BALANÇO MENSAL - JANEIRO

Este mês faz três anos que o pódio começou a aparecer nos balanços mensais, detalhe que o tornou um pouco mais longo e trabalhoso, porém no qual pretendo continuar insistindo. Janeiro deixou uma pá de filmes nota 8, o que tornou bastante difícil fechar os ocupantes da segunda e da terceira posição, enquanto a primeira foi garantida pelo único 8.5 que dei. O critério então passou a ser os dois nota 8 que mais me arrebataram e marcaram, e assim cheguei aos eleitos, podendo os demais serem considerados como menções honrosas. 

Enquanto em 2017 abri os trabalhos com um exemplar de terras italianas, este ano a longa caminhada cinematográfica teve seu pontapé inicial em solo japonês, com meu quarto Kyioshi Kurosawa, ao qual se sucederam nomes como James Ivory (um tanto abaixo das expectativas), Martin Scorsese (em um dos trabalhos menos típicos de sua carreira), George Cukor (num segundo contato mais proveitoso), William Wyler (provando que domina a arte das narrativas espacialmente restritas) e Todd Haynes (uma decepção ainda não digerida), só para citar brevemente alguns nomes. Cabe destacar também a forte presença feminina entre os diretores: foram nove no total, entre elas Kathryn Bigelow e Valerie Falls, um número significativo e que alia quantidade e qualidade. Segue a primeira leva de longas vistos e revistos em 2018!

PÓDIO

MEDALHA DE OURO

The square - A arte da discórdia (Ruben Östlund, 2017)


O realizador comemorou efusivamente sua Palma de Ouro no 69º Festival de Cannes, e tinha toda a razão. O prêmio máximo da mostra nunca tinha sido entregue a uma obra tão irreverente e de muitas ressonâncias morais, artísticas e sociológicas que provoca seu espectador do início ao fim. Não são poucas as situações absurdas a desafiar o status quo e provocar reações como o riso e o desconforto, sempre aliadas a ótimas interpretações, entre elas uma das atuais queridinhas do mundo das séries: Elizabeth Moss. Com The square, o realizador alfineta e dá tapas com luva de pelica no universo da arte, questionando o que pode ser enquadrado nesse rótulo. Aliás, o título original apresenta uma dubiedade, já que é traduzível por praça ou quadrado, mas o caso é o segundo mesmo, uma obra que está para ser lançada no museu do qual o protagonista é curador e precisa divulgar. Ao recorrer a uma empresa de marketing, eles realizam um trabalho de gosto, no mínimo, duvidoso, e daí surgem alguns dos achincalhes enfileirados por Östlund em pouco mais de duas horas de narrativa.

MEDALHA DE PRATA

Enquanto você dorme (Jaume Balagueró, 2011) 


Parece consenso que todos vivemos nossos momentos de felicidade, mas o protagonista de Enquanto você dorme coloca esse raciocínio em xeque com seu cotidiano absolutamente desprovido de tal sentimento. Em sua narração em off, ele declara que nunca se sentiu realmente feliz e tem enorme dificuldade para achar motivação que o faça se levantar da cama todos os dias. Seu semblante carregado é incapaz de esboçar sorrisos além daqueles que indicam cordialidade, e também esses são vazios porque, uma vez sem qualquer experiência em ser feliz, a empatia com quem o é permanece sempre a nível zero. Pior é que ele ocupa a função de porteiro do prédio onde mora, e lhe incomoda especialmente uma nova moradora, que segue com expressão de alegria mesmo com os reveses que enfrenta. Ele então declara uma guerra silenciosa àquela cujo único "erro" foi demonstrar felicidade, e e em cima dessa ideia se constrói o suspense de dar nos nervos (bom ou mau sentido, a depender do momento), que reserva momentos realmente surpreendentes e traz uma brilhante atuação de Luis Tosar, mais do que crível em seu personagem nada heróico.

MEDALHA DE BRONZE

O amante de um dia (Philippe Garrel, 2017)


Na atividade de realização cinematográfica desde os anos 60, Philippe Garrel não faz a menor questão de fugir de um certo anacronismo na concepção formal de seus longas, escolha que gera efeitos particulares no público contemporâneo, avesso a caminhadas lentas onde "nada acontece". Suas histórias sempre acabam versando sobre o mal de amar, que vem basicamente do fato de que o amor, ao menos o que se vivencia pelos seres humanos, é o sentimento mais imprevisível que existe. Em O amante de um dia quem sente o peso dessa verdade é Jeanne (Esther Garrel, filha do diretor), chorosa enquanto enfrenta o término de um relacionamento no qual estava inteiramente mergulhada. De volta à casa do pai, um professor universitário envolvido com uma estudante, ela encontra um ouvido para seus desabafos e uma interlocutora para suas questões de coita amorosa, termo que procede do Trovadorismo e encontra guarida na proposta de cinema da qual Garrel pai segue como estandarte e arvora a cada dois ou três anos, para felicidade de uma parcela da população cinéfila.

INÉDITOS

1. Sonata de Tóquio (Kyioshi Kurosawa, 2008) -> 7.5
2. Com amor, Van Gogh (Dorota Kobiela e Hugh Welchman, 2016) -> 5.0
3. Um clarão nas trevas (Terence Young, 1967) -> 7.0
4. Uma janela para o amor (James Ivory, 1985) -> 6.5
5. Detroit em rebelião (Kathryn Bigelow, 2017) -> 8.0
6. A região selvagem (Amat Escalante, 2016) -> 7.0
7. Silêncio (Martin Scorsese, 2016) -> 8.0


8. Fúria sanguinária (Raoul Walsh, 1949) -> 8.0
9. O guarda (John Michael McDonaugh, 2011) -> 8.0
10. Extraordinário (Stephen Chbosky, 2017) -> 8.0
11. Nascida ontem (George Cukor, 1950) -> 7.5
12. The square - A arte da discórdia (Ruben Östlund, 2017) -> 8.5
13. The whispering star (Shion Sono, 2015) -> 8.0



14. O incidente no Nile Hilton (Tarik Saleh, 2017) -> 7.0
15. Joaquim (Marcelo Gomes, 2017) -> 7.0
16. Viva - A vida é uma festa (Lee Unkrich e Adrian Molina, 2017) -> 8.0
17. Terra fria (Niki Caro, 2005) -> 7.5
18. A guerra dos sexos (Valerie Falls e Jonathan Dayton, 2017) -> 7.0
19. O amante de um dia (Philippe Garrel, 2017) -> 8.0
20. Chaga de fogo (William Wyler, 1951) -> 8.0




21. O efeito aquático (Sólveig Anspach e Jean-Luc Gaget, 2016) -> 7.5
22. Victoria e Abdul - O confidente da rainha (Stephen Frears, 2017) -> 7.0
23. Alien 3 (David Fincher, 1992) -> 7.5
24. Colo (Teresa Villaverde, 2017) -> 7.0
25. A hora do rush (Brett Ratner, 1998) -> 5.0
26. Conspiração e poder (James Vanderbilt, 2015) -> 7.0
27. A carruagem de ouro (Jean Renoir, 1952) -> 7.0
28. Sem fôlego (Todd Haynes, 2017) -> 4.0



29. Bingo - O rei das manhãs (Daniel Rezende, 2017) -> 7.5
30. A vilã (Byung-gil Jung, 2017) -> 6.0
31. A um passo da eternidade (Fred Zinemann, 1953) -> 8.0
32. Souvenir (Bavo Defurne, 2016) -> 7.0
33. Enquanto você dorme (Jaume Balagueró, 2011) -> 8.0
34. Caindo na real (Ben Stiller, 1994) -> 6.0
35. Lágrimas sobre o Mississipi (Dee Rees, 2017) -> 7.5



36. Tempo de despertar (Penny Marshall, 1990) -> 8.0
37. 2000 léguas submarinas (Richard Fleischer, 1954) -> 7.5
38. O idiota (Yuriy Bykov, 2014) -> 8.0
39. Infância clandestina (Benjamín Ávila, 2011) -> 6.0
40. Paris pode esperar (Eleanor Coppola, 2016) -> 7.0



41. Western (Valeska Grisebach, 2017) -> 4.0
42. Um sábado violento (Richard Fleischer, 1955) -> 8.0
43. O homem que incomoda (Jens Lien, 2006) - 7.0
44. A troca (Clint Eastwood, 2008) -> 7.5
45. Projeto Flórida (Sean Baker, 2017) -> 7.0

REVISTOS

Paris, te amo (Gurindher Chadcha, Sylvain Chomet, Wes Craven, Ethan e Joel Coen, Alexander Payne e outros, 2006) -> 7.5
Paris, Texas (Wim Wenders, 1984) -> 8.5
2 dias em Paris (Julie Delpy, 2007) -> 7.5
Amor em cinco tempos (François Ozon, 2004) -> 7.5
Trem mistério (Jim Jarmusch, 1989) -> 8.5

MELHOR FILME: The square - A arte da discórdia
MELHOR DIRETOR: Jaume Balagueró, por Enquanto você dorme
MELHOR ATRIZ: Judie Holliday, por Nascida ontem
MELHOR ATOR: Luis Tosar, por Enquanto você dorme
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Julia Roberts, por Extraordinário
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Ernest Borgnine, por A um passo da eternidade
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Ruben Östlund, por The square - A arte da discórdia
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Martin Scorsese e Jay Cocks, por Silêncio
MELHOR FOTOGRAFIA: The whispering star
MELHOR TRILHA SONORA: Viva - A vida é uma festa
MELHOR CENA: A canção da infância que desperta a memória da bisavó em Viva - A vida é uma festa
MELHOR FINAL: A um passo da eternidade

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