BALANÇO MENSAL - MAIO

Apesar de certo atraso, chegou a dia de tornar público mais um balanço mensal. Todos os filmes vistos por mim em maio, acompanhados de suas respectivas novas e breves comentários, estão listados abaixo, formando um painel que abrange diretores, nacionalidades e décadas variadas, numa tentativa de cobrir o maior número possível de lacunas.
 
Os melhores filmes do apareceram bem no início e bem no finalzinho do mês. Depois de um tempo de jejum, aconteceu o terceiro dez de 2013, e o responsável pela nota máxima foi Mutum, exemplar de rara sensibilidade dirigido por Sandra Kogut baseado na obra de Guimarães Rosa. O nó na garganta nos últimos minutos do singelo filme é quase inevitável. Outro grande filme do mês, também brasileiro, foi Noite vazia, magistral exemplar da filmografia de Walter Hugo Khouri que dialoga diretamente com a Trilogia da Incomunicabilidade de Michelangelo Antonioni. Durante pouco menos de uma hora meia, o realizador espia o imenso desconforto de quatro pessoas em busca de preencher suas lacunas interiores. Fechando a trinca de melhores de maio, A mulher do aviador reafirma Eric Rohmer como um dos meus cineastas franceses prediletos. Seu forte, os diálogos deliciosos, marcam presença na história de um jovem que segue os passos de um homem que parece estar envolvido com a garota que lhe interessa.
 
Entre os piores filmes vistos, está Os dias do eclipse, minha primeira frustração com Aleksandr Sokurov. Em mais de duas horas enfadonhas, o longa não diz a que veio e seu fim chega como alívio a tanto marasmo. Romance e cigarros foi o segundo filme verdadeiramente ruim de maio. O musical de John Turturro simplesmente não funciona e apenas Kate Winslet invade a tela com aparições sexies corroboradas por seus cabelos tingidos de vermelho. Outro longa de baixa qualidade foi Um dia, cuja montagem é seu principal defeito e que, apesar de uma grande premissa, é mal desenvolvido e reduzido a uma sequência de episódios sem graça.
 
A seguir, a relação completa dos filmes de maio:

LONGAS:
 
1. 2 dias em Nova York (2012) - O humor verborrágico e com algumas referências funciona muito bem e, a exemplo de seu filme anterior, Delpy volta a investir nos pequenos desastres causados pela barreira linguística. Nota: 8.0
 
2. O poderoso chefão (1972) - Um monumento cinematográfico: grandioso, notável, belas atuações e cenas intensas. No entanto, incomodam os longos diálogos expositivos, a falta de emoção e o sotaque arrastado de Brando. Nota: 7.5
 
3. Corações loucos (1974) - Apenas deixar fluir o desejo e viver no improviso. A anarquia nunca foi levada tão ao pé da letra. Nota: 8.0  
Corações loucos (1974)
 
 
4. Paprika (2006) - Uma alegoria enigmática plena de possibilidades e arapucas que seduz e intriga com seu caleidoscópio. Grande acerto da animação japonesa. Nota: 8.5

5. Noite vazia (1964) - Traduz, em planos íntimos e silêncios, a angústia dos sem-lugar. Nota: 9.0

6. Cores (2012) - "Uma geração sem respostas, com seus vinte e poucos anos e "nenhum problema resolvido / sequer colocado". Nota: 6.5

7. Somos tão jovens (2013) - Um recorte bem encenado dos primeiros erros e acertos de uma figura emblemática e com os mesmos dilemas de qualquer um. O trabalho de Mendonça com a voz é o mais interessante em toda a sua composição dramática. Nota: 7.0

8. O homem que ri (2012) - Exagera no tom folhetinesco desde os primeiros minutos, e a consequência é um filme que não se comunica plenamente com o espectador. A última cena, que poderia ser o auge de uma catarse, sequer chega a comover. Nota: 6.0

9. Amor profundo (2011) - Um clássico filme de amantes com imagens esplendorosas, uma Rachel Weisz arrebatadora que demonstra o quanto a paixão pode desnortear quem a vive, e frases duras sobre o amor ("Amar é limpar a bunda de alguém, é trocar os lençóis sujos de xixi"). Nota: 7.5

Amor profundo (2011)
10. Psicopata americano (2000) - Sob a mais fina estampa, um tenebroso instinto pode estar oculto e emergir com toda a força, sem qualquer freio moral que o aplaque. Bale em início de carreira mostrando vigor e competência em um papel asqueroso. Nota: 7.0

11. A banda (2007) - De uma singeleza adorável, incentiva o carinho e o respeito entre os diferentes na aparência e nos hábitos, mas muito semelhantes na essência e iguais na condição de seres humanos. Nota: 8.0

12. Se beber, não case! - Parte II (2011) - Arranca boas risadas com sua miscelânea de situações inacreditáveis e detalhes loucos. O macaco fumante e Mike Tyson cantor são apenas duas amostras do roteiro inventivo que joga a correção política para escanteio nessa continuação válida. Nota: 7.0

13. Depois de maio (2012) - Ideologias e engajamento perdendo o sentido. Enquanto se dilui a revolução, jovens sonhadores e amantes inconstantes se perdem no emaranhado de escolhas. Nota: 9.0

14. Butch Cassidy (1969) - A vida é cheia de nocautes e, mesmo procurando nos proteger, golpes certeiros podem surpreender e nos fazer beijar a lona. É o que nos mostra essa história emocionante e intensa sobre persistir e buscar o que se deseja com o máximo afinco. Nota: 7.0

15. Menina de ouro (2004) - A vida é cheia de nocautes e, mesmo procurando nos proteger, golpes certeiros podem surpreender e nos fazer beijar a lona. É o que nos mostra essa história emocionante e intensa sobre persistir e buscar o que se deseja com o máximo afinco. Nota: 8.0  
Menina de ouro (2004)

16. Projeto X - Uma festa fora de controle (2012) - Um bando de jovens dementes interpretando a si mesmos e resumindo os interesses babacas de uma geração em mil bizarrices. Está mais para vídeo caseiro de péssimo gosto que para Cinema. Nota: 4.0

17. Os infratores (2012) - Competente produção sobre um mundo cheio de negociatas e ímpetos violentos que segura bem o espectador. Pearce está odiável e Chastain se reveza com Wasikowska na doce tarefa de injetar beleza feminina à história. Nota: 7.0

18. Cantando na chuva (1952) - Simplesmente delicioso em todos os aspectos, renova a certeza de que o Cinema também é pura magia com suas cantorias bem orquestradas. Preciosidade dos áureos tempos dos musicais. Nota: 9.5

19. Interlúdio (1946) - Um suspense eficaz - nenhuma novidade em se tratando de Hitchcock - e cheio de belas imagens de um Rio que já se foi. É praticamente irresistível não se tornar cúmplice dos planos do casal e passar boa parte da sessão apreensivo. Nota: 8.5

20. O céu de Lisboa (1994) - Espia o início da perda de fronteiras em solo europeu baseado nos sons que caracterizam uma cidade. Além disso, é mais uma bela amostra do quanto Wenders é experimentado na construção de tramas em que o Cinema reina absoluto. Nota: 8.0

21. Faroeste caboclo (2013) -  Sampaio alude a Leone em uma bem construída saga particular marcada por reveses, como tantas outras que povoam o árido sertão nordestino. Em explosões violentas, o elenco principal diz a que veio e o maior porém são as sequências com pegada de videoclipe. Nota: 7.0

22. Sombras (1959) - A tensão étnica e social demora a se instaurar e logo se esvai, tornando a narrativa dispersa e aborrecida. Tivesse mantido o foco em sua premissa, Cassavetes poderia ter alcançado melhor resultado. Nota: 6.0 
Sombras (1959)

23. Fome de viver (1983) - Intrepidez e sangue marcam a estreia de Tony Scott na direção, além do visual arrojado. Deneuve está hipnótica na pele de uma colecionadora de amantes e cultivadora de ilusões. Nota: 7.5

24. A datilógrafa (2012) - Já vimos algo similar antes, mas... o que importa? Dois ou três momentos previsíveis não tiram o charme desta simpática e adorável comédia, feita sob medida para os adeptos do amor em um viés mais classicista. Nota: 8.0

25. Terapia de risco (2013) - As reviravoltas bem articuladas trazem à tona o lado sórdido da indústria farmacêutica, surpreendendo conforme o nível de malícia do espectador. Um Soderbergh mais maduro e outra vez competente. Nota: 8.0

26. Rocky horror picture show (1975) - Totalmente insano e, por esse motivo, de apreciação restrita. Alguns números musicais são contagiantes e divertem, valendo a sessão e mantendo certo interesse pelo pretexto disfarçado de enredo. Nota: 7.0

27. A escolha de Sofia (1982) - Muitas escolhas, uma única mulher. Encarnada à perfeição por Streep, a polonesa Sofia é o retrato de qualquer ser humano: tem que se decidir o tempo todo e nem sempre toma a atitude certa. Belo e comovente. Nota: 8.0

28. A noiva estava de preto (1968) - A vingança personificada em olhos impassíveis e em um belo suspense amplificado pela trilha de Bernard Herrmann. Por uma via incomum em seus filmes, Truffaut novamente faz girar a roda da paixão. Nota: 7.0

29. Romance e cigarros (2005) - Apesar do elenco ótimo, não decola, basicamente por causa do seu senso de humor excêntrico e pouco convincente. Por outro lado, Winslet nunca tinha estado tão ruiva e sexy. Nota: 5.0

30. Mutum (2007) - Uma lufada de sensibilidade poética que afaga o peito, devasta o olhar e impregna a mente. Nota: 10.0
Mutum (2007)

31. Moscou (2008) - Para Coutinho, o processo importa mais que o produto, assim como, para Machadão, importa mais a viagem que a chegada. O único porém são algumas perdas de rumo no caminho proposto pelo cineasta. Nota: 7.5

32. A prova (2005) - Entre teoremas e divagações, quer confundir para, em seguida, explicar com uma passagem excessivamente didática. Ainda assim, tem força e peso e seus protagonistas, boa química. Nota: 7.0

33. A tentação (2011) - Abre um debate oportuno sobre fé em dias tão céticos, mas recai nos estereótipos mais deletérios que o tópico reserva. Em termos de Cinema, o suspense funciona e o elenco defende seus papéis com certa diligência, embora Hunnam esteja um tanto canastrão. Nota: 6.5

34. Cabaret (1972) - Números musicais primorosos, roteiro afiado, sutilezas, nuances, contradições e uma Liza Minelli em ponto de bala tornam o filme uma experiência altamente compensadora. Nota: 8.5

CURTAS:

A morning stroll (2011) - A proposta é um tanto confusa, mas o olhar para alguns sintomas do nosso tempo e, talvez do nosso futuro, tornam a animação válida. Nota: 6.0

There's only one sun (2007) - Kar-Wai e a paixão pelo diáfano. Nota: 8.5

Eletrodoméstica (2005) - Seminal para 'O som ao redor', acaba funcionando muito mais como exercício voyeurístico do que como reflexão socioeconômica, terreno sobre o qual Mendonça preferiu pisar com mais desenvoltura em seu primeiro longa. Nota: 7.0

MELHOR FILME: Mutum
PIOR FILME: Projeto X - Uma festa fora de controle
MELHOR DIRETOR: Clint Eastwood, por Menina de ouro
MELHOR ATRIZ: Liza Minelli, por Cabaret
MELHOR ATOR: Christian Bale, por Psicopata americano
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Kate Winslet, por Romance e cigarros
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Morgan Freeman, por Menina de ouro
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Eran Kolirin, por A banda
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Ana Luiza Martins Costa e Sandra Kogut, por Mutum
MELHOR FOTOGRAFIA: Florian Hoffmeister, por Amor profundo
MELHOR TRILHA SONORA: Jürgen Knieper e Madredeus, por O céu de Lisboa
MELHOR CENA: O plano de abertura de Amor profundo
MELHOR FINAL: Cabaret
MENÇÃO HONROSA: Cantando na chuva
MENÇÃO DESONROSA: Os dias do eclipse

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