BALANÇO MENSAL - SETEMBRO

Está cada vez mais raro eu usar meu tempo para escrever sobre filmes - tenho dado prioridade a assistir a eles -, por isso até mesmo os balanços mensais andam atrasadíssimos. Mas como ainda dou notas para todos eles e publico no álbum do Facebook, consigo manter o controle sobre os filmes, a ordem das sessões e as avaliações sobre cada um. E é isso que possibilita a publicação de mais um tradicional balanço, que compartilho com eventuais leitores logo abaixo. Entre os diretores de setembro, destaco alguns nomes, como Marc Forster, Ang Lee, Aaron Sorkin (em sua primeira experiência atrás das câmeras) e o veterano Clint Eastwood longe dos seus melhores dias. Depois desse rápido prefácio - para não dizer que não falei das flores, segue o balanço de setembro!

MEDALHA DE OURO

Abismo do medo (Neil Marshall, 2005)



Não é com frequência que dou chance ao gênero terror, simplesmente por falta de interesse por ele, e não por acreditar que seus exemplares sejam sempre ruins. Em uma investida aqui e ali, porém, confiro exemplares que me deixam satisfeito, como é o caso de Abismo do medo, produção australiana assinada por um nome pouco badalado, o inglês Neil Marshall, que faturou o prêmio de direção no British Independent Film Awards, reconhecimento muito do merecido. A trama é simples, como acontece em tantos outros terrores, mas seu grande trunfo é mexer habilmente com sons e sombras e deixar o espectador tenso enquanto acompanha um grupo de amigas que explora uma caverna isolada da civilização em solo australiano. Uma delas ainda está aprendendo a lidar com um trauma vivido um ano antes, e para temperar ainda mais a narrativa, conflitos e dificuldades emergem entre elas quando precisam lidar com uma ameaça desconhecida naquele interior escuro. Marshall consegue escapar do maniqueísmo no trato dessas relações e faz de seu longa um daqueles que merece estar presente em listas dos melhores.

MEDALHA DE PRATA 

A lua de Júpiter (Kornél Mundruczó, 2017)



O milenar tema da fé comparece no quarto longa de Mundruczó, um misto de drama e ficção científica que acompanha um rapaz até então comum que, inexplicavelmente, aflora a habilidade de levitar. O fato vem à tona depois que ele é baleado enquanto tentava imigrar ilegalmente, e chama a atenção de um homem até então coberto de incredulidade. Exibido em competição no Festival de Cannes, A lua de Júpiter é muito mais de perguntas que de respostas, e demonstra que seu realizador vem amadurecendo a cada novo trabalho. Sua filmografia ainda curta vem chamando a atenção da crítica e levando a reflexões oportunas. Aqui, reúne dramaturgia e técnica em doses equivalentes, compondo momentos nos quais o espectador pode se questionar e repensar certezas que até então pareciam inabaláveis. Afinal, o mundo é apenas aquilo que se pode ver com os olhos físicos, ou há uma outra dimensão intangível na qual há muito acontecendo? Esses mundos se encontram em alguma medida? O que sabemos de fato? Dúvidas instigantes como essa permeiam a obra, e deixam seu percurso muito mais sinuoso e distante do óbvio ululante.

MEDALHA DE BRONZE

Perfeitos desconhecidos (Paolo Genovese, 2016)



O cinema italiano ganhou mais espaço na minha agenda dos dois últimos meses, e um de seus exemplares recentes conquistou uma vaga no pódio do mês, embora a nota que lhe atribuí seja numericamente igual à de outros títulos. O critério, porém, foi a eficiência em prender minha atenção, e nesse sentido Perfeitos desconhecidos saiu ganhando. A narrativa se detém em uma única noite, quando um grupo de amigos de longa data se reúne para jantar e segredos e mentiras cultivados entre eles começam a aparecer depois que uma integrante da turma propõe um jogo simples: todos deixam seus celulares sobre a mesa e qualquer ligação ou mensagem que surgir será compartilhada com todos. O argumento sobre o qual se baseia o roteiro não poderia ser mais contemporâneo: celulares hoje são como caixas pretas, e o uso de padrões de deslizamento ou senhas alfanuméricas demonstram que todos querem manter a salvo algumas informações. Com uma pegada que lembra o teatro (nenhum demérito, diga-se de passagem), o longa consegue ir da comédia ao drama se perder o fôlego, talvez auxiliado também por sua curta duração.

INÉDITOS

285. Coraline e o mundo secreto (Henry Selick, 2009) -> 7.0
286. Christopher Robin - Um reencontro inesquecível (Marc Forster, 2018) -> 7.0
287. O último desafio (Kim Jee-woon, 2013) -> 6.5
288. As aventuras de Paddington (Paul King, 2014) -> 6.5
289. Razão e sensibilidade (Ang Lee, 1995) -> 7.0


290. A lua de Júpiter (Kornél Mundruczó, 2017) -> 8.0
291. Abismo do medo (Neil Marshall, 2005) -> 8.0
292. Os profissionais (Richard Brooks, 1966) -> 7.0
293. A grande jogada (Aaron Sorkin, 2017) -> 7.0
294. 15:17 - Trem para Paris (Clint Eastwood, 2017) -> 5.0
295. Em chamas (Lee Chang-dong, 2017) -> 7.0



296. Gênio indomável (Gus Van Sant, 1997) -> 7.0
297. O âncora - A lenda de Ron Burgundy (Adam McKay, 2004) -> 5.0
298. Não seja mau (Claudio Caligari, 2015) -> 7.0
299. As palavras (Brian Klugman e Lee Sternthal, 2012) -> 3.0
300. Perfeitos desconhecidos (Paolo Genovese, 2016) -> 7.0
301. Passageiros (Morten Tyldum, 2016) -> 5.0


302. A morte de um ciclista (Juan Antonio Bardem, 1955) -> 6.0
303. Sem segurança nenhuma (Colin Trevorrow, 2012) -> 5.5
304. Kung-fusão (Stephen Chow, 2004) -> 2.0
305. Han Solo: uma história star wars (Ron Howard, 2018) -> 4.0
306. Celeste e James para sempre (Lee Toland Krieger, 2012) -> 5.0
307. A prayer before down (Jean-Sthéphane Sauvaire, 2017) -> 6.5
308. Dogman (Matteo Garrone, 2018) -> 7.5



309. O salário do medo (Henri-Georges Cluzot, 1953) -> 8.0
310. O beijo da mulher aranha (Hector Babenco, 1985) -> 7.5
311. Batman: o cavaleiro das trevas ressurge (Christopher Nolan, 2012) -> 6.0
312. Uma noite de crime (James DeMonaco, 2013) -> 2.0
313. O sorriso de Mona Lisa (Mike Newell, 2003) -> 6.5
314. 10 segundos para vencer (José Alvarenga Jr., 2017) -> 6.0


REVISTOS

Um sonho de amor (Luca Guadagnino, 2009) -> 8.5
Foi apenas um sonho (Sam Mendes, 2008) -> 7.5
A doce vida (Federico Fellini, 1960) -> 8.0
Minha vida sem mim (Isabel Coixet, 2003) -> 7.5

MELHOR FILME: Abismo do medo
PIOR FILME: Kung-fusão
MELHOR DIRETOR: Neil Marshall, por Abismo do medo
MELHOR ATRIZ: Jessica Chastain, por A grande jogada
MELHOR ATOR: Marcello Fonte, por Dogman
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Sônia Braga, por O beijo da mulher aranha
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Neil Marshall, por Abismo do medo
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Henri-Georges Cluzot e Jérôme Géronimi, por O salário do medo
MELHOR TRILHA SONORA: Abismo do medo
MELHOR FOTOGRAFIA: A lua de Júpiter
MELHOR CENA: A perseguição pela caverna em Abismo do medo
MELHOR FINAL: Em chamas

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