Aposta máxima, uma desagradável coleção de equívocos

É, no mínimo, curioso notar que alguns atores que começam a trilhar um caminho de bons trabalhos consecutivos, de repente, flertem com o retrocesso e figuram em produções de gosto e qualidade duvidosa. Um exemplo recente de escolha equivocada foi dado por Ben Affleck, que aceitou o convite para integrar o elenco de Aposta máxima (Runner, runner, 2013) depois dos êxitos como ator e diretor em Atração perigosa (The town, 2010) e Argo (idem, 2012), que lhe rendeu a estatueta de filme e direção no Oscar. Para entender o quanto ele falhou na escolha, basta colocar os olhos por alguns minutos no filme, cuja trama é situada no universo das apostas via internet, e perceber a colcha de retalhos que tem como diretor Brad Furman (O poder e a lei). Seu personagem é Ivan Block, dono de um grande site de apostas que lhe rende montanhas de dinheiro, a ponto de ele nem ter mais com o que gastar.

Acontece que seu site causa um prejuízo financeiro e acadêmico a Richie Furst (Justin Timberlake), um universitário que se vale da malícia para lidar com jogos de azar e recebe um ultimato de seu reitor: se não puder arcar com as despesas do curso, perderá sua vaga na faculdade. Disposto a recuperar o que perdeu, ele cria uma situação que o coloca frente a frente com Ivan, a quem trata de igual para igual. Em pouco tempo, o dono do site identifica um grande potencial no rapaz e lhe assedia com uma proposta verdadeiramente tentadora, que inclui ressarci-lo do dinheiro perdido e colocá-lo na posição de seu braço direito em uma rotina de cálculos com valores de cinco dígitos ou mais e negociatas com as figuras mais insuspeitas. O jovem enxerga muitas vantagens na oferta e a aceita em pouco tempo.

É então que Aposta máxima começa a mostrar seus vários problemas, que começam pelo roteiro mal escrito, cheio de ironias e alusões bobocas, e passam pelas interpretações de todo elenco, incrivelmente sintonizados na canastrice. Começando por Affleck, cujo ofício de ator é sempre alvo de críticas, cada um parece se esforçar para entregar desempenhos constrangedores, agravados pelo fato de terem personagens rasos nas mãos. Infelizmente, há que se admitir que, neste filme, ele dê razão aos seus detratores e aos que não chegam a simpatizar com ele. São várias tiradas péssimas, com um vocabulário de mau gosto e uma expressividade quase nula. Anunciado como o vilão da história, ele raramente convence no posto. Timberlake é outro que já trazia ao menos um bom papel em sua filmografia – ele esteve muito bem em A rede social (The social network, 2010), e também constrange como Richie. Na vida real, já tem mais de 30 anos e também não é fácil engoli-lo como um estudante dos primeiros anos de faculdade.


Completando a trinca de maus desempenhos, Gemma Arteton encarna Rebecca, a típica mulher fatal, de bela estampa, mas que não tem nada mais a oferecer além disso. Fútil até dizer chega, ela não consegue inspirar uma fagulha de conflito ou tensão, que o roteiro de Brian Koppelman e David Lieven chegam a ensaiar. De início, ela é a amante fixa de Ivan e cuida para que ele não seja abordado por qualquer um. Mais adiante, começa o seu previsível envolvimento com Richie e o desconforto se instaura entre os três. Desse modo, Aposta máxima vai se revelando como uma enorme perda de tempo e dinheiro, tanto do espectador que decidir assistir ao filme no cinema, quanto dos investidores que colocaram milhões nessa aposta furada – o trocadilho me parece inevitável. Sem falar que o texto subestima o público na metade do tempo. Na outra metade, se perde em diálogos confusos e exageradamente expositivos.

Um detalhe que chama a atenção para os bastidores de Aposta máxima é a presença de ninguém menos que Leonardo DiCaprio entre os produtores. Fica a pergunta no ar: o que teria levado mais esse ator de talento comprovado nos últimos anos a se envolver em um projeto tão falho como diversão, entretenimento e crítica a um sistema? Certamente, ele também saiu no prejuízo e o filme deixa a lição para ser mais criterioso no momento da escolha entre as várias opções que a indústria hollywoodiana oferece. Para desabonar de vez o longa-metragem, ainda há uma reviravolta das mais picaretas entre Ivan, Richie e Rebecca e o policial corrupto interpretado por Anthony Mackie (Sem dor, sem ganho), que transita por várias esferas do poder graças à política da boa vizinhança. Todo esse desastre dura apenas 91 minutos, mas o final de um filme ruim sempre parece muito distante, como é o caso desta bomba, um passo em falso a ser esquecido por todos os seus nomes envolvidos.

4/10

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