BALANÇO MENSAL - JULHO

Início de mês é tempo de mais um balanço dos filmes vistos no mês anterior. Ao longo dos 31 dias de julho, pude ampliar meu currículo cinéfilo assistindo a 35 filmes, os quais me despertaram as reações mais diversas, segundo o desenvolvimento de suas propostas.

O mês trouxe a terceira nota 10 do ano, concedida a Tabu, experiência metalinguística e saudosista de Miguel Gomes, proveniente do cinema português, que também marcou presença com Espelho mágico, este nem tão atraente assim, sobretudo pelo formalismo excessivo de Manoel de Oliveira, seu realizador. Houve também alguns filmes dignos de 9, como o irresistível Duas garotas românticas, musical de Jacques Demy que embriaga de amor da primeira à última cena. Dois destinos, pérola italiana, também mereceu essa nota, oferecendo uma comovente história de reaproximação entre irmãos distantes. É mais uma prova de que seu diretor, Valerio Zurlini, é talentoso na abordagem de dramas humanos, sempre dosando a sensibilidade.

No outro extremo, surgiu um filme digno de nota zero: Tony Manero, de Pablo Larraín, tem tudo contra si. Do protagonista intratável à fotografia desleixada, passando pelo roteiro hiper mal escrito, não há o que se possa salvar nesse representante da cinematografia chilena. Outro filme péssimo visto em julho foi A erva do rato. Meu terceiro Julio Bressane é um poderoso sonífero que desperdiça o talento de Alessandra Negrini e Selton Mello em diálogos cheios de empáfia e pretensão. Nem tão cedo pretendo dar outra chance ao diretor. 

Sem mais delongas, segue a relação do completa dos filmes do mês, com breves comentários e notas. Logo depois, os melhores em categorias que considero importantes.

INÉDITOS:

LONGAS:

1. Planeta Terror (2007) - Orgulho trash! Nota: 8.0

2. Duas garotas românticas (1967) - Sua atmosfera genial e irresistível embriaga de amor, o sentimento mais delicioso que existe, e suas canções pulsam a inquietude dos que o têm dentro de si - mas ainda não encontraram o destinatário ideal para entregá-lo. Nota: 9.0  
Duas garotas românticas (1967)

3. Nathalie X (2003) - Restitui o equilíbrio inicial perdido ao longo da narrativa de maneira óbvia. Seus intérpretes enfastiados complicam ainda mais a situação, restando pouco além das belezas distintas de Ardant e Béart. Nota: 6.0

4. Os amantes passageiros (2013) - É Almodóvar afetadíssimo, retornando às origens escrachadas de seu cinema. O festival de piadas de duplo sentido nem sempre funciona.

5. Tabu (2012) - Navega pelas águas do melodrama metalinguístico e presenteia com gentilezas, emoções e ironias. Um magnífico achado sobre a persistência da memória em todos os sentidos. Nota: 10.0

6. Tiranossauro (2011) - Considine põe sentimentos paradoxais em rota de colisão e atinge o âmago de seu espectador com sequências e diálogos perturbadores. Não lhe faltam ousadia e intensidade. Nota: 8.5

7. Entre irmãos (2009) - Faltam-lhe viço e intensidade no desenrolar de uma trama de potencial explosivo sobre o peso dos laços amorosos e familiares. O trio central parece fadado ao piloto automático e a empatia com seus dramas é dificultada. Nota: 6.5

8. A espuma dos dias (2013) - Um elogio surrealista - portanto, imprevisível - ao instinto da preservação. Nota: 9.0

9. Espelho mágico (2005) - O excessivo rigor formal do cineasta depõe, em parte, contra o filme, uma comédia discretíssima sobre aproveitar um ensejo vantajoso e lucrar sobre a fé alheia - nem tão ingênua assim. 
Espelho mágico (2005)

10. Irina Palm (2007) - Até onde vai a disposição de um indivíduo para o sacrifício? Garbarski investe em uma abordagem naturalista para tentar responder a essa pergunta e deixa Faithfull reinar a cada cena, unindo comoção e perplexidade. Nota: 7.0

11. O iluminado (1980) - O verdadeiro terror está concentrado na meia hora final, que exibe um protagonista tenso e arisco, sem enxergar mais um palmo a frente do nariz. A força da imagem e do som a serviço do desespero contagiante. Nota: 8.0 

12. O que resta do tempo (2005) - Elia Suleiman pratica um irritante Cinema especular. Andando em círculos, seu recorte autobiográfico acumula cenas que resultam em indiferença. Nota: 5.0

13. A arte da conquista (2011) - Flagra o caos mental da paixão em uma abordagem formulaica, da qual se destacam alguns momentos singelos e passíveis de identificação. Highmore está ótimo como o garoto inseguro, deslocado e algo misantropo.

14. A erva do rato (2008) - Um eficiente aliado contra a insônia. Nota: 3.0

15. A regra do jogo (1939) - Renoir investe no tom jocoso para arquitetar encontros e desencontros no jogo amoral dos burgueses. Não faltam situações e diálogos hilariamente inspirados. Nota: 8.5  
A regra do jogo (1939)

16. Piquenique na montanha misteriosa (1975) - Transita entre o onírico e o letárgico para falar de medos e incertezas. O visual e o som sibilante da flauta também são personagens da história. Nota: 7.0

17. Mal dos trópicos (2004) - A tentativa de estabelecer contato com o intangível e, assim, encontrar alívio para um espírito inquieto e apegado a memórias. Oferece circuitos abertos em vez de quadrados perfeitos. Nota: 8.5

18. O piano (1993) - Direção esmerada, atores muito à vontade em seus papéis - incluindo a então criança Anna Paquin - e uma trilha sonora incidental apaixonante fazem deste um filme digno de ser lembrado. Nota: 8.0

19. Delta (2008) - As escolhas estéticas do diretor quase sempre chamam mais a atenção do que a trama em si. Em meio a tantas supressões de palavras, tem-se uma análise discreta do nascimento de um sentimento indevido. Nota: 7.0

20. Bling ring: a gangue de Hollywood (2013) - A fixação doentia pelas celebridades não pelo que são, mas pelo que ostentam, como uma tentativa de suprir um enorme vácuo interior. Os consumistas e frívolos piram... Nota: 8.0

21. Boy meets girl (1984) - A balada triste dos corpos em aproximação parcialmente diluída em divagações. Nota: 7.5

22. Dois destinos (1962) - Aborda os laços fraternos de maneira incrivelmente tocante, amparado pelas interpretações devastadoras de Mastroianni e Perrin. Da terra dos afetos explícitos, não se poderia esperar por menos. Nota: 9.0  
Dois destinos (1962)

23. Império dos sonhos (2006) - A esquizofrenia não pode ser compartilhada. Nota: 4.0

24. Extermínio (2002) - Mantém o fôlego até a última cena e prega vários sustos. Tensão e realismo muito bem trabalhados se somam a personagens pelos quais vale a pena torcer. Nota: 8.0

25. Tony Manero (2008)  - Um equívoco pleno: do protagonista intragável à fotografia esmaecida, passando pelo roteiro horroroso, também se afirma redundantemente como um desperdício de tempo e atenção. Nota: 0.0

26. Código desconhecido (2000) - A tentativa de estabelecer conexão com os personagens é constante, mas Haneke não parece minimamente disposto a permitir essa possibilidade. Decorre disso um filme enfadonho e sem rumo. Nota: 5.0

27. Algumas horas de primavera (2012) - Sabe aquele nó na garganta que emudece na hora em que mais deveríamos dizer? É esse nó que fere de morte. Nota: 9.5

28. Acossado (1960) - Acelerado e irreverente, promove um revezamento entre angústia e riso, além de se impor com uma sintaxe cinematográfica genuinamente autoral. Uma ode ao movimento. Nota: 7.0

29. O Homem de Aço (2013) - Filme de herói genérico que tenta impressionar o tempo inteiro com efeitos visuais, enquanto vai descuidando da profundidade da história. É sessão de cinema à qual se vai acompanhado de ótimos amigos.

30. Antes que o diabo saiba que você está morto (2007) - Argumento tenso e extremamente bem trabalhado. Esqueça o apego aos laços familiares: por aqui, só há espaço para murros no estômago e decisões amorais.  
Antes que o diabo saiba que você está morto (2007)

31. O vento da noite (1999) - Os velhos problemas no amor que se revelam insolúveis para alguns inábeis. Nota: 8.0

32. Era uma vez um pai (1942) - A beleza e a singeleza dos laços que unem pai e filho captados com a paciência e a sensibilidade de um realizador atento aos pequenos acontecimentos. É capaz de despertar emoções profundas e discretas. Nota: 8.0

33. Crimes em Wonderland (2003) - As idas e vindas no tempo dinamizam a narrativa e renovam o interesse, mas não há muito mais a se destacar nesta trama de entorpecimento. Nota: 6.5 

34. O grande Lebowski (1998) - Um desfile de nonsense e digressões consecutivos que aponta para o absurdo da vida. Inventivo e hilário ao seu modo, traz um dos personagens mais carismáticos de todos os tempos: O Cara.

35. Sentidos do amor (2011) - Proposta insólita e bem realizada sobre um mundo cada vez mais caótico e, portanto, sem sentido. A cada nova perda dos personagens, cresce a angústia por um presente sem saída.

CURTAS:

Quase abduzido (2006) - Simpático e despretensioso, mantém a coerência da Pixar em suas propostas. Nada espetacular, mas eficiente. Nota: 7.0

Pixels (2010) - Uma provocação inventiva ao atual condicionamento humano de enxergar o mundo por telas. Nota: 8.0

Seu amigo, o rato (2007) - Ratos continuam sendo intragáveis depois desse curta, mas as curiosidades distribuídas nele fazem estender a concepção sobre esses roedores com uma mistura bacana de recursos gráficos e visuais. Nota: 7.0

La luna (2011) - Singeleza e doçura são irresistíveis separadamente. Quando se unem, o resultado é ainda melhor, e eis aqui um lindo exemplo. Nota: 7.0

Cine Holiúdy - O astista contra o Caba do Mal (2004) - Uma certa dose de cara de pau sempre vem a calhar. É o caso do nosso amigo multimídia aqui, disposto a tudo para não perder seu público apaixonado (?) pelo Cinema. Nota: 7.0

REVISTO:

Os excêntricos Tenenbaums (2001) - O óbvio e o bizarro sob as lentes policromáticas de Wes Anderson. Uma genial fábula de esquisitices adoráveis. Nota: 10.0

MELHOR FILME: Tabu
PIOR FILME: Tony Manero
MELHOR DIRETOR: Jacques Demy, por Duas garotas românticas
MELHOR ATRIZ: Catherine Deneuve, por Duas garotas românticas
MELHOR ATOR: Philip Seymour Hoffman, por Antes que o diabo saiba que você está morto
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Olivia Colman, por Tiranossauro
MELHOR ATOR COADJUVANTE: John Goodman, por O grande Lebowski
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Miguel Gomes e Mariana Ricardo, por Tabu
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Luc Bossi, por A espuma dos dias
MELHOR FOTOGRAFIA: Rui Poças, por Tabu
MELHOR TRILHA SONORA: Michel Legrand, por Duas garotas românticas
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: Pierre Renson, por A espuma dos dias
MELHOR CENA: O passeio de Colin e Chlöé pelos céus de Paris em A espuma dos dias
MELHOR FINAL: Dois destinos

MENÇÃO HONROSA: Algumas horas de primavera
MENÇÃO DESONROSA: A erva do rato
HORS CONCOURS: Os excêntricos Tenenbaums

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