BALANÇO MENSAL - JULHO

A caminhada cinematográfica segue avante! Em mais um mês cheio de filmes, não pode faltar o balanço com todos os vistos e revistos, bem como os melhores em algumas categorias, tradição que já mantenho há cinco anos. É importante assinalar que depois de três balanços atrasados devido a uma junção de cansaço e pouco tempo disponível, com este de julho eu volto aos trilhos e apresento no devido tempo o que vi do cinema em mais uma porção de 31 dias. E parece que as escolhas também voltaram a andar mais na linha, porque surgiram ótimos filmes para tornar mais disputado o fechamento do pódio, que acabou ficando multinacional, e essa diversidade é um fato que me agrada bastante.

No geral, posso afirmar que julho foi um mês de mais acertos que erros, superando a sequência de decepções e perdas de tempo que prevaleceram nos últimos três meses. Assim como a quantidade: foram vários dias em que consegui assistir a dois filmes. Entre os nomes que considero dignos de destaque, estão Brian De Palma - dessa vez como retratado, e não como condutor da cena -, Andrea Pallaoro e seu retrato da solidão aberto a inferências, Kyoshi Kurosawa e sua tendência ao insólito com ressonâncias realistas, e Wes Anderson, nem tão em boa forma assim, mas ainda merecendo atenção.

PÓDIO

MEDALHA DE OURO

Dívida de honra (Tommy Lee Jones, 2014)


Até agora, Tommy Lee Jones investiu quatro vezes na carreira de cineasta, e desse total estou em dia com a metade. Exibido em Cannes, Dívida de honra é um tributo muito bem realizado ao que cada pessoa ainda guarda de humano dentro de si, equilibrando com cuidado e método a razão e a emoção. Na pele de um posseiro que não consegue comprovar que uma casa é sua e passa ser perseguido, ele é salvo da morte por uma dona de casa (Hillary Swank) destemida, à qual foi confiada a missão de escoltar três mulheres acometidas de distintos tipos de desordem mental. Em troca, ele se compromete a ajudá-la nessa longa empreitada, sujeita às intempéries da natureza e que vai obrigá-los a uma convivência nem sempre muito fácil. Valendo-se de um estilo clássico, Lee Jones consegue nos remeter à moda antiga sem soar datado, e entrega um conto de momentos e diálogos marcantes, queimando a língua de quem insiste em dizer que os bons filmes ficaram no passado. Alguns nomes do elenco figuram apenas em participações especiais, como Meryl Streep, que surge quase no finzinho como a benfazeja cristã.

MEDALHA DE PRATA

Os olhos de Julia (Guillem Morales, 2010)


Quando um bom roteiro é filmado, as chances de sair um resultado de qualidade são altas, e felizmente é caso aqui. A narrativa acompanha uma mulher que não se convence de que a irmã gêmea cometeu suicídio, e decide investigar se está com a razão mesmo a contragosto do marido e com as circunstâncias apontando para a versão oficial. Num crescente de medo e agonia, porém sem deixar o espírito inquiridor de lado, ela vai adiante e mergulha em um mundo de sombras, tendo que confiar cada vez menos em seus olhos, devido a uma doença degenerativa, a mesma de que sofria a irmã. Ambas são vividas pela espetacular Belén Rueda, cuja beleza não ofusca a grande atuação e de quem nos tornamos cúmplices incondicionais porque nosso faro também diz o tempo todo que algo está errado. Escrito por Oriol Paulo - que viria a nos entregar O corpo (2012) e Um contratempo (2016), também como diretor - e Guillem Morales, também realizador, Os olhos de Julia mexe com os nervos e garante o suspense até o fim, respondendo a certas perguntas de modo menos óbvio e figurando entre os grandes desta década em seu gênero predominante.

MEDALHA DE BRONZE

Arábia (João Dumans e Affonso Uchoa, 2017)



Existe vida inteligente e sensível pulsando no cinema nacional, e eis aqui uma prova dessa verdade. Contando com um argumento extremamente simples e narrativa idem, Arábia desvenda parte da história de vida de um homem comum, que tem seus escritos achados casualmente por um garoto que começa a lê-los. Ao abdicar de qualquer firula no conteúdo e na forma, a dupla de diretores faz emergir o que há de humano - e, portanto, universal - na jornada de Cristiano (Aristides de Sousa), mineiro que, como grande parte de seus conterrâneos, tem aquele olhar desconfiado e a mansidão na fala. O roteiro, porém, não abre espaço para estereótipos, como a afirmação da oração anterior poderia levar a crer. Tudo é calcado na suavidade e na paciência, e essas características fazem de Arábia um filme que conquista devagar, e vai ganhando espaço na memória de longo prazo também porque cada um de nós tem um pouco de Cristiano: sorte, reveses, medos, arrependimentos, lembranças, dores, pequenas alegrias. A vida tem porções de tudo isso e mais para todos. Sousa já tinha mostrado seu talento para tipos naturalistas em A vizinhança do tigre (idem, 2014), e aqui também serve de amostra da tenebrosa realidade proletária brasileira.

INÉDITOS

LONGAS

224. A família (Luc Besson, 2013) -> 6.5
225. A cordilheira (Santiago Mitre, 2017) -> 7.5
226. My way, o mito além da música (Florent Emilio-Siri, 2012) -> 7.0
227. De Palma (Noah Baumbach e Jake Paltrow, 2015) -. 7.0
228. Um negócio de risco (Jackie Earle Haley, 2015) -> 6.5



229. Homem Formiga e a Vespa (Peyton Reed, 2018) -> 7.0
230. Não ultrapasse (Adam Smith, 2016) -> 6.0
231. Arábia (João Dumans e Affonso Uchoa, 2017)
232. Selvagens (Oliver Stone, 2012) -> 7.0
233. Custódia (Xavier Legrand, 2017) -> 8.0
234. Mulheres alteradas (Luíz Pinheiro, 2018) -> 6.0


235. Os 33 (Patricia Riggen, 2015) -> 6.0
236. Os agentes do destino (George Nolfi, 2011) -> 6.0
237. Hannah (Andrea Pallaoro, 2017) -> 8.0
238. Os olhos de Julia (Guillem Morales, 2010) -> 8.5
239. O pescador de ilusões (Terry Gilliam, 1991) -> 7.0
240. Dívida de honra (Tommy Lee Jones, 2014) -> 8.5
241. Antes que tudo desapareça (Kyoshi Kurosawa, 2017) -> 8.0


242. Presságios de um crime (Afonso Poyart, 2015) -> 5.5
243. Ilha dos cachorros (Wes Anderson, 2017) -> 7.0
244. Superman: o filme (Richard Donner, 1978) -> 6.5
245. Uma quase dupla (Marcus Faustini, 2018) -> 6.0
246. Sala verde (Jeremy Saulnier, 2015) -> 2.0
247. Mar aberto (Chris Kentis, 2003) -> 8.0


248. Tinha que ser ele? (John Hamburg, 2016) -> 5.0
249. Dark crimes (Alexandros Avranas, 2016) -> 7.0
250. Tully (Jason Reitman, 2018) -> 7.5
251. Foxtrot (Samuel Maoz, 2017) -> 6.0
252. Batman begins (Christopher Nolan, 2005) -> 7.0



253. O mercador de almas (Martin Ritt, 1958) -> 8.0
254. Comeback - Um matador nunca se aposenta (Erico Rassi, 2017) -> 8.0
255. Missão impossível - Efeito fallout (Christopher McQuarrie, 2018) -> 7.5
256. Antes só do que mal acompanhado (John Hughes, 1987) -> 8.0
257. Por aqui e por ali (Ken Kwapis, 2015) -> 4.5
258. Miss Bala (Gerardo Naranjo, 2011) -> 7.5
259. Calvário (John Michael McDonagh, 2014) -> 7.5

REVISTOS

Quero ser John Malkovich (Spike Jonze, 1999) -> 9.0
O amor não tira férias (Nancy Meyers, 2006) -> 8.0
Para Roma, com amor (Woody Allen, 2012) -> 7.5
O labirinto do fauno (Guillermo del Toro, 2006) -> 8.5

MELHOR FILME: Dívida de honra
PIOR FILME: Por aqui e por ali
MELHOR DIRETOR: Tommy Lee Jones, por Dívida de honra
MELHOR ATRIZ: Belén Rueda, por Os olhos de Julia
MELHOR ATOR: Jérémie Renier, por My way - O mito além da música
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Meryl Streep, por Dívida de honra
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Orson Welles, por O mercador de almas
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: João Dumans e Affonso Uchoa, por Arábia
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Tommy Lee Jones, Kieran Fitzgerald e Wesley A. Oliver, por Dívida de honra
MELHOR FOTOGRAFIA: Dívida de honra
MELHOR TRILHA SONORA: Dívida de honra
MELHOR CENA: A decisão de continuar o transporte em Dívida de honra
MELHOR FINAL: Arábia

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