BALANÇO MENSAL - AGOSTO

Agosto voltou a ser um mês cinematograficamente enxuto devido ao recesso de filmes em que estive entre os dias 8 e 20, pouco mais de 1/3 de sua duração. Ainda assim, nos demais dias até que consegui inserir bastantes títulos na minha rotina, e a reunião de todos eles aparece logo abaixo. Como sempre, foi difícil chegar ao pódio final, especificamente por causa do terceiro lugar, porque os dois primeiros foram as únicas notas 8 do mês, enquanto para receber a medalha de bronze a concorrência era entre vários longas cotados com um 7.5. A vitória então foi dos diálogos, a maior justificativa para termos o filme que escolhi ocupando essa posição. 

Posso afirmar que foi um mês produtivo, sem muitos nomes badalados, mas com pessoal competente para contar suas histórias, despertar sensações e manter os olhos atentos. Entre os que posso citar na direção, figuram Kenneth Lonergan - realizador bissexto afeito aos dramas familiares, um dos meus interesses -, Vittorio de Sica - em um de seus encontros com Sophia Loren -, Kim Ki-Duk mais uma vez explorando a violência e Hirokazu Kore-eda mudando levemente de ares e reafirmando que sua vocação é assuntos de família.

MEDALHA DE OURO

Benzinho (Gustavo Pizzi, 2018)


O senso comum diz que "Mãe é tudo igual, só muda o endereço", e essa é uma das frases com a qual tendo a concordar e que encontra ilustração em Benzinho, sobre uma matriarca em vias de se despedir do filho mais velho, que está de partida para Alemanha, onde vai realizar seu sonho de jogar em um time profissional com toda a infraestrutura. Na pele de Irene está Karine Teles, atriz pouco conhecida dos telespectadores, mas que vem brilhando no cinema há quase uma década. Expressiva e autêntica, ela representa não apenas a mãe típica, de coração na mão com a "perda" de seu benzinho, mas também toda uma classe de brasileiros que se equilibra na corda bamba do orçamento apertado e tenta manter a família unida mesmo com os perrengues que, por vezes, surgem em efeito cascata. Pizzi fez de Benzinho uma comédia agridoce, na qual o sentimento de identificação acontece fácil, e que em seus momentos mais sérios exala ternura em vez de pieguice. 

MEDALHA DE PRATA 

Batman - O cavaleiro das trevas (Christopher Nolan, 2008)


À época de seu lançamentos nos cinemas, um crítico se referiu ao filme como "a alegoria política mais perturbadora de 2008". Essa frase nunca saiu da minha cabeça, mas levou 10 anos para que a surgisse a vontade de ver a sequência do "renascimento" do herói sombrio e eu pudesse tirar minhas próprias conclusões sobre a obra. Felizmente, tive um olhar positivo, que começou a ser construído no longa anterior e se consolidou aqui. De fato, são muitas as alusões políticas possíveis na história, assim como leituras sociais que demandariam uma crítica mais longa (quiçá um dia eu faça, mas já existem várias disponíveis enquanto isso), e não um mísero parágrafo. Por ora, cumpre destacar a direção sóbria de Nolan e a montagem de Lee Smith - parceiro habitual do diretor, bem como a atuação monstruosa (com trocadilhos) de Heath Ledger, de longe o Coringa mais icônico e acertado - e olha que não vi todos os outros, mas duvido muito de que esteja sendo irresponsável em minha colocação. E à parte as ressonâncias reflexivas, o roteiro também não negligencia a porção do entretenimento.

MEDALHA DE BRONZE 

O sol tornará a brilhar (Daniel Petrie, 1961)


Apesar de seu título otimista, O sol tornará a brilhar não apresenta muitos momentos alegres. Com sua essência teatral, o longa é formado por muitos diálogos e, somado ao seu elenco altamente coeso, forma a díade que responde por sua qualidade. Questões como o racismo, ainda em discussão na sociedade contemporânea, e a cisão entre conformismo e ambição se levantam a partir dos vários embates entre os membros de uma família de baixa renda, cuja chance de mudar de vida surge a partir de um evento fatídico: a morte de seu patriarca, que deixa uma quantia considerável de seguro e desperta o interesse do filho mais velho, Walter (Sidney Poitier), determinado a aplicar o dinheiro em um negócio, que segundo ele, não tem erro. Daí em diante, o roteiro de Lorraine Hansberry, também autora da peça em que o filme se baseia, evita reducionismos e generalizações, dotando seus personagens de uma genuína humanidade e fazendo entrever um pouco de nós em falas, atitudes e pensamentos, sejam eles bons ou maus. E o retorno do brilho do sol pode acontecer de uma maneira que não se espera.

INÉDITOS

260. Conte comigo (Kenneth Lonergan, 2000) -> 7.5
261. Fora de alcance (Jean-Baptiste Léonetti, 2014) -> 3.0
262. O sol tornará a brilhar (Daniel Petrie, 1961) -> 7.5
263. Duas mulheres (Vittorio de Sica, 1960) -> 7.0
264. A salvação (Kristian Levring, 2014) -> 7.5


265. Fortunata (Sergio Castelitto, 2017) -> 7.5
266. Dente por dente (Kim Ki-Duk, 2014) -> 7.0
267. Sexy por acidente (Abby Kohn e Marc Silverstein, 2018) -> 6.0
268. Hot summer nights (Elijah Bynum, 2017) -> 6.0
269. O professor aloprado (Jerry Lewis, 1963) -> 7.5
270. O exótico hotel Marigold 2 (John Madden, 2015) -> 4.0


271. Tracks (John Curran, 2013) -> 6.5
272. Upgrade (Leigh Whanell, 2018) -> 8.0
273. A dama dourada (Simon Curtis, 2015) -> 6.5
274. A câmera de Claire (Hong Sang-soo, 2017) -> 7.5
275. Benzinho (Gustavo Pizzi, 2018) -> 8.0
276. Lucky (John Carrol Lynch, 2017) -> 7.5
277. O terceiro assassinato (Hirokazu Kore-eda, 2017) -> 7.5




278. Atração fatal (Adrian Lyne, 1987) -> 7.0
279. Batman - O cavaleiro das trevas (Christopher Nolan, 2008) -> 8.0
280. Irma La Douce (Billy Wilder, 1963) -> 7.5
281. Coisas secretas (Jean-Claude Brisseau, 2002) -> 7.5
282. Summer of 84 (François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell, 2018) -> 8.0
283. Eclipse total (Taylor Hackford, 1995) -> 7.0
284. Ghost stories (Jeremy Dyson e Andy Nyman, 2017) -> 7.0

REVISTOS

Scott Pilgrim contra o mundo (Edgar Wright, 2010) -> 8.0 Dúvida (John Patrick Shanley, 2008) -> 8.0

MELHOR FILME: Benzinho
PIOR FILME: Fora de alcance
MELHOR DIRETOR: Gustavo Pizzi, por Benzinho
MELHOR ATRIZ: Karine Teles, por Benzinho
MELHOR ATOR: Sidney Poitier, por O sol tornará a brilhar
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Ruby Dee, por O sol tornará a brilhar
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Heath Ledger, por Batman - O cavaleiro das trevas
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Benzinho, por Gustavo Pizzi e Karine Teles
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: O sol tornará a brilhar, por Lorraine Hansberry
MELHOR FOTOGRAFIA: Mikiya Takimoto, por O terceiro assassinato
MELHOR TRILHA SONORA: Maximiliano Silveira, por Benzinho
MELHOR CENA: A mãe entre o choro e o riso em Benzinho
MELHOR FINAL: Benzinho

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