BALANÇO MENSAL - ABRIL

A vida anda corrida e eu ando cansado. Como consequência, o balanço de abril bate recorde de atraso entre os balanços e, por isso, vou ser bem mais sucinto com o texto introdutório e os ocupantes do pódio. O mês trouxe nomes importantes em produções nem sempre ótimas, e vale destacar - para o bem e para o mal - realizadores como John Boorman, Peter Greenaway (de quem oficialmente desisti depois de um terceiro filme fraco), Sidney Pollack, Naomi Kawase e Claire Denis. Vamos então aos vistos, revistos e melhores naquelas categorias já tradicionais.


PÓDIO 

MEDALHA DE OURO

Um lugar silencioso (John Krasinski, 2017)


Quebrei o jejum de nota 10 depois de mais de 1 ano - desde Aquarius (idem, 2016) - porque não há pontos realmente negativos a citar em Um lugar silencioso. Dificilmente me enveredo pelo gênero terror, mas não me arrependi da chance que dei ao longa de Krasinski, que coloca uma família em uma situação limite: garantir sua sobrevivência em um cenário pós apocalíptico, sem referência locativa específica. O desafio é conseguir manter o silencio a maior parte do tempo, já que a ameaça à vida são seres devoradores com uma audição hipersensível. Pensado como um filme sobre a capacidade de um pai de ser eficiente em proteger seus filhos - como declarou Krasinski em uma entrevista - Um lugar silencioso foi concebido também para referenciar outras obras do gênero. Ao ler o roteiro do marido, Emily Blunt não teve dúvidas: o papel da mãe deveria ser dela. Seu pedido foi atendido e, como os demais integrantes do elenco, ela está excelente, e um dos momentos mais tensos da narrativa é sua cena de trabalho de parto, desde já antológica e candidata forte a uma das melhores do ano.

MEDALHA DE PRATA

Tropa de elite 2 (José Padilha, 2010)



Tão bom quanto o primeiro, o segundo longa sobre os meandros da Polícia e da política no estado do Rio de Janeiro já tem quase uma década de existência, mas ainda não perdeu um pingo de sua atualidade. Agora coronel, Nascimento (Wagner Moura) acredita que pode fazer mais por sua cidade devido à patente mais alta, porém o que encontra são outros mecanismos de corrupção que o levam à famosa sentença, usada à exaustão por aí não sem razão: O sistema é foda. Para cariocas, a realidade apresentada é bastante palpável, e Tropa de elite 2 acaba se mostrando como um documento da revolta de quem quer andar na contramão dos podres poderes e se encontra sempre em uma caminhada quixotesca, desafiando gente graúda que não suja as mãos, porém manda fazer sem uma fagulha de crise de consciência ou risco de punição. Quem insiste em ver o cinema brasileiro apenas como um braço da Globo, cheio de comédias besteirol, precisa rever seus conceitos diante de uma obra como essa.

MEDALHA DE BRONZE

O homem nas trevas (Fede Alvarez, 2015)



O terror e a claustrofobia se relacionam em O homem das trevas, e o resultado é um dos longas do gênero mais angustiantes dos últimos anos. Confinados em um espaço limitado, os jovens protagonistas querem roubar a fortuna de um idoso que vive sozinho há muitos anos em uma casa afastada da vizinhança. Eles acreditam que será muito fácil lesar o homem, certeza que é corroborada quando, uma vez dentro da casa, descobrem sua condição de deficiente visual. Mas as aparências enganam, e é a partir desse momento que a faceta aterrorizante do longa de Fede Alvarez -  uruguaio quarentão com experiência de roteirista e diretor em quatro filmes até o momento - começa a vir à tona. O título original também vai se tornando cada vez mais justificável: não respire. É aconselhável também evitar as longas piscadas, e uns bons sustos estão garantidos.

INÉDITOS


127. Duelo de titãs (John Sturges, 1959) -> 8.0
128. À queima-roupa (John Boorman, 1967) -> 7.5
129. O passageiro (Jaume Collet-Serra, 2017) -> 7.0
130. Afogando em números (Peter Greenaway, 1988) -> 5.0
131. Crimes na madrugada (Baran bo Odar, 2017) -> 7.5
132. Assassino a preço fixo (Michael Winner, 1972) -> 6.5


133. Entre dois amores (Sidney Pollack, 1985) -> 6.0
134. A última missão (Hal Ashby, 1973) -> 7.0
135. Um lugar silencioso (John Krasinski, 2017) -> 10.0
136. O insulto (Ziad Doueiri, 2017) -> 7.5
137. Esplendor (Naomi Kawase, 2017) -> 7.5
138. O especialista (Luis Llosa, 1994) -> 6.5
139. Deixe a luz do sol entrar (Claire Denis, 2017) -> 6.0



140. O massacre da serra elétrica (Tobe Hooper, 1974) -> 7.0
141. Tropa de elite 2 (José Padilha, 2010) -> 8.0
143. Ana, meu amor (Calin Peter Netzer, 2017)  -> 7.5
144. O autor (Manuel Martín Cuenca, 2017) -> 7.5
145. You were never really here (Lynne Ramsey, 2017) -> 6.0
146. Todo o dinheiro do mundo (Ridley Scott, 2017) -> 5.0
147. Jogador nº 1 (Steven Spielberg, 2017) -> 7.5


148. Um grito no escuro (Fred Schepsi, 1988) -> 7.0
149. Correndo atrás de um pai (Lawrence Sher, 2017) -> 5.0
150. Meu rei (Maiwënn, 2015) -> 8.0
151. Bicicletas de Pequim (Xiaoshuai Wang, 2001) -> 7.5
152. A morte lhe cai bem (Robert Zemeckis, 1992) -> 7.5
153. Planeta dos macacos: a origem (Rupert Wyatt, 2011) -> 7.0
154. Seres rastejantes (James Gunn, 2006) -> 7.5



155. A vingança está na moda (Jocelyn Moorhouse, 2015) -> 5.0
156. Barry Lyndon (Stanley Kubrick, 1975) -> 8.0
157. Os iniciados (John Trengove, 2017) -> 7.0
158. Amor e revolução (Florian Gallenberger, 2015) -> 6.5
159. The post: a guerra secreta (Steven Spielberg, 2017) -> 6.0
160. Madrugada dos mortos (Zack Snyder, 2004) -> 7.0



161. Valente (Mark Andrews, Brenda Chapman e Steve Purcell, 2012) -> 6.0
162. A enguia (Shohei Imamura, 1997) -> 7.0
163. O experimento de aprisionamento de Stanford (Kyle Patrick Alvarez, 2015) -> 5.0
164. Aniquilação (Alex Garland, 2017) -> 5.5
165. Lendas do crime (Brian Helgeland, 2015) -> 6.0

REVISTOS

A caça (Thomas Vinterberg, 2012) -> 9.0
A pele que habito (Pedro Almodóvar, 2011) -> 9.0
Mais um ano (Mike Leigh, 2010) -> 9.0
Rebobine, por favor (Michel Gondry, 2008) -> 8.0
Dublê de corpo (Brian De Palma, 1984) -> 9.0

MELHOR FILME: Um lugar silencioso
MELHOR DIRETOR: John Krasinski, por Um lugar silencioso
MELHOR ATRIZ: Emily Blunt, por Um lugar silencioso
MELHOR ATOR: Wagner Moura, por Tropa de elite 2
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Michelle Williams, por Todo o dinheiro do mundo
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Vincent Cassel, por Meu rei
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: John Krasinski, por Um lugar silencioso
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO:  William Makepeace Thackeray e Stanley Kubrick, por Barry Lyndon
MELHOR TRILHA SONORA: Jonny Greenwood, por You were never really here
MELHOR FOTOGRAFIA: Thomas Towned, por You were never really here
MELHOR CENA: O parto em Um lugar silencioso
MELHOR FINAL: Um lugar silencioso

Comentários

Postagens mais visitadas