BALANÇO MENSAL - JUNHO

Ainda que, mais uma vez, com atraso, coloco à disposição o balanço dos filmes a que assisti no mês de junho. Novamente, pude somar 35 títulos vistos - o mesmo occorrera em maio - e deparar com produções maravilhosas em sua grande maioria. Como de hábito, procuro fazer escolhas criteriosas, embora venha abrindo espaço a filmes que, em outros tempos, jamais pensaria em ver - o que tem seus prós e contras.

O melhor do mês foi, sem dúvida, o único a ter recebido nota 10: Antes da meia-noite. A terceira parte do relacionamento entre Jesse e Celine, dessa vez, no auge da maturidade, me arrebatou completamente e quebrou um jejum de quatro meses sem essa nota máxima. Logo atrás, ficam O substituto, incrível trabalho de Adrien Brody que não teve lugar no circuito comercial, O grande ditador, pérola chapliniana que segue atemporal, e Ferrugem e osso, um dos contos modernos mais pungentes dos últimos anos.

Entre os piores longas vistos, Um dia responde por alguns bocejos e uma certa irritação com sua montagem esquizofrênica e uma Anne Hathaway enjoadíssima. Outro que fez por merecer nota baixa foi Taxidermia: com sua proposta asquerosa e bizarra, pensar em uma avaliação ótima me pareceria compactuar com um filme de personagens, ações e ambientes deploráveis.

A seguir, a relação completa dos títulos acompanhada de comentários sucintos. Aos poucos, vou escrevendo críticas sobre os que mais me agradaram, conforme o tempo e a disposição.

LONGAS:

1. Harry e Sally - Feitos um para o outro (1989) - Um delicioso equilíbrio entre sinceridade e romantismo destilados em vários diálogos inspirados sobre o mais universal dos sentimentos. O charme dessa bela história é atemporal. Nota: 8.0

2. Os homens que encaravam cabras (2009) - Trama de conspiração com pitadas de humor nonsense que guarda similaridades com a obra dos irmãos Coen, bem como pela presença de alguns atores no elenco. A cena dos soldados sob efeito de LSD é o maior acerto desse filme irregular. Nota: 6.5

3. Enterrado vivo (2010) - Claustrofóbicos, passem longe! Dotado de uma alta voltagem de adrenalina, esse suspense rouba o fôlego do espectador para não mais devolvê-lo. Exíguo em elementos cênicos, entrega seu protagonista ao estrago. Nota: 8.5      
Enterrado vivo (2010)
                                                                                               
4. Um dia (2011) - Tem um argumento valioso nas mãos: a irreparabilidade do tempo. Mas transforma tudo em uma xaropada fatigante, reforçada pela montagem caótica. Ainda assim, há quem se identifique. Nota: 4.0

5. A malvada (1950) - Sagaz e atraente, mostra seu valor em várias aspectos: ótimos diálogos cheios de ironias e referências, intérpretes tarimbados, roteiro meticuloso e um final à altura de tudo o que vinha se desenvolvendo até então. Nota: 8.5

6. O enigma de Kaspar Hauser (1975) - Uma bela reflexão sobre valores e códigos sociais implícitos que, vistos com certo distanciamento, revelam incongruências. Nota: 7.0

7. A mulher do aviador (1980) - Deliciosamente verborrágico, um hábito em Rohmer. Justamente por esse detalhe, oferece tempo mais do que suficiente para conhecer os personagens e enxergar suas inquietudes absolutamente universais. Nota: 9.0

8. O abrigo (2011) - Um sonho mau que não passa: aterrador e intimista, catastrófico e desconfortável, reúne suspense e terror de forma orgânica. Shannon é a escolha ideal para o papel e a fotografia contribui decisivamente para a atmosfera desnorteante. Nota: 8.5 
O abrigo (2011)

9. Looper - Assassinos do futuro (2012) - Um ótimo exemplar do seu gênero: a trama bem arquitetada e quase verossímil garante o interesse, mesmo que poucas surpresas aconteçam antes do ato final. Nota: 7.5

10. O grande Gatsby (2013) - Pompa, circunstância e afetação guiam a jornada de um homem cuja sina era testemunhar fatos. Lá pelas tantas, a condução espetaculosa de Luhrmann cansa, ainda que os minutos finais revelem uma nova camada de alguns personagens. Nota: 6.0

11. Um homem, uma mulher (1966) - Belo e distante quase na mesma proporção, analisa sutilmente a instabilidade do querer. Nota: 7.0

12. Mr. Vingança (2002) - A estética ultraviolenta abre margem para atos extremos e comprova o quanto o sentimento presente no título conduz os homens por caminhos escabrosos. Narrativa intensa e cheia de elipses. Nota: 7.0

13. Eu e você (2012) - Bertolucci volta a abordar o ensimesmamento juvenil, dessa vez, com menos requinte e despido de metalinguagem. Ainda assim, há singelas passagens que valem a pena e refletem parte do tom de angústia universal dessa faixa etária atordoante. Nota: 7.0
Eu e você (2012)

14. Taxidermia (2006) - Indigesto como poucos, não oferece qualquer tipo de conforto aos seus personagens e apresenta uma Hungria fétida, gélida e réproba. Diante de tanta aberração, é estranho pensar em apontar qualidades. Nota: 5.0

15. Primavera para Hitler (1968) - Tem um senso de humor ótimo, não apenas pelo roteiro bem escrito, mas também pelas interpretações afiadas da dupla de protagonistas. Uma inteligente galhofa com o regime nazista. Nota: 7.5

16. Os intocáveis (1987) - Estiloso, bem filmado e interpretado. Sobram qualidades nessa empolgante e clássica história do mocinho idealista contra uma horda de cafajestes executada em planos-sequência bem cadenciados. Nota: 8.0

17. Terça, depois do Natal (2010) - A angústia da cisão traduzida em planos intermináveis. No Cinema, em casa, podem ser pulados. Na vida... Não. Isso é a vida. Nota: 8.0

18. Antes da meia-noite (2013) - Um percurso acidentado e pedregoso pelas palavras: pulsantes, pungentes, polifônicas, pequenas, penetrantes, patéticas, pesadas, pontes, poéticas. Palavras.

19. A hora do amor (1971) - A primeira hora é estranhamente palatável, apesar do conflito instaurado. Depois, a história quase sucumbe a uma densa névoa e recai em sequências preguiçosas. É compreensível o fato de que Bergman rejeitava esse filme. Nota: 6.0
A hora do amor (1971)

20. Pintar ou fazer amor (2005) - Estruturalmente charmoso e harmônico, oferece belos desempenhos de Auteuil e Azéma. Para além das referências eruditas, é uma ode ao desejo sem freios morais e uma breve análise sobre o que isso acarreta. Nota: 7.0

21. O hospedeiro (2006) - Funciona desde a primeira cena, produzindo sustos, apreensão e injetando vitalidade à defasada cartilha dos filmes de monstro. Nota: 8.5

22. 35 doses de rum (2008) - Sensível e arejado, deixa público e personagens respirarem livremente. De quebra, reafirma o quanto a diretora tem bom gosto para trilhas sonoras. Nota: 8.0

23. O substituto (2011) - Extraordinário e impactante, parte de um cenário cruel para tratar de decepções, medos, fragilidades e vários temas urgentes e universais. Brody está simplesmente fantástico. Nota: 9.0

24. A mãe e a puta (1973) - De uma franqueza intensa, mostra uma concepção de estranha de amor. Porém, oferece belos diálogos e imagens que encantam. Complexo como toda tentativa de analisar a condição humana. Nota: 8.0

25. O grande ditador (1940) - O discurso final é o auge de uma obra memorável que achincalha com a guerra e estende a bandeira branca de forma contundente. Cineastas como Chaplin fazem falta ao mundo. Nota: 9.0
O grande ditador (1940)

26. As vantagens de ser invisível (2012) - No fundo, tudo são histórias que vivemos no passado e contamos hoje. As experiências dizem muito de quem somos, tal qual faz perceber esse adorável e sensível exemplar de Cinema - que não chega a valer todos os elogios que andou recebendo. Nota: 7.0

27. Bronson (2008) - Por vezes, a irregularidade prejudica o andamento da narrativa, assim como as sequências no palco, desnecessárias. Mas são inegáveis a entrega irrestrita de Hardy e o vigor da direção de Refn, que abusa dos planos desconcertantes. Nota: 7.5

28. Sedução e vingança (1981) - Uma protagonista apegada ao próprio desvario, mandando bala em todas as direções. Ferrara e suas provocações tétricas. Nota: 7.0

29. Loverboy (2011) - Não diz muito a que veio, parecendo um ensaio de história que jamais engrena para valer. Faltou um pouco mais de ambição e ideias ao diretor e mais garra ao elenco. Nota: 6.0

30. Ferrugem e osso (2012) - Intenso em sua proposta e em seu desenvolvimento, traz atuações viscerais dos protagonistas e oferece momentos de agonia e pungência. Audiard sabe apresentar um drama sem mergulhar os personagens na autocomiseração. Nota: 9.0

31. O lugar onde tudo termina (2012) - Desencanto, reviravolta e desapego em longos 140 minutos. Novamente, um filme de Cianfrance recebe título equivocado em português. Nota: 7.5
O lugar onde tudo termina (2012)

32. Teorema (1968) - O excesso de elipses torna o filme árido e dilui a força da crítica ao tédio burguês. Nota: 5.5

33. Juventude (2008) - As lamentações exaustivas de uma geração. Nota: 5.0

34. A pequena loja de suicídios (2012) - Aposta no humor negro para brincar com a morte e alterna alegria e melancolia em singelas passagens musicais. Uma animação nem tão indicada para os pequenos. Nota: 8.5

35. Zatoichi (2003) - Kitano capricha na carnificina estilizada e bem coreografada para fazer jus ao universo samurai. Veneza tinha razão dessa vez. Nota: 8.0

CURTAS:

Wandla (2013) - Inócuo, registra cenas fortes com uma apatia incompreensível. Como tentativa de Cinema, tem seu mérito, mas não passa disso. Nota: 5.0

Let's pollute (2011) - Interpreta com propriedade o subtexto consumista dos nossos dias e produz instantes de reflexão. Traço simples e rico ao mesmo tempo. Nota: 8.0

O dia mais longo na creche (2012) - Irônico sem perder a ternura. Nota: 8.0

MELHOR FILME: Antes da meia-noite
MELHOR DIRETOR: Richard Linklater, por Antes da meia-noite
MELHOR ATRIZ: Julie Delpy, por Antes da meia-noite
MELHOR ATOR: Adrien Brody, por O substituto / Tom Hardy, por Bronson
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Eva Mendes, por O lugar onde tudo termina
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Sean Connery, por Os intocáveis
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Richard Linklater, Ethan Hawke e Julie Delpy e Antes de meia-noite
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Niccolò Ammaniti, Umberto Contarello, Francesca Marciano e Bernardo Bertolucci, por Eu e você
MELHOR FOTOGRAFIA: Christos Voudouris, por Antes da meia-noite
MELHOR TRILHA SONORA: Tindersticks, por 35 doses de rum
MELHOR CENA: A caminhada nas ruínas de Jesse e Celine em Antes da meia-noite / O reencontro de Stéphanie com a orca em Ferrugem e osso
MELHOR FINAL: Antes da meia-noite
MENÇÃO HONROSA: Ferrugem e osso
MENÇÃO DESONROSA: Um dia

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