BALANÇO MENSAL - JUNHO

Vou direto ao ponto dessa vez: como já faço esse balanço de filmes há mais de 2 anos, os leitores já conhecem a estrutura que adoto. Então, seguem abaixo os 41 filmes que compuseram minha dieta cinematográfica de junho. Até a próxima edição!

MEDALHA DE OURO

Cabra marcado para morrer (Eduardo Coutinho, 1984)



Em uma das vezes nas quais foi entrevistado, Coutinho afirmou que não acreditava no cinema como instrumento de transformação política - talvez fosse pretensão demais para um filme. Melhor seria potencializar a reflexão através de muitas perguntas, nem todas respondidas, nem todas com respostas únicas, nem todas completamente respondidas. Não é de se estranhar, portanto, os questionamentos reverberando a todo volume na cabeça do espectador de Cabra marcado para morrer. Exemplar na aproximação com seu objeto de análise - os efeitos do regime ditatorial brasileiro sobre a vida de gente comum e trabalhadora -, e impregnado de uma metalinguagem angustiante, o longa cobre um arco de tempo real de quase duas décadas. E o senso de liberdade que aquele povo humilde carregava no peito sobrevive há gerações.

MEDALHA DE PRATA

O esporte favorito dos homens (Howard Hawks, 1964)




Deliciosamente espirituoso, o roteiro do longa de Hawks aborda a secular premissa de homem e mulher em batalha que, lá no fundo, estão caindo de amores um pelo outro. Ao escalar Rock Hudson e Paula Prentiss na defesa dos respectivos papéis, ele acertou em cheio, sobretudo por conta de Hudson, que pôde reforçar o quanto se prestava a encarnar personagens dramáticos (como nos melodramas de Douglas Sirk) como os engraçados (vide as três ocasiões em que contracenou com Doris Day). Mesmo incorporando alguns clichês ao longo da narrativa, O esporte favorito dos homens não deixa a peteca cair e reserva muitas estripulias que lhe garantem o selo de comédia genuína. O tal esporte do título, aliás, é a pescaria, pelo qual o personagem de Hudson não tem a menor afeição, mesmo sendo considerado uma referência para quem deseja fisgar um grande peixe.

MEDALHA DE BRONZE

O valor de um homem (Stéphane Brizé, 2015)



Já vem sendo dito há algum tempo (e parece que muita gente não está dando ouvidos) que estamos dando mais valor às coisas do que às pessoas. Stéphane Brizé deve se sentir incomodado com essa miopia coletiva, e essa suposição explica em boa parte a existência de O valor de um homem. Em sua terceira parceria consecutiva com Vincent Lindon (premiado em Cannes pelo trabalho), ele reflete não apenas sobre tal confusão em seu sentido mais amplo, mas também afunila o olhar para as relações entre patrão e empregado, cujos limites de sensatez e humanidade, por vezes, se mostram difusos demais. As questões se levantam: vale a pena defender um emprego com unhas e dentes apesar da intransigência das ordens superiores? As pessoas não devem ser consideradas por sua trajetória e não apenas por um passo em falso? O sopro de lucidez está reservado para o epílogo, profundo em sua simplicidade.

INÉDITOS

LONGAS


194. Trocando as bolas (John Landis, 1983) -> 7.0

195. A toda prova (Steven Soderbergh, 2011) -> 6.0
196. Ataque ao prédio (Joe Cornish, 2011) -> 7.0
197. A concepção (José Eduardo Belmonte, 2005) -> 5.0
198. Mais forte que bombas (Joachim Trier, 2015) -> 7.0
199. O valor de um homem (Stéphane Brizé, 2015) -> 8.0
200. Carrossel da esperança (Jacques Tati, 1949) -> 8.0
201. Cabra marcado para morrer (Eduardo Coutinho, 1985) -> 9.0
202. Zootopia (Byron Howard, Rich Moore e Jared Bush, 2015) -> 8.0



203. Monstros (Gareth Edwards, 2010) -> 6.0
204. 007 - Os diamantes são eternos (Guy Hamilton, 1971) -> 7.0
205. Rastros de justiça (Oliver Hirschbiegel, 2009) -> 4.0
206. Carol (Todd Haynes, 2015) -> 7.5
207. Castelo no céu (Hayao Miyazaki, 1986) -> 8.0
208. Carícias de luxo (Delbert Mann, 1962) -> 6.0
209. Camelos também choram (Byambasurem Davaa e Luigi Falorni, 2003) -> 8.5




210. Get a job (Dylan Kidd, 2015) -> 5.0
211. Certo agora, errado antes (Hong Sang-Soo, 2015) -> 8.0
212. Ondas do destino (Lars Von Trier, 1996) -> 8.0
213. O fugitivo (Andrew Davis, 1993) -> 7.5
214. Decisão de risco (Gavin Hood, 2015) -> 8.0
215. Dois é bom, três é demais (Anthony e Joe Russo, 2006) -> 6.0
216. A tênue linha da morte (Errol Morris, 1988) -> 7.0



217. Viúvas sempre às quintas (Marcelo Piñeyro, 2010) -> 5.0
218. O esporte favorito dos homens (Howard Hawks, 1964) -> 8.0
219. A história da eternidade (Camilo Cavalcante, 2014) -> 7.5
220. A espera (Piero Messina, 2015) -> 6.5
221. Dodeskaden - O caminho da vida (Akira Kurosawa, 1970) -> 5.0
222. Três enterros (Tommy Lee Jones, 2005) -> 8.0



223. Fique comigo (Samuel Benchetrit, 2015) -> 8.0
224. Com 007 viva e deixe morrer (Guy Hamilton, 1973) -> 6.0
225. Abaixo o amor (Peyton Reed, 2003) - > 7.5
226. As vinhas da ira (John Ford, 1940) -> 8.0
227. Um homem um tanto gentil (Hans Peter Moland, 2010) -> 7.5

CURTAS

Game over (PES, 2006) -> 7.0
The present (Jacob Frey, 2015) -> 8.5
Laranjas (Kristian Pithie, 2004) -> 6.0

REVISTOS

Pequena Miss Sunshine (Jonathan Dayton e Valerie Falls, 2006) -> 10.0
Dirigindo no escuro (Woody Allen, 2002) -> 8.0
A aventura (Michelangelo Antonioni, 1960) -> 10.0
Sobre meninos e lobos (Clint Eastwood, 2003) -> 8.5

MELHOR FILME: Cabra marcado para morrer
PIOR FILME: Rastros de justiça
MELHOR DIRETOR: Howard Hawks, por O esporte favorito dos homens
MELHOR ATRIZ: Cate Blanchett, por Carol e Emily Watson, por Ondas do destino
MELHOR ATOR: Vincent Lindon, por O valor de um homem e Ewan McGregor por Abaixo o amor
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Sarah Paulson, por Abaixo o amor
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Barry Pepper, por Três enterros
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Byambasuren Davaa, Batbayar Davgadorj, Luigi Falorni, por Camelos também choram
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: John Fenton Murray e Steve McNeil, por O esporte favorito dos homens
MELHOR FOTOGRAFIA: Carter Burwell, por Carol
MELHOR TRILHA SONORA: Edward Lachman, por Carol
MELHOR CENA: A música para a mãe camelo deixar de rejeitar o filhote em Camelos também choram
MELHOR FINAL: Cabra marcado para morrer

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