BALANÇO MENSAL - NOVEMBRO

Lá se foi o mês do meu aniversário... Quando ele começou, prometi ser ainda mais criterioso com minhas escolhas para fazer desse o melhor mês cinematográfico do ano. Mas... às vezes caímos em certas armadilhas ou abrimos mais a guarda para títulos meramente distratores, e o resultado dessas concessões e acidentes pode ser conferido nas linhas abaixo. Sobre o pódio, apenas uma observação: como de hábito, figura uma produção oriental nele, o que só atesta como do outro lado do mundo existem realizadores que merecem tanta atenção quanto os do lado de cá. Segue o balanço!

PÓDIO

MEDALHA DE OURO

O que terá acontecido a Baby Jane? (Robert Aldrich, 1962)


Duas atrizes em estado de graça na pele de personagens ricas em possibilidades e camadas. Assim é O que terá acontecido a Baby Jane?, que reúne Bette Davis e Joan Crawford, desafetos nos bastidores, que levam o clima de desavença para a frente da tela. Na idade adulta, as duas vivem irmãs com a relação deteriorada, mas que ainda coabitam. Enquanto Jane vive inconformada com o fim do estrelato a que fora alçada na infância, Blanche está presa a uma cadeira de rodas, consequência de um acidente de anos atrás que as duas rememoram com enorme pesar. Estamos diante de um drama assustador encenado a fórceps, por assim dizer, entre cujas passagens mais marcantes está a que traz Jane tentando voltar aos holofotes cantando a música que encantava seus fãs quando era criança. Um misto de horror e tristeza se formam diante da cena.


MEDALHA DE PRATA  

A tortura do medo (Michael Powell, 1960)


As cores embevecem as retinas expostas a esse drama com generosas doses de suspense que centra sua narrativa na figura de um homem atormentado. Incapaz de estabelecer vínculos duradouros com quem quer que seja, ele reprisa na idade adulta a crueldade a que foi submetido na infância. Fascinado pelo poder da imagem, capta os últimos olhares de mulheres de quem tira a vida, e esse horror é visualizado pelo público, feito de comparsa (in)voluntário. O convite de Michael Powell é para adentrar um túnel de medo e compulsão onde o pior lado de um ser humano vem à tona, mas o roteiro de Leo Marks não incorre no diagnóstico simplista e ainda apresenta uma fresta de redenção na figura de uma jovem. Mas ainda haverá tempo de uma reversão? A pergunta agita a cabeça e mantém o solavanco na plateia atônita.

MEDALHA DE BRONZE 

O intendente Sansho (Kenji Mizoguchi, 1954)


Nos dias de hoje, muitos se perguntam: onde está a nossa humanidade? Essa pergunta não tem nada de nova, porque a discussão sobre o endurecimento do coração humano já havia sido proposta em um tradicional conto japonês de muitos séculos. Uma das versões desse conto chegou às telas por meio de Kenji Mizoguchi, laureado pelo terceiro ano consecutivo no Festival de Veneza. Dois irmãos são privados do convívio com a mãe por anos - isso depois de já terem sido obrigados a viver longe do pai -, e essa distância altera o modo de ser do rapaz, a quem a moça já não reconhece mais: a doçura de antes se converteu em revolta e inclemência. O decorrer da trama apresenta uma mensagem em que as circunstâncias adversas e a esperança, dois polos opostos, se avizinham, e ressoam no peito como uma doce melodia de recomeço. A vida é cheia de refeituras, afinal.


INÉDITOS

348. A inglesa e o duque (Eric Rohmer, 2001) -> 8.0
349. Louca obsessão (Rob Reiner, 1990) -> 8.0
350. Anatomia de um crime (Otto Preminger, 1959) -> 8.0
351. Batguano (Tavinho Teixeira, 2014) -> 3.0
352. A luz entre oceanos (Derek Cianfrance, 2016) -> 6.0
353. Festa da salsicha (Greg Tiernan e Conrad Vernon, 2016) -> 5.0


354. A tortura do medo (Michael Powell, 1960) -> 8.5
355. Heróis de ressaca (Edgar Wright, 2010) -> 6.0
356. 007 - Marcado para a morte (John Glen, 1987) -> 6.5
357. Dope - Um deslize perigoso (Rick Famuyiwa, 2015) -> 7.5
358. O que terá acontecido a Baby Jane? (Robert Aldrich, 1962) -> 9.0
359. Lady Vingança (Chan Wook-Park, 2007) -> 7.0


360. Amores inversos (Liza Johnson, 2013) -> 6.0
361. A festa de Babette (Gabriel Axel, 1987) -> 8.0
362. Penetras bons de bico (David Dobkin, 2005) -> 3.0
363. Doutor Estranho (Scott Derrickson, 2016) -> 7.5
364. 007 - Permissão para matar (John Glen, 1989) -> 7.0
365. Violência gratuita (Michael Haneke, 2007) -> 6.0
366. Mergulho profundo (Erik Skjoldbjærg, 2013) -> 7.0


367. Amor e dor (Lou Ye, 2011) -> 6.0
368. Amor, plástico e barulho (Renata Pinheiro, 2013) -> 6.0
369. Cavalgada no vento (Monte Hellman, 1965) -> 7.5
370. O casamento do meu melhor amigo (P. J. Hogan, 1997) -> 7.0
371. O processo (Orson Welles, 1962) -> 8.0
372. High-rise (Ben Wheatley, 2015) -> 5.0


373. Ligado em você (Bobby e Peter Farrelly, 2003) -> 6.0
374. Cães de guerra (Todd Phillips, 2016) -> 7.0
375. 007 contra GoldenEye (Martin Campbell, 1995) -> 7.0
376. Destino especial (Jeff Nichols, 2016) -> 7.0
377. A chegada (Denis Villeneuve, 2016) -> 8.0
378. O sinal (Martin Hodara e Ricardo Darín, 2007) -> 7.0
379. O intendente Sansho (Kenji Mizoguchi, 1954) -> 8.5

REVISTOS

Magnólia (Paul Thomas Anderson, 1999) -> 9.0
As horas (Stephen Daldry, 2002) -> 9.0
Amantes constantes (Philippe Garrel, 2005) -> 9.0
Fale com ela (Pedro Almodóvar, 2002) -> 9.0

MELHOR FILME: O que terá acontecido a Baby Jane? 
PIOR FILME: Batguano
MELHOR DIRETOR: Michael Powell, por A tortura do medo
MELHOR ATRIZ: Bette Davis, por O que terá acontecido a Baby Jane?
MELHOR ATOR:  Karlheinz Böhm, por A tortura do medo
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Joan Crawford, por O que terá acontecido a Baby Jane?
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Mads Mikkelsen, por Doutor Estranho
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Leo Marks, por A tortura do medo
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Lukas Heller, por O que terá acontecido a Baby Jane?
MELHOR FOTOGRAFIA: Otto Helle, por A tortura do medo
MELHOR TRILHA SONORA: Jóhann Jóhannsson, por A chegada
MELHOR CENA: O ensaio de Jane adulta em O que terá acontecido a Baby Jane?
MELHOR FINAL: O intendente Sansho

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