QUINTETO DE OURO - AMIZADE

Uma das possíveis definições de amizade nos é dada por um dicionário encontrado na internet: sentimento de grande afeição, simpatia e apreço entre pessoas. Quem pode viver sem experimentar isso? No meu conceito pessoal, amizade também envolve certas prerrogativas, como companheirismo, interesse pelo que se refere ao outro, torcida, bons momentos compartilhados e relembrados, carinho verbal e físico, entre outras. Acaba que cada um tem seu ponto de vista sobre esse sentimento, mas essa diferenças acabam se diluindo à medida em que uma verdadeira amizade é cultivada. Momentos de crise e briga também existem, afinal estamos falando de um relacionamento entre pessoas, e todos nós somos difíceis. Porém, quando o amor supera as divergências, é certo que a amizade vai longe...

O cinema está cheio de exemplos de histórias de grandes amigos, e selecionar apenas cinco títulos para figurar neste artigo deu bastante trabalho e doeu no coração. Na minha lista original havia quinze filmes, e peneirá-los para chegar à quantidade que justifica o termo Quinteto de Ouro exigiu que eu deixasse não necessariamente os melhores em termos de realização, mas aqueles pelos quais tenho mais carinho. Interessante notar que apenas dois deles - Mary & Max - Uma amizade diferente e Intocáveis - eu vi duas vezes, mas os outros três ainda seguem vivos na minha cabeça e foram vistos há menos de cinco anos. E para todos eles já tenho críticas prontas, o que me conduziu mais facilmente à escolha do tema.  O outro detalhe é que este mês se celebra o Dia do Amigo, e que ocasião melhor do que essa para trazer o assunto? Os textos colocados abaixo são fragmentos dessas críticas, todas disponíveis aqui no blog. Seguem, portanto, os eleitos, dispostos em ordem cronológica, porque não sou doido de listá-los segundo a preferência...


1. Conta comigo (Rob Reiner, 1986)



A verdade é que, independente dos rumos posteriores de seu elenco, Conta comigo é uma ilustração caprichada do quanto é importante ter com quem contar, exatamente o que os títulos original e nacional indicam. Poucas frases podem ter um efeito tão tranquilizador e emocionante quanto essa, ainda mais quando dita por alguém que já se tornou querido. Caminhar sozinho é sempre mais difícil. A seu favor, a história também traz o fato de que nenhum dos meninos é unidimensional. Em seus olhares e falas, está sintetizada boa parte de uma fase da vida em que tudo é imenso, para o bem e para o mal. Gordie, Chris, Teddy e Vern se amam, embora nem sempre saibam dizer isso. Quem faz a leitura é o espectador, que vê melhor por estar de fora, mas que reconhece o sentimento porque também tem os seus amigos do coração. Nas horas em que tudo o que importa é um abraço apertado, calam-se os lábios e flui a linguagem universal do carinho. Amigos, como viver sem vocês?


2. Bala na cabeça (John Woo, 1990)



O foco está sobre três amigos de longa data cuja obstinação por uma vida mais confortável os empurra para longe da Hong Kong dos anos 60, cidade onde sempre moraram, e é justamente a busca insistente por ganhar suas vidas que, de variadas formas, os faz perdê-las. Ben (Tony Leung Chiu-Wai), Paul (Waise Lee) e Frank (Jacky Cheung) selaram um pacto de companheirismo e lealdade que parece inabalável, e mantém sua firmeza até onde o dinheiro permite. É quando o vil metal entra em cena que todos os anos de experiências em comum acumuladas parecem jamais ter existido. Baseado em uma premissa de apelo universal, Woo concebeu um longa-metragem pungente em que há muito mais balas do que singular do título faz supor. O cineasta não economiza munição e coloca seus personagens em situações-limite que testam constantemente sua resistência e desafiam sua fidelidade um ao outro. Para além de toda a violência a que os espectadores de filmes de ação se habituaram, Bala na cabeça é uma história de feridas abertas e nunca totalmente cicatrizadas, que laceram muito mais do que uma infinidade de disparos.

3. Um sonho de liberdade (Frank Darabont, 1994)



Acima de tudo, Um sonho de liberdade é um filme que trata sobre o quanto é importante não perder a esperança, e a conciliar esse sentimento com uma conduta pró-ativa, lição áurea para qualquer ser humano, independente de suas demais crenças particulares. E, na trilha difícil que Andy (Tim Robbins) percorre, é fundamental ter com quem contar, o que ele encontra em Red (Morgan Freeman), um homem capaz de pequenas negociatas com os colegas e que obtém qualquer material que lhe peçam. Fica nítido o quanto ele gostou de Andy gratuitamente, numa demonstração de empatia imediata, que só não é rapidamente desdobrada por conta da opção inicial de Andy pela distância. Passado esse gelo, podemos enxergar o carinho e a preocupação de um com o outro, e um desejo de ver o mundo externo de novo, mesmo que seja para morrer logo em seguida. 

4. Mary & Max - Uma amizade diferente (Adam Elliot, 2009)



Uma das mais gratas surpresas do ano de 2010 foi, sem sombra de dúvida, Mary e Max -Uma amizade diferente. A animação australiana, dirigida por Adam Elliott, é simplesmente um grande achado em termos de narrativa, de enredo e de como tocar fundo o coração de qualquer ser humano, mesmo aqueles que parecem não ter um. [...] Tudo começa quando Mary, uma garotinha retraída e solitária de 8 anos,começa a aumentar seus questionamentos sobre o mundo e as pessoas. Incapaz de se relacionar normalmente com os colegas de sua escola, ela decide começar a se corresponder com uma pessoa escolhida ao acaso em uma lista telefônica. Para quem imaginava uma animação nos moldes daquelas produzidas pela Disney/Pixar ou pela Dream Works, a surpresa já começa pelo início da sinopse, comentado acima. E Mary e Max - Uma amizade diferente, vai muito além disso. Na verdade, logo se percebe que o filme, apesar de um animação, não é exatamente recomendável para todos os públicos, já que oferece um tipo de reflexão de que, normalmente, filmes desse "nicho" não dão conta. 

5. 3 idiotas (Rajkumar Hirani, 2009)



Com uma narrativa tão longa, sobra tempo e ocasião para 3 idiotas discutir amizade e várias outras questões, como o direito dos filhos à escolha de seus caminhos, promovida através de Farhan, que alimenta o sonho de ser fotógrafo e só está cursando engenharia por causa do pai, e também de Raju, que toma uma atitude drástica ao ver que corre o sério risco de desapontar a mãe necessitada, que aposta todas as fichas em sua graduação. Não faltam momentos em que pode ser muito difícil segurar as lágrimas, já que o cuidado e o apreço dos amigos um pelo outro é incondicional e se traduz em gestos emocionantes, como fazer uma festa para um deles voltar à consciência. O grande herói da história é mesmo Rancho, interpretado por um dos atores mais requisitados do país, que também exibe vocação para galã com sua estampa visualmente agradável, por assim dizer. Sua figura já foi até matéria-prima de uma monografia da área de Comunicação Social que versa justamente sobre a representação do herói, mais um atestado do valor do filme para além de algumas horas de entretenimento - embora cumprir esse papel já o legitimasse o suficiente. 

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