RETROSPECTIVA: 2012 NO CINEMA (parte I)

O final de mais um ano se aproxima e, com ele, o desejo de rememorar as descobertas e os acúmulos que o Cinema proporcionou ao longo de 12 meses de muitos filmes vistos na sala escura. Entre os muitos lançamentos no circuito carioca em 2012, alguns deles com terrível atraso, houve encantos, decepções, surpresas e irritações, mas nunca a indiferença. 
Nas próximas postagens, procurarei tecer breves comentários sobre todos os filmes a que assisti no cinema este ano. A maioria deles já conta com críticas publicadas por aqui mesmo ao longo do ano, cujos links para leitura ou visita seguem logo abaixo dos comentários.

1. Tudo pelo poder (The ides of March, 2011), de George Clooney

A quarta incursão de George Clooney na cadeira de realizador trouxe mais um acerto em termos de narrativa e interpretações. Com fôlego de sobra para abordar questões políticas, ele colocou a si mesmo como um candidato à presidência dos EUA que serve de inspiração a seu jovem assessor (Ryan Gosling). Com o tempo, vai demonstrando que, em se tratando do poder, sujar as mãos é praticamente inevitável. O título original, infelizmente, foi perdido em português para outro de teor bombástico, muito menos sutil.

 http://impressoesdeumcinefilo.blogspot.com.br/2012/02/tudo-pelo-poder-um-envolvente-jogo-de.html

Nota: 8.0

2. Românticos anônimos (Les émotifs anonymes, 2010), de Jean-Pierre Améris

Amparado pela despretensão, este pequeno conto sobre a timidez exacerbada é plenamente capaz de gerar identificação nos que, mais de uma vez, já se viram de mãos suadas e respiração ofegante perto de momentos cruciais da vida, sobretudo os relacionados ao amor. De quebra, Améris enche os olhos com os chocolates artesanais da pequena fábrica de um dos protagonistas. Um dos exemplos de triunfo da sutileza.

 Nota: 8.0

3. As aventuras de Tintim - O segredo do Licorne (The adventures of Tintin: the secret of the Unicorn, 2011), de Steven Spielberg

Fazia quase sete anos que não assistia a um Spielberg no cinema, e este seu novo trabalho, mais voltado para o público infantil, revela-se um passatempo eficiente. Mesmo que não traga novidades no conteúdo, o visual da animação é um grande atrativo e os personagens exibem carisma - Tintim e o cãozinho Milu conquistam logo nos primeiros minutos. As tradicionais peripécias a serem enfrentadas por eles empolgam a maior parte do tempo, e garantem a satisfação pela compra do ingresso.

Nota: 7.0

4. A separação (Jodaeiye Nader az Simin, 2011), de Ashgar Farhadi

Vitorioso na categoria de melhor filme estrangeiro no Oscar, o longa é uma inteligente e orgânica teia de reviravoltas que exigem o senso de justiça do público à medida que os eventos se desdobram. Como eleger a verdade quando todos os lados parecem estar com a razão? Longe de tomar partido, Farhadi prefere apresentar todos os ângulos possíveis de um imbróglio que começa quando um casal decide tomar rumos opostos por não concordar quanto à melhor alternativa para criar a filha adolescente.

http://impressoesdeumcinefilo.blogspot.com.br/2012/01/separacao-muitos-lados-versoes-e.html


Nota: 9.0

5. O espião que sabia demais (Tinker, taylor, soldier, spy, 2011), de Thomas Alfredson

De longe, o troféu de filme mais tedioso visto no cinema em 2012 vai para O espião que sabia demais. Sua trama arrastada e extenuante desafia a paciência, mesmo de um espectador que, normalmente, não se incomoda com obras lentas, e até exibe alguns filmes bem vagarosos em sua lista de prediletos. Por outro lado, a composição dramática de Gary Oldman é nada menos que sensacional, e responde pelos laivos de brilho de uma história que abusa do direito de ser intrincada e confusa. A recente notícia de que pode haver uma continuação para ela só traz desânimo.

Nota: 4.0

6. 2 coelhos (idem, 2011), de Afonso Poyart

Poyart soube dosar muito bem sua própria criatividade com um punhado de referências que transbordam durante o filme, e nos fazem lembrar de obras como Pulp fiction (idem, 1994), apontada pela crítica e pelo público como a referência mais explícita do diretor. Pode-se dizer que ele tenha concebido uma espécie de assemblage (termo francês para colagem ou reunião) de signos presentes em filmes com histórias de violência e planos malucos, temperando-a com seu toque particular. 


Nota: 8.0

7. Os descendentes (The descendants, 2011), de Alexander Payne

O retorno de Payne depois de sete anos é muito mais louvável que seu trabalho anterior. Contando com algumas fatias de ironia uma história de rearranjo familiar, ele apresentou belas paisagens havaianas e permitiu a George Clooney uma nova indicação ao Oscar de melhor ator. Habitualmente correlacionado a glamour e a mulheres charmosas em sua companhia, ele se despe dessa sua persona pública para ser um homem banal, à volta com a dúvida sobre a mulher que ele cria amá-lo e com responsabilidades práticas envolvendo as filhas.

 Nota: 7.5

8. Precisamos falar sobre o Kevin (We need to talk about Kevin, 2011), de Lynne Ramsey

Sabiamente, a película não encaminha para respostas prontas, apenas levanta questionamentos e sugestões cuja tentativa de se responder jamais parece aplacada. A base para uma história com tanto poder de inquietar vem do livro homônimo de Lionel Schriver, uma escritora afeita ao tratamento de temas espinhosos. A principal diferença do filme para o livro é o fato de a diretora ter abdicado da estrutura epistolar do texto. Apesar disso, o foco do filme também está em Eva, o que possibilita uma interpretação avassaladora de Swinton, umas das atrizes mais incríveis que o cinema já viu. Em sua estampa atordoada, as emoções dissonantes e acachapantes de Eva encontram a perfeita tradução.

 http://impressoesdeumcinefilo.blogspot.com.br/2012/02/efeitos-de-uma-convivencia-devastadora.html

 Nota: 9.0

9. O artista (The artist, 2011), de Michel Hazanavicius

Hazanavicius filma tudo com paixão, e contagia o espectador fazendo um filme à moda antiga e dirigindo atores magistralmente. A dobradinha entre Dujardin e Bejo é estupenda, e rende momentos ora hilários, ora ternos em todo a narrativa. O realizador emula toda a estética e estrutura básica do cinema mudo, e demonstra notável capacidade de encantamento de seu público. Toda sorte de prêmios é meritória para o filme, que consagra seu diretor e seus intérpretes, e exibe força para habitar longamente o imaginário cinéfilo.

 Nota: 10.0

10. O homem que mudou o jogo (Moneyball, 2011), de Bennett Miller

Segundo filme do diretor de Capote (idem, 2005), tem sua razão de ser no desempenho sensacional de Brad Pitt, atento a filigranas de interpretação na pele de um homem tão comum quanto obstinado em mudar a maré de azar que acompanha o time que lhe vem as mãos para comandar. Philip Seymour Hoffman vira coadjuvante de luxo com suas raras aparições na pele de um treinador cujo otimismo anda em baixa. Seu grande defeito é a duração excessiva, que acaba comprometendo, em parte, o ritmo da narrativa.

Nota: 7.0

Comentários

Postagens mais visitadas