BALANÇO MENSAL - MARÇO

Chegou mais um balanço de filmes vistos e revistos, e mais uma vez o cinema oriental ganha destaque ocupando o lugar mais alto do pódio de março. Ainda estou em jejum de nota 10, mas ótimos títulos passaram diante dos meus olhos ao longo do terceiro mês do ano, em que já ultrapassei a marca dos 130 filmes. A cada ano que passa, me sinto um cinéfilo mais voraz, e essa sensação se traduz em quantidade, a qual, peneirada, deixa bons exemplares de cinema. Entre os diretores que desfilaram em março posso destacar queridinhos como Paul Thomas Anderson, Ken Loach, Aki Kaurismäki e Fatih Akin, este último um pouco longe de sua melhor forma, mas ainda digno de atenção.

MEDALHA DE OURO

Paradoxo (Wilson Yip, 2017)



Não é de hoje que o cinema oriental vem dando um banho em Hollywood, especialmente no terreno dos suspenses e dos policiais. O segundo gênero é talentosamente explorado em Paradoxo, que acompanha o desespero de um pai, negociador da polícia, diante do desaparecimento da filha. No passado, ele já havia perdido a esposa em um acidente e passou a ter apenas a garota de companhia, daí sua disposição insaciável para localizá-la. O que de melhor o roteiro oferece são as cenas de perseguição e a pancadaria muito bem coreografada. Uma sequência em especial é de deixar o fôlego suspenso, quando um dos suspeitos tenta escapar do cerco do protagonista - a essa altura junto com um aliado - e eles correm por vários minutos feito cão e gato. Ação da melhor qualidade e com muita substância: é só ficar de olho nos exemplares orientais.

MEDALHA DE PRATA

Trama fantasma (Paul Thomas Anderson, 2017)



Anunciado como a despedida de Daniel Day-Lewis do ofício de ator, Trama fantasma é um filme calcado em detalhes. Narrado sem pressa, pode entediar boa parte do público, especialmente em sua primeira hora, quando focaliza o cotidiano de gestos e hábitos impávidos de Reynolds Woodcock, alfaiate de mão cheia atento a qualquer milímetro fora do lugar em suas luxuosas criações para a alta sociedade de sua época - pormenores que outros deixariam passar ou não perceberiam. Sua jornada friamente calculada sofre alterações quando ele se envolve com Alma (Vicky Krieps, em interpretação vigorosa), garçonete simples, mas longe de ser ingênua. Lentamente, PTA vai desenrolando sua trama, levando seus personagens por caminhos inquietantes e revelando um relacionamento de estranha interdependência e aberto a mais de uma leitura. Está um pouco abaixo de joias como Magnólia (Magnolia, 1999), Sangue negro (There will be blood, 2007) e O mestre (The master, 2012), mas não se enganem: tanto Day-Lewis quanto PTA ainda têm muita lenha para queimar. Pena que o primeiro tenha optado por interromper esse processo.

MEDALHA DE BRONZE

Maudie (Aisling Walsh, 2016)




Sally Hawkins esteve entre as indicadas ao Oscar de melhor atriz por seu desempenho em A forma da água (The shape of water, 2017) com grande justiça. Poderia ter levado o prêmio, inclusive. Mas a Academia papou mosca ano passado ao não colocá-la entre as cinco premiáveis por seu papel em Maudie. Em cada trejeito, olhar e fala, essa londrina consegue imprimir uma personalidade marcante pertencente à mulher que encarna, em quem a vida pregou muitas peças. Depois de adulta, ela descobre um delicado talento pela pintura, mas, em paralelo, trava uma luta contra o avanço de uma artrite reumatoide. Em seu caminho também surge Everett (Ethan Hawke, subestimado), com quem desenvolve um relacionamento abusivo e que traz as cenas mais incômodas do longa, cuja direção coube ao pouco conhecido Aisling Walsh. A entrega de Hawkins é imensa, e a torna uma das mais brilhantes atrizes de sua geração, que vem mostrando o quanto é capaz desde que foi escalada por Mike Leigh para Agora ou nunca (All or nothing, 2002).

INÉDITOS

86. Invasores de corpos (Philip Kaufman, 1978) -> 6.5
87. O artista do desastre (James Franco, 2017) -> 7.5
88. Mad world (Chun Wong) -> 7.0
89. Não me mandem flores (Norman Jewinson, 1964) -> 7.0
90. Eu, Tonya (Craig Gillespie, 2017) -> 8.0
91. Apenas um beijo (Ken Loach) -> 7.5



92. Trama fantasma (Paul Thomas Anderson, 2017) -> 8.0
93. Quando o dia chegar (Jesper W. Nielsen, 2016) -> 7.0
94. Una (Benedict Andrews, 2016) -> 5.0
95. Mulheres do século XX (Mike Mills, 2016) -> 6.0
96. O que é que há, gatinha? (Clive Donner e Richard Talmadge, 1965) -> 6.0
97. Fidelidade sem limite (Michael R. Roskam, 2017) -> 7.0



98. Pai em dose dupla 2 (Sean Anders, 2017) -> 6.0
99. Uma noite e tanto (Gavin Wiesen, 2017) -> 7.0
100. Uma espécie de família (Diego Lerman, 2017) -> 5.0
101. O segundo rosto (John Frankenheimer, 1966) -> 7.5
102. Paradoxo (Wilson Yip, 2017) -> 8.5
103. A hora do rush 3 (Brett Ratner, 2007) -> 6.5



104. O touro Ferdinando (Carlos Saldanha, 2017) -> 5.0
105. Rebeldia indomável (Stuart Rosenberg, 1967) -> 7.5
106. Maudie (Aisling Walsh, 2016) -> 8.0
107. Hamlet vai à luta (Aki Kaurismäki, 1987) -> 7.0
108. Em pedaços (Fatih Akin, 2017) -> 7.0
109. O leão no inverno (Anthony Gilbert, 1968) -> 8.0
110. Five nights in Maine (Marris Curan, 2015) -> 7.5



111. O bom gigante amigo (Steven Spielberg, 2016) -> 4.0
112. Andando (Hirokazu Kore-eda, 2008) -> 8.0
113. Uma sombra passou por aqui (Jack Smight, 1969) -> 5.0
114. Tom of Finland (Dome Karukoksi, 2017) -. 6.0
115. Spartan (David Mamet, 2004) -> 6.5
116. Terremoto - A falha de San Andreas (Brad Peyton, 2015) -> 6.0
117. Twentynine palms (Bruno Dumont, 2003) -> 0.0
118. Love story - Uma história de amor (Arthur Hiller, 1970) -> 7.0



119. Tropa de elite (José Padilha, 2007) -> 8.0
120. Plano de voo (Robert Schwentke, 2005) -> 7.0
121. Voo noturno (Wes Craven, 2005) -> 7.0
122. Vidas que se cruzam (Guillermo Arriaga, 2008) -> 6.5
123. Ninguém sabe dos gatos persas (Bahman Gohbadi, 2009) -> 7.0
124. A longa caminhada (Nicolas Roeg, 1971) -> 7.5
125. Um senhor estagiário (Nancy Meyers, 2015) -> 7.0
126. Happy end (Michael Haneke, 2017) -> 6.0

REVISTOS


Onze homens e um segredo (Steven Soderbergh, 2001) -> 7.0
Doze homens e outro segredo (Steven Soderbergh, 2004) -> 6.0
Treze homens e um novo segredo (Steven Soderbergh, 2007) -> 7.0
História real (David Lynch, 1999) -> 9.0
A comunidade (Álex de la Iglesia) -> 8.5

MELHOR FILME: Paradoxo
PIOR FILME: Twentynine palms
MELHOR DIRETOR: Wilson Yip, por Paradoxo
MELHOR ATRIZ: Sally Hawkins, por Maudie
MELHOR ATOR: Daniel Day-Lewis, por Trama fantasma
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Dianne Wiest, por Five nights in Maine
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Ethan Hawke, por Maudie
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Paradoxo, por Nick Cheuk, Lai-yin Leung
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: O leão no inverno, por John Goldman
MELHOR TRILHA SONORA: Jonny Greenwood, por Trama fantasma
MELHOR FOTOGRAFIA: Guy Godfree, por Maudie
MELHOR CENA: A perseguição coreografada em Paradoxo
MELHOR FINAL: Em pedaços

Comentários

Postagens mais visitadas