Balanço Mensal - ABRIL

Com o fim de mais um mês, chega o momento de fazer uma retrospectiva de todos os filmes vistos  no período acompanhados de suas respectivas notas. Abril se mostrou um mês com ótimas escolhas no geral, sobretudo nas idas ao Cinema. A visitante francesa, de Hang Song-Soo, e O abismo prateado, de Karim Aïnouz, foram dois dos melhores filmes do mês, ambos vistos na tela grande. O outro melhor filme acabou sendo visto em DVD: O medo devora a alma, meu primeiro Rainer Werner Fassbinder. Portanto, comecei a visitar a filmografia do realizador alemão morto precocemente com o pé direito. E que venham outros bons filmes seus.
 
Por outro lado, houve alguns desapontamentos, e o maior deles foi com O vento nos levará, de Abbas Kiarostami. Com esse terceiro exemplar de seu Cinema passado em sua terra natal, pude me dar conta de que até gosto de seus filmes ambientados no Irã, mas ele ficou mais interessante quando rompeu fronteiras e rodou Cópia fiel e Um alguém apaixonado. Outro que tinha uma premissa empolgante e acabou enfadando foi Budapeste, estreia de Walter Carvalho na direção de longas ficcionais. A adaptação do romance homônimo de Chico Buarque soou como um desagradável exercício de pedantismo.
 
À parte esses extremos positivos e negativos, os demais filmes foram apenas bons ou muito bons, dentro de um horizonte de expectativas quase totalmente contemplado. Foi o caso de Três homens em conflito, último tomo da Trilogia dos Dólares de Sergio Leone, e A teia de chocolate, de Claude Chabrol, com uma Isabelle Huppert atuando numa espécie de zona de conforto.
 
Abaixo, é possível conferir a lista completa dos filmes que vi, suas notas e um brevíssimo comentários que, de certa forma, as justificam. Logo em seguida, os melhores do mês nas categorias que julgo mais importantes e, portanto, dignas de destaque.
 
LONGAS:

1. Mama (2013), de Andy Muschietti - 6.0
 
Os bons sustos fazem jus a gênero e compensam os furos básicos do roteiro. De quebra, prova a versatilidade de Jessica Chainstain, quase irreconhecível como a garota descolada cuja visão se transforma.

2. As estranhas coisas de Paris (1956) - 5.0
 
Frívolo como a típica aristocracia, desanda por investir em uma abordagem rocambolesca dos conflitos. A sátira, por sua vez, é tão discreta que perde seu efeito. 

3. Desde que Otar partiu (2003) - 8.0 

Desde que Otar partiu (2003)
 
 
Uma narrativa guiada pela delicadeza que investiga as derivações de uma mentira e descortina uma Europa longe de qualquer edulcoração. Apostando no minimalismo em suas interpretações, o trio ganha a empatia e a compreensão do público.
 
4. Vejo você no próximo verão (2010) - 7.0
 
É sobre gente comum e seus problemas de relacionamento, sem firulas nem floreios e tendo como norte a introspecção quebrada por raros e fundamentais instantes catárticos.
 
5. O céu de Suely (2006) - 8.5
Quando partir importa mais do que chegar.
 
6. Swimming pool - À beira da piscina (2003) - 7.5
 
De uma premissa simples, Ozon extrai desdobramentos que prendem a atenção, mesmo que aposte em uma reviravolta banal demais. Sagnier, por sua vez, é a encarnação da luz solar com sua desinibida Julie.

7. A visitante francesa (2012) - 9.0

Com sua geometria analítica, Sang-soo depura a lógica que parece subjazer às relações humanas, brincando de traçar linhas descontínuas e, ao mesmo tempo, contíguas, sobre a deriva dos sentimentos.

8. O retorno (2003) - 8.0  
O retorno (2003)

Sob um filtro plúmbeo, aspereza e silêncios se alternam em uma narrativa lacunar, sempre aberta a inferências. Uma louvável estreia de um realizador em franco diálogo com Tarkovsky e um elenco em portentosas interpretações.

 

9. Trinta anos esta noite (1963) - 8.0

O caminhar solitário por entre as gentes.

10. O vento nos levará (1999) - 5.5

Abraça o hermetismo e se revela um círculo vicioso de comunicações truncadas, um tema habitual na filmografia do realizador. Não fossem alguns pequenos momentos, seria uma obra demasiado genérica.

11. Budapeste (2009) - 4.0

A composição imagética esmerada se sobressai à trama: gélida, distante e tediosa. Não basta uma bela forma se o conteúdo recebe um tratamento inócuo.

12. Três homens em conflito (1966) - 7.0

A pontaria afiada do Pistoleiro Sem Nome continua rendendo bons tiros nesta nova aventura em que esperteza nunca é demais. Um bom desfecho para uma trilogia capaz de conquistar mesmo quem não morre de amores pelo western spaghetti.

13. Thelma & Louise (1991) - 6.0 
Thelma & Louise (1991)

Cada vez mais loucas, Thelma e Louise dirigem estrada afora sem medo de assumirem riscos. Nessa jornada insana, o brilho é todo de Sarandon e Davis, no auge da boa forma e exalando química em cena. Pena que o roteiro, por vezes, não colabore.

14. Kika (1993) - 6.5

Tem momentos hilários, como a armação do roubo, mas se estende na duração e perde o fôlego por volta dos vinte minutos finais. Almodóvar tem melhores.

15. O sacrifício (1986) - 8.0

Diante da iminência do fim, como reagir? Em quê acreditar? Em seu derradeiro longa, Tarkovsky produziu um ensaio desnorteante sobre o crepúsculo da vida.

16. 3 homens e uma noite fria (2008) - 7.0

Amigos para o riso, amigos para o choro.

17. O medo devora a alma (1974) - 9.0

Fassbinder lança um olhar afetivo sobre duas pessoas habituadas à margem e envolve com uma trama simples que, infelizmente, ainda traz muita atemporalidade. O título carrega consigo uma verdade bela e dolorida.

18. Regras da vida (1999) - 8.0

Viver traz sempre grandes lições, e cada uma delas é melhor aprendida quando se tem as próprias experiências, assim como demonstra este belo exemplar de Cinema dramático.

19. A teia de chocolate (2000) - 6.5 
A teia de chocolate (2000)

Um suspense frustrante que tem pouco a dizer e se desenvolve de forma atabalhoada nos minutos finais. Até mesmo Huppert está apenas correta.

20. Maldito coração (2004) - 5.0

O coração é traiçoeiro acima de todas as coisas. Em português, tiraram a melhor coisa do filme: a tradução do título original. Restou uma trama que parece ter sido escrita unicamente para chocar com cenas e atos bizarros.

21. Mister Lonely (2007) - 8.0

Em meio a passagens hilárias (as freiras em queda livre são um achado), relembra que todos são únicos e que a solidão é parte da condição humana. O prólogo e a cena dos ovos são memoráveis nesse sentido.

22. Kansas city (1996) - 6.0

Um Altman à beira da apatia com dois ou três momentos genuinamente irônicos. Sua habitual polifonia se mostra aqui mais dispersa que o esperado.

23. Vocês ainda não viram nada! (2012) - 8.5 
Vocês ainda não viram nada! (2012)


As estripulias de um diretor inquieto e provocativo, que enxerga a vida como uma eterna encenação.

24. Querida, vou comprar cigarros e já volto (2011) - 8.0

Na oferta de retorno ao passado que o protagonista aceita, surge o seu confronto com a própria mediocridade. Cohn e Duprat chamam a atenção com sua mistura de humor amargo e crítica ao nosso tempo.

25. O enigma de outro mundo (1982) - 8.0

A atmosfera de paranoia e sobressalto funciona plenamente, assim como a escolha de Carpenter por um registro que exala certo amadorismo. Suspense de primeira linha

26. A viagem dos comediantes (1975) - 7.0

Um tour de force pelo lado pouco analisado da história de um país cuja cultura antiquíssima pauta ainda hoje o pensamento ocidental. No longo percurso, belas canções e algumas cenas comoventes e revoltantes.

27. A outra Terra (2011) - 8.0

Culpa e remorso correndo em paralelo com uma trama de realismo fantástico que levanta uma instigante questão: como seria lidar com um outro eu? A fotografia azulada injeta beleza ao singelo drama.

28. O abismo prateado (2011) - 9.0

O (des)amor (des)orienta, (des)estabiliza, (des)espera.

CURTAS:

Arena (2009) - 6.0

A conclusão fica por conta do espectador, que testemunha o recorte de um mundo regido pela lei do mais forte desenvolvido de modo cambaleante.

Dimanche (2011) - 8.0

O traço de cores frias dá o tom de uma pequena história sobre a dificuldade das crianças em entender certos rituais dos adultos. Simpático e bem desenvolvido.

MELHOR FILME: O abismo prateado
PIOR FILME: Budapeste
MELHOR DIRETOR: Hong Sang-Soo, por A visitante francesa
MELHOR ATRIZ: Alessandra Negrini, por O abismo prateado
MELHOR ATOR: Erland Josephson, por O sacrifício
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Samantha Morton, por Mister Lonely
MELHOR ATOR COADJUVANTE: João Miguel, por O céu de Suely
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Harmony Korine e Avi Korine, por Mister Lonely
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Beatriz Bracher, por O abismo prateado
MELHOR FOTOGRAFIA: O sacrifício
MELHOR TRILHA SONORA: Jason Spaceman, por Mister Lonely
MELHOR MONTAGEM: A visitante francesa
MELHOR CENA: A dança de Violeta na boate em O abismo prateado
MELHOR FINAL: O sacrifício

MENÇÃO HONROSA: A visitante francesa
MENÇÃO DESONROSA: Maldito coração


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