os seres humanos carregam consigo e, nesse sentido, o poder de identificação gerado por ele é enorme. Mendonça Filho aposta em uma narrativa fluida, sem grandes malabarismos audiovisuais, que enfatiza diálogos coloquiais e passagens plenas de verossimilhança. 

 Nota: 9.0

49. De quinta a domingo (De jueves a domingo, 2012), de Dominga Sotomayor Castillo

Minimalismo não é sinônimo de bons filmes. O mesmo Chile capaz de trazer as pérolas de Matías Bize produz essa arrastada reflexão sobre os efeitos de um divórcio iminente não declarado nos filhos de um casal em viagem de carro. Ao mirar suas lentes na temática do desarranjo familiar, Castillo se revela desastrada e cansativa, não sendo nem mesmo uma fagulha do que seu conterrâneo realiza em termos de análise dos conflitos amorosos. Mal dá para acreditar que a película ganhou prêmios em festivais internacionais.


Nota: 3.0


49. O verão de Giacomo (L'estate di Giacomo, 2011), de Alessandro Comodin

Delicadeza é a palavra-chave deste filme de poucos diálogos e longos momentos de contemplação. Embrenhados em uma selva cujo interior esconde um riacho, dois adolescentes se permitem uma série de descobertas, alternando inocência e malícia e revelando a poesia dos instantes mais ordinários. Nem todos os espectadores se propõem a embarcar nessa proposta, mas quem se render a ela pode experimentar um filme para sentir antes de mais nada.


Nota: 7.0

50. Ruby Sparks - A namorada perfeita (Ruby Sparks, 2012), de Jonathan Dayton e Valerie Falls

A dupla fantástica de Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006) enfim retornou à ativa e trouxe um exemplar diferente de sua estreia, por mais tentadora que seja essa atitude. Reeditando a parceria com o subestimado Paul Dano, eles apresentam a sua visão sobre o perigo em potencial da excessiva idealização amorosa e lança mão de um ou outro clichê a esse respeito. Ainda que estejam menos inspirados dessa vez, vale conferir o que os diretores têm a mostrar por meio do roteiro de Zoe Kazan, que também vive a personagem-título.

Nota: 7.5

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