BALANÇO MENSAL - JANEIRO

Começou 2017 e o ritmo de sessões de filmes continua frenético. Mesmo porque janeiro é o clássico mês das férias, com bastante tempo livre para correr atrás de pendências, a eterna realidade vivida por um cinéfilo, naturalmente ávido de paixão. Entre primeiros contatos e revisitas, esse primeiro mês do ano foi composto por 46 filmes, e venho tendo sorte por não deparar com nenhuma bomba até o momento. Se, por um lado, as notas 10 andam muito raras, por outro, também não tem sido fácil encontrar um filme nota 0, nem mesmo alguma produção fraca que valha 5 ou menos. Mas um dos piores títulos dessa leva de janeiro, infelizmente, traz Owen Wilson no elenco, um ator que valorizo tanto. 

Quem voltou depois de 2015 e 2016 ausente foi Takeshi Kitano. Esse dois anos de negligência foram parcialmente compensados com dois filmes seus, um deles integrante do pódio abaixo. O realizador japonês ganhou uma mostra em sua homenagem no mês em que completou 70 anos, com boa parte de sua filmografia oferecida na tela grande. E alguns queridinhos marcaram presença com produções inéditas, como Ken Loach - também no pódio -, Alfred Hitchcock (não tão envolvente como de hábito), Dario Argento (em sua estreia promissora) e Hong Sang-soo - que perdeu uma vaga no pódio por muito pouco. Agora chega de enrolação e vamos ao balanço!


PÓDIO

MEDALHA DE OURO

Eu, Daniel Blake (Ken Loach, 2016)




Resistir é preciso. A frase, carregada de vontade, é intensamente tornada ação pelo protagonista de Eu, Daniel Blake (I, Daniel Blake, 2016), segundo filme pelo qual o realizador Ken Loach foi contemplado com a Palma de Ouro em Cannes. Sujeito pacato e ainda convalescendo de um ataque cardíaco, ele se vê nas garras de um governo burocrático ao extremo, capaz de exigir provas e tarefas estapafúrdias em troca da concessão de um auxílio financeiro durante sua impossibilidade de trabalhar. Muito se falou sobre Aquarius (idem, 2016) - também exibido na Croisette - ser um filme de fortes reverberações políticas, mas este aqui vai ainda mais fundo em questionar um sistema defasado e desumano que coloca um trabalhador em uma espiral de humilhações. Em comum com Clara, porém, Daniel tem o espírito guerreiro. São legítimas ilustrações da expressão "não deixa a peteca cair".  (crítica completa aqui

MEDALHA DE PRATA

Verão feliz (Takeshi Kitano, 1999)



A filmografia de Takeshi Kitano está fincada em dois sustentáculos básicos: o sadismo violento e o carinho desengonçado. Pertencente ao segundo pilar, Verão feliz evoca os bons sentimentos, como a pureza, a bondade e - por que não? - a paciência em uma nuvem de traquinagens. E elas são cometidas por Kikujirô (vivido pelo próprio Kitano), senhor rabugento que promete a um garotinho levá-lo ao encontro da mãe, com quem o menino quer passar as férias escolares. O caminho até a casa, porém, é cheio de intempéries, sempre causadas pelo destrambelhamento de Kikujirô. Longe da correção política excessiva dos anos 2010 e não necessariamente voltado para o público infantil, o longa é como uma daquelas pessoas que tem coração, mas demonstram seus sentimentos de maneira tão discreta que nem sempre são percebidos de imediato. Cenas hilárias aguardam pelo público, como o acidente com o carro cujo pneu os dois tentam furar com uma tacha.


MEDALHA DE BRONZE

O filho de Joseph (Eugène Green, 2016)



Ao se apropriar de referências bíblicas - do Antigo e do Novo Testamento - Eugène Green produziu uma celebração à gentileza e ao bem querer com seu nono filme. A começar pelo título, o filme evoca personagens do Livro dos Livros enquanto acompanha uma parte da trajetória de um garoto que não aceita o desenho de futuro que lhe estão propondo. De sua procura inquieta, surge o encontro com um tio cujo parentesco só é revelado à plateia. Esse encontro logo se converte em uma bela amizade regida pela prosa, na qual o aprendizado mútuo é acompanhado pelo espectador afeito aos longos diálogos. Green está bem aparentado com Rohmer, um referencial e tanto em matéria de verborragia, e extrai de seus atores interpretações propositalmente mecânicas, em uma espécie de antinaturalismo que privilegia o texto e não as ações ou expressões. É o que se nota em outros filmes seus e que se reafirma aqui como uma de suas marcas registradas.

INÉDITOS

1. Meus caros amigos (Mario Monicelli, 1975) -> 6.0
2. Como era verde o meu vale (John Ford, 1940) -> 8.0
3. O filme de Oki (Hong Sang-soo, 2013) -> 8.0
4. O pássaro das plumas de cristal (Dario Argento, 1970) -> 7.5
5. O que está por vir (Mia Hansen-Løve, 2016) -> 8.0
6. Indignação (James Schamus, 2016) -> 7.0


7. O filho de Saul (Lázló Nemes, 2015) -> 7.5
8. O filho de Joseph (Eugène Green, 2016) - > 8.5 
9. Gênios do crime (Jared Hess, 2016) -> 5.0
10. Chronic (Michel Franco, 2015) -> 7.0
11. Procurando Dory (Andrew Stanton e Angus MacLane, 2016) -> 7.0
12. O doce pássaro da juventude (Richard Brooks, 1962) -> 8.0
13. O contador (Gavin Hood, 2016) -> 6.0


14. Eu, Daniel Blake (Ken Loach, 2016) -> 9.0
15. Ladrão de casaca (Alfred Hitchcock, 1955) -> 7.0
16. Romance policial (Jorge Duran, 2014) -> 5.0
17. Vizinhos 2 (Nicholas Stoller, 2016) -> 4.0
18. Tempo de valentes (Damián Szifrón, 2005) -> 7.5
19. Pontypool (Bruce McDonald, 2008) -> 7.0
20. O homem urso (Werner Herzog, 2005) -> 8.0
21. O apartamento (Ashgar Farhadi, 2016) -> 7.5


22. Animais noturnos (Tom Ford, 2016) -> 7.0
23. Wall Street - Poder e cobiça (Oliver Stone, 1987) -> 7.0
24. O sal desse mar (Annemarie Jacir, 2008) -> 8.0
25. La la land: cantando estações (Damien Chazelle, 2016) -> 8.0
26. Big jato (Claudio Assis, 2016) -> 7.0
27. Quinteto da morte (Alexander Mackendrick, 1955) -> 7.0
28. Tapas (José Corbacho e Juan Cruz, 2005) -> 7.0



29. Verão feliz (Takeshi Kitano, 1999) -> 9.0
30. Sob a sombra (Babak Avari, 2016) -> 8.0
31. Para o outro lado (Kyoshi Kurosawa, 2015) -> 7.0
32. A general (Buster Keaton, 1927) -> 8.0
33. O ultraje (Takeshi Kitano, 2010) -> 6.0
34. Hawaii, Oslo (Erik Poppe, 2004) -> 7.0



35. A grande testemunha (Robert Bresson, 1967) -> 7.0
36. Pecados antigos, longas sombras (Alberto Rodríguez, 2014) -> 7.5
37. Carrie, a estranha (Brian De Palma, 1976) -> 7.5
38. Um homem chamado Ove (Hannes Holm, 2016) -> 7.0
39. A estrada (John Hillcoat, 2009) -> 8.0
40. 30 minutos ou menos (Ruben Fleischer, 2011) -> 6.0
41. Sangue azul (Lírio Ferreira, 2014) -> 6.0
42. Millennium - Os homens que não amavam as mulheres (David Fincher, 2011) -> 8.0

REVISTOS

Blue Jasmine (Woody Allen, 2013) -> 9.0
Marcas da violência (David Cronenberg, 2005) -> 8.0
Sangue negro (Paul Thomas Anderson, 2007) -> 8.5
Eles vivem (John Carpenter, 1988) -> 9.0

MELHOR FILME: Eu, Daniel Blake
PIOR FILME: Vizinhos 2
MELHOR DIRETOR: Hong Sang-soo, por O filme de Oki
MELHOR ATRIZ: Rooney Mara, por Millennium - Os homens que não amavam as mulheres
MELHOR ATOR: Ryan Gosling, por La la land: cantando estações
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Avin Manshadi, por Sob a sombra
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Aaron Taylor-Johnson, por Animais noturnos
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Paul Laverty, por Eu, Daniel Blake
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Richard Brooks, por O doce pássaro da juventude
MELHOR TRILHA SONORA: Ennio Morricone, por O pássaro das plumas de cristal
MELHOR FOTOGRAFIA: Alex Catalán, por Pecados antigos, longas sombras
MELHOR CENA: O acidente de carro em Verão feliz
MELHOR FINAL: Eu, Daniel Blake

Comentários

  1. Olá Patrick, tudo bem? parabéns vc escreve muito bem. vc não tem interesse em ser colunista no site: www.noset.com.br? contato@noset.com.br

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