BALANÇO MENSAL - JULHO

Com o fim do sétimo mês do ano, tem lugar um novo balanço de filmes, que apresento a seguir nos moldes do que venho fazendo desde 2015. O pódio apresenta ouro e prata indiscutíveis, já que foram os únicos títulos com 9 e 8.5, respectivamente, enquanto o bronze foi uma escolha difícil, mas com critério. Assim como Julieta, fui ao cinema conferir Mãe só há uma, e ambos valeram uma nota 8. Mas, como já escrevi um texto para o longa de Anna Muylaert, achei válido tecer alguns comentários sobre o mais recente Pedro Almodóvar. Então, vamos aos filmes!

PÓDIO

MEDALHA DE OURO

Ao mestre com carinho (James Clavell, 1967)



Matriz de numerosos filmes sobre adolescentes desajustados sob o comando de um professor com o desafio de domá-los, Ao mestre com carinho também carrega o mérito de reforçar o talento de Sidney Poitier. No mesmo ano em que sambou como protagonista de No calor da noite (In the heat of the night, 1967), ele deu vida a um engenheiro que vai parar em um colégio interiorano com uma turma de baderneiros. Aos poucos, a perspectiva reducionista sobre os alunos vai se ampliando e o debate sobre preconceito, responsabilidade e o que deve ser ensinado em sala de aula começa a tomar forma. Por vezes, o discurso do professor tem aspectos datados, como quando afirma que mulheres mal comportadas não atraem homens interessados em compromisso sério. Mas não se pode condenar o todo por algumas partes, e quem acredita no poder transformador da educação vai se reconhecer ou entender muito bem várias passagens.

MEDALHA DE PRATA

O mundo dos pequeninos (Hiromasa Yonebayashi, 2010)



Carinho e proteção transbordam no decorrer da narrativa dessa animação japonesa com o selo Ghibli de qualidade. Em meio aos medalhões Miyazaki e Takahata, está Yonebayashi, que exibe ternura no traço por meio do qual mostra a história de um garoto e uma garota que fazem amizade. Até então, nada inovador, mas o detalhe extraordinário são as dimensões diminutas da garota, criada sob a visão medrosa de que os humanos lhe podem fazer muito mal. Porém, a exemplo de outras figuras femininas transgressoras de produções do estúdio, Arrietty explora novas possibilidades, deixando a mãe conservadora em choque. No universo imaginado aqui, as imagens falam tanto quanto encantam, e fazem repensar o lugar de cada um no mundo. Afinal, não é saudável e necessário ir além de certas fronteiras previamente estipuladas?

MEDALHA DE BRONZE

Julieta (Pedro Almodóvar, 2016) 




De volta ao melodrama após um flerte com suas origens cômicas e escrachadas, Almodóvar mostra que continua entendendo do riscado. Alternando presente e passado - recurso nem um pouco novo, mas que ainda pode dar caldo - , ele discorre sobre o perdão: a si mesmo e ao outro. Os anos passam na vida da protagonista e ela não consegue se esquecer de uma importante figura familiar com quem não tem tido contato, e suas lembranças são compartilhadas com a plateia, novamente brindada com um festival de tons fortes e quentes. Da pegada hitchcockiana em uma sequência no trem logo no primeiro quarto da narrativa, ele vai ao terreno em que vem se especializando, pelo menos, desde A flor do meu segredo (La flor de mi secreto, 1995), mas deixa de lado suas atrizes fetiche (à exceção de Rossy de Palma, em participação especialíssima) para recrutar Emma Suárez e Adriana Ugarte, em revezamento no papel título, escolhido em um segundo momento para evitar homonímia com um longa de Martin Scorsese.

INÉDITOS

LONGAS

228. Aura (Fabián Bielinsky, 2005) -> 8.0
229. Demolição (Jean-Marc Valée, 2016) -> 7.0
230. O pai da noiva - Parte II (Charles Shyer, 1995) -> 7.0
231. O quarteto (Dustin Hoffman, 2012) -> 6.0
232. Um caminho para dois (Stanley Donen, 1967) -> 7.5
233. Donnie Brasco (Mike Newell, 1997) -> 7.0
234. Paraísos artificiais (Marcos Prado, 2012) -> 7.0



235. A cabeça contra a parede (Georges Franju, 1958) -> 7.5
236. Julieta (Pedro Almodóvar, 2016) -> 8.0
237. Mens@agem para você (Nora Ephron, 1998) -> 7.0
238. Ao mestre com carinho (James Clavell, 1967) -> 9.0
239. Hanami - Cerejeiras em flor (Doris Dörrie, 2008) -> 7.5
240. Cupido é moleque teimoso (Leo McCarey, 1937) -> 8.0



241. O gato de nove caudas (Dario Argento, 1971) -> 7.5
242. 007 contra o homem com a pistola de ouro (Guy Hamilton, 1974) -> 5.0
243. Demon (Marcin Wrona, 2015) -> 7.0
244. Praça Saens Peña (Vinicius Reis, 2008) -> 7.0
245. De punhos cerrados (Marco Bellocchio, 1965) -> 7.5
246. Uma garrafa no mar de Gaza (Thierry Binisti, 2011) -> 7.0
247. O que os homens falam (Cesc Gay, 2012) -> 6.0
248. Contato (Robert Zemeckis, 1997) -> 7.0



249. O mundo dos pequeninos (Hiromasa Yonebayashi, 2010) -> 8.5
250. Desconhecido (Jaume Collet-Serra, 2011) -> 6.0
251. Miles ahead (Don Cheadle, 2015) -> 7.5
252. Sapatinhos vermelhos (Michael Powell e Emeric Pressburger, 1948) -> 8.0
253. Bem-vindo à vida (Alex Kurtzman, 2012) -> 6.5
254. Gatinhas & gatões (John Hughes, 1984) -> 7.5
255. Caça-fantasmas (Paul Feig, 2016) -> 7.0


256. Mãe só há uma (Anna Muylaert, 2016) -> 8.0
257. O pecado mora ao lado (Billy Wilder, 1955) -> 7.0
258. Agnus Dei (Anne Fontaine, 2015) -> 8.0
259. Cinzas que queimam (Nicholas Ray, 1955) -> 8.0
260. Histórias que contamos (Sarah Polley, 2012) -> 7.5

CURTAS

Casa de luxo (Kevin Herron, 2013) -> 7.0
Stutterer (Benjamin Cleary, 2015) -> 8.0
The ride (Drew Linne, 2015) -> 7.0
Take the plunge (Elizabeth Ku-Herrero e Nicholas Manfredi, 2015) -> 7.0

REVISTOS

O declínio do império americano (Denys Arcand, 1987) -> 7.5
As invasões bárbaras (Denys Arcand, 2003) -> 9.0
A noite (Michelangelo Antonioni, 1961) -> 8.5
Meia-noite em Paris (Woody Allen, 2011) -> 10.0


MELHOR FILME: Ao mestre com carinho
PIOR FILME: 007 contra o homem com a pistola de ouro
MELHOR DIRETOR: Pedro Almodóvar, por Julieta
MELHOR ATRIZ: Moira Shearer, por Sapatinhos vermelhos
MELHOR ATOR: Sidney Poitier, por Ao mestre com carinho
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Daniela Nefussi, por Mãe só há uma
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Mateus Nachtergaele, por Mãe só há uma
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Anna Muylaert, por Mãe só há uma
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Hayao Miyazaki e Keiko Niwa, por O mundo dos pequeninos
MELHOR FOTOGRAFIA: Atsushi Okui, por O mundo dos pequeninos
MELHOR TRILHA SONORA: Cécile Corbel, por O mundo dos pequeninos
MELHOR CENA: A conversa mais longa entre Spiller e Arriety em O mundo dos pequeninos
MELHOR FINAL: Hanami - Cerejeiras em flor

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